Grécia, Japão, China...

A semana está iniciando com o USD mais firme ao redor do mundo. As bolsas da Europa operam em queda, mostrando alguma fragilidade aos ruídos na Grécia. Os bonds do país voltaram a abrir taxas, com a bolsa local operando próxima a estabilidade. Os mercados na Ásia, e na China, em especial, tiveram mais um dia de desempenho positivo. As taxas de juros nos EUA, assim como as commodities, apresentam pouca movimentação neste momento.

Nesta manhã, a Fitch cortou o rating do Japão de A+ para A. Segundo a análise da empresa: “Japanese govt didn’t incl. Sufficient structural fiscal measures in FY15 budget to replace deferred consumption tax increase, Fitch says. Stable outlook reflects Fitch’s assessment that upside anddownside risks to ratings are currently broadly balanced

Na China, as bolsas locais continuam apresentando uma dinâmica muito parecida com aquela verificada nos EUA, Japão e Europa no período após o anuncio do QE nestes países/regiões. Com um cenário de crescimento preocupantemente frágil, o PBoC vem adotando uma postura mais agressiva e proativa na condução de sua política monetária. Agora, nos últimos dias, cresceram os ruídos apontando para a possibilidade do BC local iniciar uma rodada de política monetária não convencional, aos moldes da LTRO utilizada na Europa. Ainda vejo o crescimento chinês como o principal risco macro para os mercados ao longo dos próximos meses. Acredito que o policy maker loca tenha ampla capacidade e instrumentos para lidar com a desaceleração, mas o modelo de crescimento do país parece esgotado. O ponto final do ajuste pode vir a ser controlado e bem conduzido, mas o processo pode acabar trazendo volatilidade e incerteza em algum momento do tempo.

Na agenda do dia, destaque para o Markit Services PMI nos EUA e para os dados de arrecadação no Brasil. A situação na Grécia deve se manter nos holofotes.

Ainda vejo os ativos de risco em um momento de consolidação. O curto-prazo mostrou um claro alívio para algumas classes de ativos, como é o caso dos emergentes e commodities, com o Brasil apresentando recuperação a reboque deste movimento. Ainda não vejo motivos concretos para acreditar que isto seja o começo de uma nova tendência. Estarei em busca de sinais de preço, posição técnica e/ou cenário para reavaliar esta visão. Acredito que, caso a economia norte americana mostre recuperação no segundo semestre, ao mesmo tempo em que o crescimento chinês se mostre fragilizado, em um pano de fundo de fundamentos fracos em grande parte dos países emergentes, poderemos ter o retorno das tendências que prevaleceram no início deste ano, ou seja, USD forte, pressão nos ativos emergentes, commodities em queda, abertura das taxas curtas de juros nos EUA e etc. Por hora, não vejo assimetrias claras e/ou tendências bem definidas. Tenho certa preocupação com os desenvolvimentos na Grécia e com o cenário de crescimento na China. Por hora, estes vetores não estão afetando os mercados, mas podem causar volatilidade nos próximos dias.

Brasil – Algumas notícias chamaram a atenção no final de semana. O governo está trabalhando para um novo pacote de concessões, o que havia sido sinalizado por Nelson Barbosa no começo do novo mandato, mas um projeto que ainda estava às escuras. Agora, após o anuncio do pacote de ajuste fiscal, o governo parece estar trabalhando em uma nova rodada de concessões. Os jornais de domingo, contudo, dizem que não há nenhuma definição a este respeito, pelo menos por enquanto. Após uma extensa reunião ontem, entre os principais ministros do governo, ficou acertado que novos encontros precisam ser feitos antes de um anuncio oficial. Caso confirmado, seria uma medida positiva do ponto de vista fiscal e de crescimento.

Por outro lado, segundo um artigo do O Globo de sábado, uma grande discussão entre Levy e Cunha poderia colocar o ajuste fiscal em perigo. Cunha nega a história, colocando “panos quentes” na situação, em uma tentativa de minimizar as diferenças entre ambos. Já a equipe de Levy não se pronunciou sobre o assunto. A questão é negativa mas, por hora, apenas ruído. Eduardo Cunha tem deixado a vida do governo conturbada, ganhando espaço e poder na administração pública. Contudo, no final das contas, tem dado andamento nas questões relevantes do ponto de vista econômico para o país. Além disso, a bancada do PSDB na Câmara, a despeito de uma postura mais conservadora de Aécio e dos demais caciques do partido, quer dar andamento ao pedido de afastamento da presidente. Este será um desafio que teremos que conviver ao longo dos próximos meses. A situação política é fluída, porém ainda bastante conturbada, o que poderá trazer incertezas ao cenário à medida que o tempo for passando.

Em entrevista ao jornal O Globo, o novo presidente da Petrobras afirmou que Vamos investir no hedge (proteção cambial). Já temos um hedge muito bom, mas não cobre tudo. Determinadas dívidas e captações em outra moedas não estão com mecanismo de proteção. Vamos contratar ou desenvolver mecanismos de proteção.” As declaraçõesconfirmam, mais uma vez, que o governo trabalha com um câmbio mais depreciado no futuro. Caso contrário, não estaria falando em utilizar um hedge total da dívida e das operações da empresa. Não tenho dúvida de que existe uma comunicação interna no governo em torno deste tema. Além disso, mostra uma demanda estrutural por USDBRL no mercado corporativo.

Grécia – De acordo com a mídia internacional, as reuniões do Eurogroup na sexta-feira foram pouco produtivas. Além da ausência de avanços concretos, alguns países já demandam a discussão de um “plano B” caso a Grécia não chegue a um acordo junto a seus credores. À medida que o tempo passa, e nenhum acordo é encontrado, crescem os riscos de contágio e rodadas negativas nos ativos de risco. Ainda vejo o cenário base como um acordo intermediário, com os credores alongando ainda mais a dívida do país, mas com a Grécia se comprometendo com parte do ajuste fiscal proposto. Porém, talvez tenhamos que passar por um período mais turbulento e negativo antes que este acordo seja firmado.

A nova estratégia da União Europeia agora é de tentar isolar o ministro das finanças da Grécia, e tentar um acordo diretamente junto ao primeiro ministro grego. Segundo a mídia, já começam a surgir divergências entre ambos, e a UE estaria tentando se aproveitar desta fraqueza nas relações. Por hora, ainda parece cedo afirmar que serão bem sucedidos nesta estratégia. O primeiro ministro grego, segundo a mídia alemã, parece ter pedido uma reunião emergencial esta semana.

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