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O dia foi marcado pela divulgação das vendas no varejo de março nos EUA e de fevereiro no Brasil. Nos EUA, as vendas no varejo ficaram abaixo das expectativas do mercado, mostrando um consumo ainda modesto neste inicio de ano, surpreendendo aqueles que acreditavam que a queda no preço do petróleo, a melhora no mercado de trabalho e o aumento da renda disponível via efeito renda e efeito riqueza fossem estimular o consumo norte americano no decorrer do ano. Ainda parece cedo para abandonar por completo este cenário, mas o crescimento mais brando neste inicio de ano dá tranquilidade para o Fed agir de maneira parcimoniosa na condução do começo de um processo de alta de juros. O mercado precifica hoje uma probabilidade de cerca de 70% de uma alta de juros de 25bps em setembro, e um pouco mais de uma alta de 25bps durante todo o ano, o que já parece bem ajustado para o cenário descrito acima. Na minha visão, o Fed não terá pressa em iniciar o processo, mas existe grande disposição do comitê em dar inicio a este ciclo ainda este ano, o quanto o antes o cenário permitir.

No Brasil, as vendas no varejo de fevereiro, aliadas as revisões baixistas dos meses anteriores, confirmaram um cenário de crescimento pífio e desafiador para a economia local. Não há nenhum pilar de sustentação mais permanente para a economia no curto-prazo, que irá continuar mostrando desaceleração nos próximos meses. Em discurso em SP, Tombini adotou um tom conservador, mostrando que ainda existem grandes desafios do ponto de vista inflacionário a serem superados. Acredito que a intensão de Tombini foi sinalizar que o ciclo de alta de juros ainda não se encerrou (novas altas ocorreram, não necessariamente no mesmo ritmo do que antes) e, eventualmente, os juros precisarão permanecer em patamar mais elevado por mais tempo do que o passado recente sugere. Caso o câmbio permaneça mais estável, vejo espaço para o BCB reduzir o ritmo de alta de juros, nem que seja necessário estender as altas ao ritmo de 25bps por mais algumas reuniões, ou manter os juros elevados por mais tempo do que o imaginado (em suma, talvez Tombini pode não estar querendo que o mercado precifique quedas bruscas de juros na curva assim que o ciclo de alta seja encerrado). Por outro lado, caso a estabilização do câmbio se mostre pontual, o BCB será forçado a agir de maneira mais intensa.

Neste ambiente, e em clima de apreensão no tocante as negociações entre a Grécia e seus credores, a terça-feira foi de USD fraco no mundo, fechamento de taxas de juros e pressão nas bolsas Europeias. No Brasil, a combinação de um externo menos negativo para a classe de EM no curto-prazo, com notícias locais mais positivas, acabou levando a mais um dia de “overperformance” dos ativos locais.


Acredito que a “descompressão” no USD e nos ativos EM seja pontual e localizada. Pode até ser que dure um pouco mais, com o mercado permanecendo nos ranges recentes, mas ainda acho cedo alterar a visão de longo-prazo, onde o USD ainda deve continuar apreciando, com as commodities pressionadas, e os ativos emergentes ainda passando por rodadas de ajustes negativos. Em suma, parece estarmos diante de mais uma acomodação de curto-prazo das tendências que vem sendo vistas nos últimos meses, processo que pode durar alguns dias/semanas. De maneira geral, contudo, ainda não vejo motivos para alterar a visão de longo-prazo. A visão de longo-prazo será alterada caso a desaceleração norte americana se mostre mais duradoura, e/ou a Grécia não entre em acordo com seus credores, declarando default de sua dívida, e/ou a desaceleração da China não seja contida pelas medidas de suporte ao crescimento anunciadas até o momento. Estes seriam cenários alternativos, que precisam estar no radar.

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