Brasil: Ajuste fiscal caminha, mas com obstáculos

A noite foi de agenda esvaziada. A sexta-feira terá como destaque o Empire Manufacturing, Industrial Production e Michigan Confidence nos EUA. A agenda no Brasil será esvaziada.

Os mercados estão dando alguns sinais, ainda incipientes, do retorno de algumas das tendências recentes, com o USD mais firme essa manhã e as commodities sobre pressão, mesmo com um fechamento de taxa dos juros nos países desenvolvidos e com as bolsas norte americanas fazendo highs históricos. Como tenho insistido ao longo da semana, apenas a confirmação do cenário macro ao longo do tempo, contudo, será capaz de trazer de voltar, de maneira mais persistente, às tendências do começo deste ano, lei-ase, USD forte, pressão nas commodities e nos ativos emergentes em geral, e abertura gradual da curva curta de juros nos EUA, como as bolsas globais operando nos highs históricos, mas ainda sem romper os ranges recentes, como o 2.050 e 2.100 do S&P 500.

Brasil – De acordo com a Folha, A presidente Dilma Rousseff determinou à sua equipe acelerar negociações com as centrais sindicais para tentar definir uma nova fórmula de aposentadoria que substitua o atual fator previdenciário. O debate estava previsto inicialmente para começar apenas em junho, mas foi antecipado depois de o governo sair derrotado na quarta (13) quando o plenário da Câmara aprovou uma emenda à medida provisória 664, que faz parte do pacote fiscal.” Em outro artigo do mesm jornal, “Preocupado com a redução da economia de gastos feita pelo Congresso no pacote fiscal, o ministro Joaquim Levy (Fazenda) alertou os congressistas para terem cuidado a fim de não criarem necessidade de elevar impostos. "Tem muita gente que diz que a retirada do fator previdenciário vai aumentar despesa, portanto aumentar impostos. As pessoas têm que ter muito cuidado ao votarem para não criar uma necessidade de mais impostos", disse nesta quinta (14).”

Em sua coluna semanal no Valor, Claudia Safatle voltou a mencionar o tema em torno da recente postura mais dura o BCB: A normalização da política monetária americana deverá acentuar a depreciação cambial. Ou seja, há muitos fatores de pressão inflacionária para o futuro, embora haja também o descarte da alta da inflação deste ano decorrente da correção dos preços administrados. A perda de reputação do BC foi grande no primeiro mandato de Dilma Rousseff e o custo de readquirir credibilidade é sempre pesado. O mercado se dividiu entre os que entenderam a mensagem da última ata do Copom e ainda duvidam da sua execução e os que entenderam mas discordam. E discordam porque não acreditam que a autoridade monetária consiga aguentar a recessão que está por vir e creem que, quando se der conta, desistirá no meio do caminho. Ou mesmo que o BC suporte a intensidade do mergulho da atividade econômica, a presidente Dilma não resistirá. Ou seja, prevalece, para uma parcela do mercado, o risco da desistência prematura, mesmo com os sinais do BC de que esse é um caminho sem volta. Os que entenderam e podem dar crédito ao BC avaliam que não sobrou escapatória: depois de quatro anos de promessas descumpridas, só resta agir e provar que desta vez é para valer. Será uma ação pró cíclica necessária em tempos de "guerra". Só em períodos de paz é que se consegue imprimir condutas anticíclicas como seria de se esperar tanto da autoridade monetária quanto da gestão fiscal do governo.” 

Mantenho a visão descrita nos comentários recentes:

Continuo vendo valor na parte intermediária da curva local de juros, que pode ser ajudada por um humor global a risco menos desafiador no curto-prazo. Em um ambiente de recessão, piora do mercado de trabalho, políticas monetária, fiscal e creditícia mais apertadas, e banco central visando a meta de inflação, parece haver prêmios já relevantes na curva, especialmente após o ciclo de alta da taxa Selic que já feito. A posição técnica do mercado não me parece ruim no atual momento. Contudo, acredito em um movimento gradual de depreciação do BRL no longo-prazo. Momentos pontuais de apreciação da moeda são normais e fazem parte do processo de ajuste, o que requer uma postura um pouco mais ativa na administração dos tamanhos e dos instrumentos utilizados para se posicionar nesta direção. Gosto de olhar o patamar entre  2,97 e 3,07 como uma janela de curto-prazo para o BRL e olhar posições via opções (flys, condors) visando de favorecer da vol implícita ainda elevada, mas buscando um movimento gradual de alta do dólar (delta levemente comprado).

O mercado tem se mostrado extremamente técnico e descorrelacionado nos últimos dias. A despeito de movimentos de curto-prazo que podem vir a se descolar dos fundamentos, apenas a ratificação do cenário macro será capaz de, no longo-prazo, dar ímpeto aos movimentos de curto-prazo. Um fortalecimento mais consistente do USD parece demandar dados concretos de recuperação da economia dos EUA. Na ausência destes sinais, o mercado deve ganhar volatilidade e apresentar períodos de enfraquecimento do dólar, acentuados por uma posição técnica ruim (ainda comprada em USD). O movimento dos juros na Europa e nos EUA parece seguir questões mais específicas desta classe de ativos (posição técnica, calendário de ofertas e etc) o que pode exacerbar os movimentos recentes, independente do cenário macro mostrar recuperação da economia global neste segundo trimestre do ano. As commodities me parecem ter feito um pico de curto-prazo, mas não vem apresentando tendência clara, exceto pelo Petróleo. Ainda vejo o cenário de menor crescimento estrutural da China, e sobre oferta em vários setores, como vetores de pressão baixista nesta classe de ativos. Contudo, os movimentos de curto-prazo tem sido marcados pelo ajuste de posições que eram na direção citada anteriormente. As bolsas globais, por sua vez, seguem nos picos recentes, mas ainda sem mostrar grandes rompimentos para cima ou realizações de lucros mais acentuados para baixo. Em suma, seguimos em um ambiente de acomodação dos ativos de risco, com o cenário macro e micro sendo interconectados pela posição técnica e ajuste de curto-prazo.

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