Brasil: Vitória e derrotas na MP 664

A noite foi de agenda e news flow esvaziadados na Ásia e na Europa. Os ativos de risco operam com o mesmo viés de acomodação verificado nos últimos dias, ou seja, com uma volatilidade elevada, porém sem grandes tendências definidas. Na agenda do dia, destaque para o PPI e para o Jobless Claims nos EUA.

O mercado tem se mostrado extremamente técnico e descorrelacionado nos últimos dias. A despeito de movimentos de curto-prazo que podem vir a se descolar dos fundamentos, apenas a ratificação do cenário macro será capaz de, no longo-prazo, dar ímpeto aos movimentos de curto-prazo. Um fortalecimento mais consistente do USD parece demandar dados concretos de recuperação da economia dos EUA. Na ausência destes sinais, o mercado deve ganhar volatilidade e apresentar períodos de enfraquecimento do dólar, acentuados por uma posição técnica ruim (ainda comprada em USD). O movimento dos juros na Europa e nos EUA parece seguir questões mais específicas desta classe de ativos (posição técnica, calendário de ofertas e etc) o que pode exacerbar os movimentos recentes, independente do cenário macro mostrar recuperação da economia global neste segundo trimestre do ano. As commodities me parecem ter feito um pico de curto-prazo, mas não vem apresentando tendência clara, exceto pelo Petróleo. Ainda vejo o cenário de menor crescimento estrutural da China, e sobre oferta em vários setores, como vetores de pressão baixista nesta classe de ativos. Contudo, os movimentos de curto-prazo tem sido marcados pelo ajuste de posições que eram na direção citada anteriormente. As bolsas globais, por sua vez, seguem nos picos recentes, mas ainda sem mostrar grandes rompimentos para cima ou realizações de lucros mais acentuadas para baixo. Em suma, seguimos em um ambiente de acomodação dos ativos de risco, com o cenário macro e micro sendo interconectados pela posição técnica e ajuste de curto-prazo.

Brasil – De acordo com a Folha, Depois de aprovar com folga o texto principal da segunda medida do pacote fiscal, o governo Dilma Rousseff foi derrotado duas vezes na Câmara, resultado de traições em partidos da base aliada, entre eles o PMDB e o próprio PT, os dois maiores aliados. As derrotas foram nas votações de emendas à medida provisória 664, que restringe a concessão de benefícios previdenciários como pensão pós-morte e auxílio-doença. Por 232 votos a 210, os deputados impuseram a primeira derrota ao Planalto ao aprovar, na noite desta quarta (13), uma emenda que cria uma alternativa ao fator previdenciário na hora de o trabalhador decidir se aposentar. O PMDB, do novo articulador político do governo, o vice Michel Temer, registrou 20 votos contra. O PT contribuiu com outros nove votos contra. O governo perdeu por uma diferença de 22 votos. A segunda derrota, por 229 a 220, foi na emenda que derruba a proposta do Planalto de elevar de 15 para 30 dias o período que as empresas têm de pagar para seu trabalhador o benefício do auxílio-doença. Depois, as despesas ficam com a Previdência.”

As derrotas do governo podem ser vistas como negativas no curto-prazo, mas acredito que fazem parte do processo político, especialmente em um ambiente em que o governo se mostra fragilizado, e sua base aliada rachada. A votação de ontem mostra que o ajuste fiscal será feito, mas o caminho até a aprovação de todas as medidas demandadas por Levy e sua equipe será longo e tortuoso. Este tipo de caminho ratifica a visão de que não podemos esperar, pelo menos por hora, uma melhora longa e prolongada dos ativos locais. O mercado deve operar com uma volatilidade elevada, dentro de alguns ranges, o que pressupõe uma postura mais tática por parte dos investidores.

China – O país anunciou no começo desta semana novas medidas que visam estimular o programa de swap dos LGFV (dívidas de algumas províncias que são de risco elevado, liquidez baixa e, em alguns casos, detém garantias cujos os valores são suspeitos). O programa visa trazer maior transparência e liquidez para os novos papéis que serão emitidos no lugar dos atuais. Além de determinar o nível de taxas, o governo anunciou que o PBoC irá aceitar as novas emissões como colateral para algumas operações que são feitas pelo BC local. A operação não pode ser classifica como um QE tradicional, mas certamente é uma medida adicional na direção de ampliar a liquidez e reduzir os custos de captação, em mais um esforço na tentativa de desentupir os canais de crédito no país.

A postura mais proativa e agressiva do policy maker na China deve ajudar a evitar riscos de cauda no país, ou seja, uma onda mais acentuada de defaults ou uma desaceleração mais rápida do crescimento econômico. Contudo, sou extremamente cético em relação à capacidade e a disposição do governo local em reverter a tendência de um crescimento estruturalmente mais baixo da economia chinesa de agora em diante. Acredito que o “target” de 7% do PIB hoje tenha virado um teto para o crescimento nos próximos anos. Ainda tenho a visão de que o mercado continuará a se decepcionar com a trajetória e o nível de crescimento que será apresentando nos próximos meses e anos.

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