Brasil: Piora no mercado de trabalho

Brasil – O CAGED apresentou queda superior a 97 mil vagas em abril, muito abaixo das expectativas de alta de 48 mil vagas. O IPCA-15 apresentou alta de 0,6% MoM e 8,24% YoY em maio, dentro das expectativas do mercado, e sem novidades para o cenário. No Seminário de Metas de Inflação promovido pelo BCB, Tombini manteve o mesmo discurso que vem sendo regra recentemente por integrantes do Copom, ou seja, a política monetária continuará vigilante, já que o trabalho no tocante ao combate à inflação ainda não foi totalmente bem sucedido.

Está se consolidando um cenário de forte pressão sobre o crescimento, com uma aceleração não desprezível do mercado de trabalho. A inflação continua elevada, mas deixou de apresentar surpresas altistas nos últimos meses. Vejo a continuidade deste cenário nos próximos meses, o que irá demandar uma postura ainda mais agressiva do governo para cumprir a meta de superávit fiscal, mas irá ajudar o BCB no combate a inflação.

A curva local de juros precifica altas de 48bps+26bps+16bps nas próximas reuniões do Copom, com quedas expressivas a partir do começo do ano que vem. A curva atingiu o patamar invertido mais baixo dos últimos anos, com o Jan21/jan17 atingindo -100bps .

Continuo gostando de um portfólio comprado em USDBRL e aplicado na parte intermediária e longa da curva de juros. As inflações implícitas ainda se apresentam muito acima do centro da meta, o que requer cautela nesta classe de ativos, já que o pano de fundo é de crescimento fragilizado, aliado a um forte aperto monetário e fiscal. Posições em juros reais devem se concentrar na parte mais longa da curva.

Os ativos locais estão reagindo de forma clássica ao mix do cenário externo e local. Em linhas gerais, o dólar forte no mundo está ajudando no processo de depreciação do BRL. As novas medidas anunciadas pelo governo, por outro lado, está prejudicando o setor corporativo, mas ajudando a parte longa da curva de juros, em linha com a nossa visão de hoje cedo.

Externo - O Core CPI nos EUA apresentou alta de 0,3% em abril, o que manteve a alta em relação ao mesmo período do passado em 1,8%. A abertura do número mostra que a inflação já fez o seu piso, e que o setor de serviços deve sustentar uma aceleração gradual dos preços de agora em diante.

O número de hoje reforça a tese do Fed de que, em breve, veremos um processo gradual de aceleração da inflação, o que deve deixar uma “janela aberta” para o começo de um processo de alta de juros em algum momento do segundo semestre deste ano. Antes da divulgação do indicador, o mercado precificava uma probabilidade menor do que 50% de uma alta de 25bps em setembro, e apenas uma alta total de 25bps durante todo este ano. Este cenário está sendo reavaliado pelo mercado.

Como tenho afirmado ao longo de toda essa semana, o Housing Starts, em abril, nos EUA, apresentou alta de 20% MoM, atingindo o patamar de 1135 mil unidades, maior nível desde de 2007. O número, aliado aos sinais mais claros de estabilização da inflação, deve dar sustentação a tese de que a fraqueza da economia no primeiro trimestre do ano foi fruto de questões estatísticas (Fed São Francisco) e pontuais, como o clima e a greve dos portos da região oeste do país.

Mantenho minha recomendação do começo desta semana, ou seja, espero que o USD fique mais suportado no curto-prazo, sendo sustentado por uma nova abertura de taxa de juros nos EUA. As commodities e os ativos emergentes, em geral, podem ter uma janela um pouco mais desafiadora no curto-prazo. Em termos de portfólio, acho válido adicionar posições compradas em USD e tomadas em juros nos EUA, até mesmo como hedge para posições aplicadas na curva local de juros. Estar underweight/short em setores e moedas ligadas a commodities fazem sentido no atual momento.


Tenho mudado um pouco minha cabeça em relação ao cenário para os ativos de risco em um eventual começo do processo de alta de juros nos EUA. Com o importante discurso do ECB ontem, onde efetivamente mostrou incomodo com a abertura de taxa de juros na Europa nas últimas semanas, e o aparente sucesso do PBoC, na China, afrouxando as condições monetárias do país nos últimos dias (vide a taxa da 7-Day Repo abaixo), tendo a acreditar que não necessariamente teremos um cenário de “Risk-on/Risk-off” durante o processo de aperto de juros nos EUA. Estou enviesado em acreditar que, no longo-prazo, teremos um cenário de diferenciação, onde as condições “micro” de cada país e/ou região podem prevalecer sobre movimentos mais correlacionados. Assim, ainda vejo um fortalecimento do USD no mundo, mas não descarto movimento de abertura de taxa de juros nos EUA que não sejam acompanhadas pela abertura de taxa de juros em outros países e/ou região. No Brasil, se o “dever de casa” continuar a ser feito (vide abaixo) podemos colher juros longos menores ao longo do tempo, mesmo que o BRL siga o movimento global de fortalecimento do USD no mundo. As commodities devem ter um ambiente desafiador pela frente, não apenas pela alta de juros nos EUA, mas com uma menor demanda da China e um pano de fundo de excesso de oferta em vários casos.

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