Update
O dia foi de dinâmica interessante
para os mercados locais e externos. No cenário externo, destaque para mais uma
rodada de queda no preço das commodities,
liderados pelos 6% de queda no Petróleo. O cenário de sobre oferta em vários
setores, aliado a um menor crescimento estrutural da China, parece que continua
fazendo pressão sobre esta classe de ativos. Exceto por períodos pontuais de
alta (“short squeeze”), a direção
ainda parece ser de queda para o preço das commodities. As moedas parecem passar por um período de consolidação, com uma volatilidade
elevada, porém sem uma tendência definida de curto-prazo. Ainda não vejo motivos para alterar minha visão
estruturalmente altista para o USD no mundo, mas ainda vejo uma janela de
acomodação no curto-prazo, após uma alta rápida e acentuada da moeda norte
americana nos últimos meses. O mesmo raciocínio vale para o mercado de
juros norte americanos. Olharia triggers de
preço, posição técnica e/o mudança de dinâmica, como sinais para voltar a
alocar na ponta comprada do dólar. As bolsas globais vem seguindo notícias
macro e micro locais mas, de maneira geral, ainda passam por um momento
relativamente positivo.
Com o
crescimento global sendo revisado para baixo, mas com perspectivas ainda
razoáveis, e uma liquidez ampla, provida pelo PBoC, BoJ e ECB, o mercado está
olhando o cenário de curto-prazo como positivo para risco e carry. Continuo vendo essa “janela” como pontual,
podendo durar alguns dias/semanas. Contudo, ainda não vejo mudança de tendência
dos grandes movimentos verificados ao longo dos últimos meses (USD forte, commodities
em queda, pressão sobre ativos emergentes, 2.100 como teto para o S&P500 no
curto-prazo, entre outros). Períodos pontuais de acomodação e realização de lucros são
amplamente naturais e saudáveis dentro de grandes tendências.
Brasil
– Após
alguns sinais políticos mais positivos, como a nomeação de Michel Temer para a articulação
política do governo, além do ajuste, amigável, de alguns itens da pauta do
Congresso, os ativos locais, também ajudados pela janela externa mais positiva,
vem tendo um período de desempenho positivo. Concordo com a direção dos
mercados no curto-prazo, vis-à-vis os níveis depreciados de preço atingidos e a
posição técnica favorável. Ainda vejo espaço para novas rodadas positivas no
curto-prazo. Contudo, não vejo mudanças
substanciais de cenário que justifiquem uma completa mudança de tendência para
os ativos locais. Continuo vendo valor na curva nominal de juros. No entanto, olharia
estruturas de opções altistas para o USDBRL, como flys e condors, para se
favorecer da vol implícita ainda alta, como hedge para a posição
aplicada em juros. O mesmo vale para puts
de Ibovespa. Acho ser plenamente factível um cenário de longo-prazo (3 a 6
meses) em que o BCB reduza o ritmo de alta de juros, ou encerre-o por completo,
ancorando a curva curta de juros, mas com o USD ainda em trajetória de alta, porém
com ímpeto menor do que no passado recente (um ajuste de preço mais ordenado e
necessário para balancear e economia). O cenário ainda me parece extremamente
desafiador para o setor corporativo local.
O IPCA de março ficou levemente abaixo
das expectativas, sem grandes novidades. A inflação, e seu qualitativo (núcleos
e difusão), seguem desconfortavelmente elevados. Contudo, este cenário já era
esperado. O BCB parece mais preocupado com o cenário prospectivo. O recuo da
inflação de serviços e preços livres, mesmo que puxados por fatores pontuais e
localizados (como passagem aérea) pode ser o argumento que o BCB precisava para
adotar uma postura mais dovish. Em um ambiente de dólar mais baixo, crescimento pífio, crédito
mais restrito e aperto fiscal (independente dos 1.2% de superávit primário ser
ou não atingido), crescem exponencialmente as chances do BCB encerrar em breve
o ciclo de alta de juros. Trabalho com um cenário de, no máximo, 50bps+25bps
nas duas próximas reuniões do Copom como cenário base. Contudo, não descarto
cenários menos agressivos, como 25bps+25bps, 50bps+0bps e 25bps+0bps. O mercado
migrou para este cenário nos últimos dias, com a curva precificando altas de
40bps+30bps+15bps nas próximas reuniões do Copom, com a curva mantendo um shape bastante invertido.
EUA
– As
Minutas do FOMC não trouxeram nenhuma novidade em relação aos discursos
recentes de membros da instituição. Acredito que não há nenhuma pressa por
parte do Fed em dar inicio a um processo de alta gradual de juros no país.
Todavia, existe um grande desafio da autoridade monetária em manter viva a
probabilidade de um alta ainda no segundo semestre, para evitar uma
volatilidade excessiva quando uma alta de juros for necessária.
Europa
– A
Grécia passou por seu primeiro
grande teste essa semana, emitindo t-bills a níveis razoáveis e com demanda
decente. O país continua em intensas negociações junto aos seus credores, o que
pode trazer ruído de curto-prazo. Ainda vejo um acordo entre o país e seus
credores como o cenário base, mas é evidente que tem se elevado os risco de um
potencial “evento de cauda” na região, com um default grego e
consequente saída do país da União Européia. A situação econômica do país
vem apresentando um deterioração galopante nas últimas semanas, o que coloca o
país em uma posição extremamente delicada. Apenas um acordo amigável entre a
Grécia e seus credores, para que o país continue recebendo um fluxo financeiro
suficiente para arcar com seus compromissos, será capaz de evitar um cenário
muito mais catastrófico ao país. O cenário base continua sendo de que um acordo
será encontrado, mas o risco, mesmo que baixo, da ausência de uma solução, pode
trazer consequências devastadoras a Grécia e, consequentemente, a toda a
Europa. Assim, podemos esperar um período de maior incerteza e volatilidade nos
próximos dias para os ativos da Europa.
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