Brasil: Cenário político cada vez mais incerto

Durante o final de semana, o destaque ficou para a notícia de que o MP estaria investigando Lula por suas atividades após deixar a presidência do país. Além disso, o marqueteiro oficial do PT nas últimas campanhas está sendo investigado pela PF, suspeito de operações financeiras ilegais. Ambos negam a ilegalidade de suas atividades e/ou pagamentos recebidos por serviços prestados. Este tipo de notícia não deveria afetar os mercados no curto-prazo, até porque existe uma distancia grande entre uma investigação e uma condenação. De qualquer maneira, as notícias geram um ruído no campo político, em um ambiente já fragilizado. Este tipo de matéria tende a enfraquecer um governo já desgastado e um partido, o PT, já sobre forte pressão. No longo-prazo, do ponto de vista dos mercados financeiros, tende a reduzir as chances de uma nova vitória do PT em qualquer eleição, o que acaba sendo visto como positivo pelos investidores. Todavia, ainda estamos longe de um processo eleitoral relevante para o país e, no curto-prazo, deverá imperar um governo fragilizado e uma incerteza política que parece aumentar a cada dia. Em suma, por hora, enquanto a força para um impeachment não crescer de maneira consistente e legitima, este tipo de notícia deve ser visto como ruído pontual, sem que tenha efeito nos mercados financeiros locais. Em artigo no Estado de domingo, FHC defende investigações sérias sobre TODOS aqueles envolvidos nos supostos escândalos da Petrobras, mesmo que a presidente da república tenha seu nome envolvido. Vejo esta postura de FHC como uma leve elevada de tom em torno das pressões para um potencial afastamento de Dilma.

Nesta sexta-feira, nos EUA, o ISM Manufacturing ficou praticamente estável em abril, mas com as importantes aberturas de New Orders e Production apresentando recuperação, a despeito de uma queda em Employment, para abaixo do patamar de 50 pontos. Além disso, o Michigan Confidence se manteve próximo aos níveis mais elevados deste pós crise, dando força as expectativas de recuperação do consumo nos próximos meses.

Com um pano de fundo em que as expectativas de recuperação da economia norte americana ganham força, o dia foi marcado por mais uma rodada de sell-off dos bonds do país, o que deu novo ímpeto a a alta do USD, e acabou dando suporte às bolsas do país.

Como comentei ao longo de toda a semana, o rompimento do patamar de 2% na Treasury de 10 anos nos EUA foi um evento técnico relevante para os mercados. Com os fundamentos agora seguindo na mesma direção, podemos estar diante do começo do retorno das tendências que predominaram no começo do ano (alta do USD, pressão nas commodities, um ambiente mais desafiador para renda fixa e câmbio dos países emergentes, abertura de taxas de juros nos EUA e range trade nas bolsas).

No Brasil, em um dia de feriado, o mercado offshore de BRL, com baixíssima liquidez, mostrou uma depreciação adicional da moeda em cerca de 2%. O EWZ ficou práticamente estável, com a Vale subindo cerca de 4% adicionais. Acredito que o BRL deva seguir a tendência global de apreciação do USD, com o 2,90 tendo se mostrado um forte suporte. A despeito de ver valor na parte intermediária da curva local de juros, entendo que o cenário externo pode vir a prejudicar sua performace, pelo menos até que a Ata do Copom traga um visão mais clara das intenções do BCB de agora em diante.

Vale a pena destacar aqui que o Congresso parece ter adotado uma postura mais combativa nos últimos dias, com fortes declarações de Renan e Cunha, contrárias ao governo. O dia 1 de maio foi um dia de demonstrações contrárias ao governo e as políticas que vem sendo adotadas após as eleições. Em suma, os ventos políticos continuam desafiadores. A nomeação de Temer para a articulação política foi bem vista quando anunciada, mas seus efeitos positivos parecem estar se esgotando rapidamente.

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