Sinais de fadiga. Cenário macro ainda positivo. Técnico e valuations preocupam.
Os ativos de risco estão dando sinais de fadiga. Ainda não vejo um cenário para uma alteração completa de dinâmica dos mercados financeiros globais, mas acredito que uma realização de lucros seja saudável e necessária.
Reforço o que tenho insistido neste fórum há algum tempo. O cenário econômico continua favorável (crescimento sólido, inflação baixa no mundo desenvolvido, condições financeiras frouxas e resultados corporativos robustos), contudo, os movimentos recentes de apreciação trouxeram alguns efeitos colaterais que não podem ser ignorados, como preços “esticados”, valuations com pouca “gordura”, uma posição técnica pior, e uma leniência excessiva (vide os índices de volatilidade como VIX, MOVE e etc). Assim, vejo uma realização de lucros dos ativos de risco como um cenário possível, cada vez mais provável, que seria natural e saudável, porém não muito acentuado na ausência de novidades relevantes.
Um resultado na Amazon muito abaixo das expectativas divulgado na tarde de ontem deverá ser o foco do mercado ao longo do dia de hoje.
Para este ambiente, tenho recomendado algumas posições de compra de volatilidade, tanto em índices de bolsas nos EUA como no mercado de Treasuries.
No Brasil, os ativos locais reagiram à decisão do Copom dentro do roteiro que descrevi ontem cedo: Espero que o mercado apresente um relevante fechamento de taxa na parte curta da curva, com um “Bull Steepening” da mesma, ou seja, um fechamento ao longo de toda a curva, mas com a parte curta/intermediária apresentando fechamento de taxa superior a parte longa da curva. Eu continuo mantendo recomendação para alocação na parte curta da curva, com a compra de inflação implícita na parte intermediária da curva, estratégia que venho mantendo já há bastante tempo e ainda me parece pertinente.
Continuo vendo valor no mercado local de juros, mas opto por recomendações mais leves, menos agressivas, taticamente, apenas por questões de nível. Continuo vendo assimetria na parte intermediária da curva de inflação implícita e recomendando posições compradas em inflação implícita. Mantenho viés neutro no BRL e no Ibovespa, sem ver grandes assimetrias “top down” nessas alocações.
Os jornais de hoje trazem poucas novidades relevantes no Brasil.
Nos EUA, tivemos ontem mais uma rodada de dados econômicos positivos, com destaque para o Durable Goods Orders, Jobless Claims e Trade Balance. As divulgações levaram o mercado a revisar para cima as expectativas de alta do PIB para o segundo trimestre deste ano, que será divulgado na manhã de hoje.
No campo político, o Congresso acelerou a agenda legislativa, mas ainda não há sinais concretos de que exista uma saída razoável para o Health Care Bill. Enquanto isso, um grupo de trabalho paralelo já estuda as possíveis medidas econômicas, fiscais e tributárias que irão à pauta nos próximos meses. Neste momento, as expectativas de avanços nesta agenda são extremamente baixas e pouquíssimo disto está precificado nos ativos do país.
Na Europa, os dados do PIB dos segundo trimestre divulgados esta manhã ficaram basicamente dentro das expectativas do mercado, que já eram expectativas positivas. Os números apontam para a manutenção de um crescimento saudável e robusto na região.
Com este pano de fundo de dados econômicos mais sólidos, começa a voltar a tona alguns plays do que ficou conhecido como “Reflation”. Acredito que estes movimentos podem continuar e, eventualmente, ganhar corpo (condicionados a manutenção de dados positivos), especialmente frente a uma posição “leve” nesta direção. Vale ressaltar que será importante determinar qual país ou região estará liderando este movimento, pois este vetor será determinante para sabermos se o Reflation será conduzido com um dólar fraco ou um dólar forte, e se poderá ocorrer com um “risk-on”, crescimento forte com inflação baixa, ou “risk-off”, crescimento forte mas com a inflação começando a surpreender para cima.
Continuo sem visão estrutural para o dólar no mundo. Mantenho alocações tomadas em taxas de juros em alguns países de G10, via mercados futuros e via opções com compra de volatilidade. Acredito que compra de volatilidade de índices de bolsa seja um hedge com boa assimetria neste momento.
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