Brasil: Ruído Político
A mídia local deu
amplo destaque a uma suposta rixa entre Joaquim Levy e Nelson Barbosa, este
último apoiado por Aloísio Mercadante, no tocante ao ajuste fiscal (mais
detalhes abaixo). Com um feriado nesta segunda-feira nos EUA, o noticiário
externo foi esvaziado, exceto pela continuidade dos ruídos em torno das
negociações entre a Grécia e seus credores.
Acho válido fazermos um breve
comentário em torno da posição técnica dos mercados, especialmente no mercado
global de câmbio. De acordo com a CFTC, the risk exposure has been sharply reduced
and is down 40% from earlier this year (as measured by the mean absolute value
of Z-scores). USD
positioning has declined eight consecutive weeks and is the least long it has been
in ten months. Specs are long the three safe-haven currencies (CHF, JPY, USD),
suggesting concerns about the global outlook. The last time such an alignment
occurred was late-2008 into early-2009. Specs have scaled back their EUR
shorts during 6 of the last 7 weeks and, for the first time since 2014, the EUR
is not the shortest currency (From JPM). Em suma,
as evidências apontam para um quadro técnico relativamente “leve”, o que pode
ser um propulsor para o retorno das tendências que prevaleceram no começo deste
ano, em especial o fortalecimento do USD.
Em relação ao Brasil, minha sensação é
que os investidores seguem vendidos em BRL, mas com apenas 20% a 25% da posição
que chegaram a ter no passado recente. Poucos investidores já estão aplicados
no mercado de juros, enquanto a maioria continua cautelosa com a bolsa local.
Neste ambiente, continuo gostando de manter
posições estruturais compradas em USDBRL, em conjunto com posições aplicadas na
parte intermediária da curva local de juros. Contudo, reduziria cerca de 15% a
20% da posição em juros após o rally
recente. Vejo menos prêmio na curva, uma piora do cenário externo para o
mercado de juros emergentes, e uma piora do ambiente político local. No câmbio,
acredito que o BRL possa sair da banda de 2,97 a 3,07 e buscar um novo range de curto-prazo, no patamar de 3,05
a 3,15. Assim, esses níveis devem ser utilizados em uma tentativa de maximizar
o retorno das posições. A vol implícita do BRL já caiu de cerca de 20%-22% para
16%-17% nos últimos dias. Gosto de manter posições estruturais via opções, que
visem se apropriar desses ranges de
curto-prazo e de uma vol implícita ainda elevada.
No que tange as posições externas,
mantenho a visão de fortalecimento do USD, short/underweight
commodities e short/underweight a
parte intermediária da curva de juros (bonds)
norte americana. Entendo que uma potencial reprecificação da curva de juros nos
EUA possa vir a afetar o humor global a risco pontualmente, mas existe um
argumento coerente de que podemos estar diante de uma rotação (rotation) de bonds para equities, o
que pode vir a dar sustentação as bolsas, especialmente nos países
desenvolvidos. De qualquer maneira, com as vols implícitas historicamente
baixas no mercado de renda variável nos EUA (VIX), me parece um bom risco/retorno
comprar seguros relativamente baratos para um horizonte de 2 a 3 meses.
Brasil – De acordo com o Estado, a
decisão de não participar do anúncio do corte nas despesas do governo nesta
sexta-feira (22) despertou em integrantes do governo o receio de que o ministro
Joaquim Levy termine por jogar a toalha e deixe a Fazenda. Na versão oficial,
uma gripe tirou Levy do evento mais importante desde que tomou posse na
Esplanada. Na extra-oficial, ele quis marcar posição sobre suas divergências em
relação ao tom do ajuste e do cenário fiscal, que ele reputa como bem mais "sombrio"
do que aquele que foi apresentado pelo governo Dilma. Sua ausência evidenciou a
insatisfação do ministro e alimentou rumores de uma eventual despedida. Tanto
que, na sexta, ao deixar o ministério, fez questão de dar uma mensagem aos
jornalistas: "volto novo na segunda". Foi um recado desenhado
especialmente para desmobilizar insinuações de demissão. No Planalto, uma
possível saída do chefe da equipe econômica, sobretudo no atual cenário de
dificuldade financeira e política, é vista como desastrosa. Mas ministros de
Dilma reconhecem que as perspectivas não são boas.
Este tipo de notícia parece ruído, até
certo ponto esperado, frente a uma base política rachada. O mercado irá ler
isto como negativo no curto-prazo, já que aumenta a probabilidade de uma
eventual saída de Levy do governo,. Os problemas na economia só estão
começando. A piora do mercado de trabalho ainda é incipiente, e deve apresentar
um processo continuo de deterioração nos próximos meses. Em um pano de fundo de
inflação alta e crescimento negativo, o custo político do ajuste fiscal deve
ficar cada vez maior. Assim, é natural que este tipo de noticiário venha a
ganhar corpo ao longo do tempo. Vamos precisar aprender a conviver com este
tipo de ruído. Por hora, de uma maneira não linear e tortuosa, o ajuste fiscal
está sendo implementado. O governo tem mostrado total comprometimento com o
ajuste, o que deveria, no mínimo, atenuar este tipo de noticiário negativo
sobre os mercados locais.
Em suma, após a melhora recente dos
ativos locais, este ruído pode vir a causar algum tipo de impacto negativo no
curto-prazo. Acredito que o melhor ativo para se estar posicionado a favor de
Brasil segue sendo a parte intermediária da curva de juros, já que os
fundamentos macroeconômicos conspiram a favor. Vejo o BRL como o melhor ativo
para se posicionar para uma piora do cenário local, já que os fundamentos
locais e externos pressupõem um câmbio mais depreciado.
Comentários
Postar um comentário