Brasil: Aproximação política entre governo e sua base

Externo - A semana que se aproxima será extremante importante do ponto de vista econômico para o cenário externo, com uma agenda carregada de indicadores de atividade e inflação nos EUA que podem determinar a dinâmica dos ativos de risco nas próximas semanas. Caso os números mostrem uma recuperação do crescimento no final do primeiro trimestre, com uma estabilização (ou alta) da inflação, irá crescer, novamente, as expectativas do começo de um processo de alta de juros nos EUA ainda no começo do segundo semestre deste ano, podendo trazer novamente à tona as tendências que prevaleceram nos primeiros meses deste ano (USD forte, abertura de taxa de juros nos EUA, pressão sobre os ativos emergentes, queda no preço das commodities, entre outros). Números que mostrem uma economia ainda no meio de um “soft-patch”, por outro lado, podem favorecer a dinâmica das últimas semanas, ou seja, a acomodação destas tendências citadas anteriormente, mas sem que vejamos uma alteração brusca ou inversão total destes movimentos. Na Europa, a Grécia e a reunião do ECB serão os focos da semana, com os dados de atividade na China dominando a agenda.

Brasil – Os jornais do final de semana estão dando destaque aos avanços políticos conquistados pelo governo nos últimos dias, especialmente com a nomeação de Michel Temer para a articulação política. Apesar de ainda não ser consenso de que está nova postura do governo será bem sucedida, com muitos vendo a medida como uma “bala de prata” utilizada pela presidente, ou seja, como último artifício para melhorar a relação entre o governo e a base aliada, todos entendem que, mesmo de maneira tortuosa e truculenta, o governo vem buscando um maior diálogo, especialmente visando colocar em prática o ajuste econômico proposto no início de mandato. Existe uma tese ganhando força de que o Brasil virou um Parlamentarismo, com o poder nas mãos de Michel Temer, Joaquim Leve, Eduardo Cunha e Renan Calheiros, mas que não seria necessariamente negativo para o país.

De acordo com alguns artigos, Levy parece ter ganhado total apoio da presidente nos últimos meses. De acordo com o Estado, “LEVY TEM CARTA BRANCA PARA SEGUIR NA DEFESA DO AJUSTE FISCAL, APESAR DE TEMER NA ARTICULAÇÃO. Quem apostou em atritos com a presidente por conta da sua ação no campo político, por enquanto, está perdendo a aposta. No saldo final entre erros e acertos, Dilma avalia que o resultado tem sido positivo, comentam seus auxiliares. Levy tem o aval da presidente, que considera que o ministro vem apresentado "argumentos sólidos", provando ser a pessoa mais indicada no governo para brigar pela aprovação das medidas do ajuste. E tem demonstrado capacidade, sobretudo, para "apagar os incêndios" provocados pelos projetos que aumentam os gastos do Tesouro que, a cada semana, são colocados na pauta de votação como moeda de troca neste momento de definição dos cargos do segundo escalão. Em outro artigo do mesmo jornal, o autor garante que Levy detém instrumentos e poder para implementar novas altas de impostos com intuito de garantir o comprimento da meta fiscal.

Uma nova pesquisa Datafolha mostrou o mesmo que as pesquisas recentes já haviam apontando. Em suma, uma popularidade baixíssima do governo, amplo apoio a um afastamento da presidente, uma melhora de visão do Congresso perante a população e um quase anonimato do vice presidente.

Entendo que ainda existam grandes desafios e obstáculos a serem superados nos próximos meses. É natural que o processo de ajuste não seja linear, e que ruídos venham a ocorrer no meio do caminho. Contudo, é inegável que ocorreram avanços políticos importantes nos últimos dias. Após os protestos recentes, e as pesquisas de popularidade, o governo vem optando pelo diálogo e pela aproximação junto a sua base aliada. Ainda me parece cedo para adotar uma visão puramente otimista com relação ao país, mas acredito que devemos ajustar os portfólios para um cenário um pouco mais construtivo. Acredito que Levy fará o que for necessário para atingir a meta de superávit fiscal este ano, mesmo que à custa da alta de aumento de impostos e de receitas não recorrentes, como venda de ativos e concessões. É importante ter em mente que a forma como o ajuste for feito importa, e muito, para o desempenho dos ativos locais. Acredito que o ajuste fiscal será contracionista, especialmente com as perspectivas crescentes de aumento de impostos, o que deve ajudar o BCB no combate a inflação, e favorecer o bom desempenho da curva de juros. O ajuste, contudo, deverá se mostrar desafiador para o setor corporativo, que irá se deparar com um consumo retraído e custos mais elevados, tanto pela inflação alta no curto-prazo quanto pelo lado do aumento de carga tributária. O dólar, por sua vez, deverá seguir a dinâmica externa, ainda favorável ao USD.

Gosto de portfólios aplicados na parte curta da curva nominal, além da parte longa da curva de juros reais. Olharia está posição em conjunto com posições compradas em USDBRL, uma parte via futuro e outra parte via estruturas de opções que visem se apropriar da vol implícita elevada, como é o caso de flys e condors. A bolsa continuará apresentando desempenho errático, com importante diferenciais entre os setores, não apenas pelo ambiente micro, mas pelos últimos acontecimentos macro.

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