A narrativa continua sendo: "As long as the music is playing, you’ve got to get up and dance."

Na sexta-feira observamos uma leve realização de lucros nos ativos de risco. Destaque para a queda das bolsas na Europa, para a queda no preço do petróleo e para o movimento de dólar forte contra moedas emergentes. Acredito que estes movimentos sejam normais, naturais e saudáveis diante da apreciação verificada ao longo dos últimos meses. Não vejo os movimentos de sexta-feira como mudanças de tendências ou de narrativa por parte dos ativos de risco (ou uma mudança de postura por parte dos investidores).
Continuo vendo um pano de fundo relativamente tranquilo, em que impera o que ficou cunhado como “Goldilocks” (crescimento saudável, inflação baixa e condições financeiras frouxas). Contudo, mantenho minha postura mais cautelosa frente a níveis de preços menos atrativos, valuations idem e uma posição técnica que se deteriora a cada novo dia. Por ora, contudo, ainda não vejo um trigger claro para a mudança de tendência ou de narrativa por parte dos mercados financeiros globais.
Alguns indicadores técnicos que me chamam a atenção, e valem ser citados como, são: Uma posição técnica vendida em dólar nos níveis mais altos deste ciclo; a alta das bolsas nos EUA cada vez mais concentrada em poucas empresas; níveis de P/E dos principais índices norte americanos nos níveis pré “estouro da bolha” de 2001; sell-sides com títulos como “Better Than Goldilocks”; VIX e MOVe em pisos históricos, e etc.
Fazer o “market timing” de reversões de tendências e/ou de correções de curto-prazo é sempre muito difícil. Afirmar que algumas classes de ativos estão em “níveis de bolha” também é sempre muito difícil. Como já falou muito bem Keynes: The market can stay irrational longer than you can stay solvent.” E como completou o ex CEO do Citigroup antes da crise de 2008: "As long as the music is playing, you’ve got to get up and dance." Acredito que o momento seja de manter o foco em temas específicos, sempre buscando hedges e posições que podem parecer assimétricas. Não acho que seja o momento de “continuar dançando” e nem mesmo de “apostar contra as tendências”, mas certamente este momento chegará.
O WSJ traz dois artigos importantes hoje. Acho que não são capazes de alterar a narrativa dos mercados, mas podem ter alguma atenção no curto-prazo.
Primeiro, o Congresso nos EUA aprovou medidas que visam manter uma postura dura com relação a Rússia e evitam tirar poder de manobra de Trump em relação ao tema: vejam aqui: https://www.wsj.com/articles/u-s-lawmakers-reach-deal-on-new-sanctions-against-russia-1500761321
Segundo, o Premier chinês autorizou os órgãos reguladores em continuar investigando os deals fechados por alguns dos maiores conglomerados do país. Podemos ler a matéria completa aqui: https://www.wsj.com/articles/chinas-latest-clampdown-on-overseas-investing-has-president-xis-approval-1500802203
Acredito que esta medida na China seja positiva do ponto de vista de longo-prazo, pois evita os excessos em alguns setores da economia. Contudo, no curto-prazo, a medida poderá gerar volatilidade na bolsa local, reduzir o crescimento e gerar alguns ruídos em torno do setor corporativo. Os policy makers parecem estar se aproveitando de um momento de crescimento mais positivo para implementar medidas extremamente importantes de longo-prazo, mas cujos efeitos de curto-prazo podem trazer volatilidade e incertezas.
No Brasil, os jornais estão focados no aumento dos combustíveis após o anuncio da alta de impostos, mas sem novidades para o cenário econômico. Como já escrevi aqui, nossa área econômica espera um impacto da ordem de 60bps na inflação deste ano. Por ora, este aumento deverá ter pouco impacto sobre a política monetária, mas precisaremos acompanhar os efeitos secundários sobre a inflação nos próximos meses.
As contas externas de junho, divulgadas na sexta-feira, confirmaram um quadro de tranquilidade. A conta corrente continua sendo amplamente financiada por IED, fluxos que são vistos como de longo-prazo.



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