Brasil: Desinflação continua acentuada.

No Brasil, o IPCA-15 de julho ficou abaixo das expectativas, confirmando um cenário de forte desinflação no país. O número ajudou a dar ímpeto ao movimento de fechamento de taxas de juros, mesmo com as especulações de aumento de impostos. Observamos um movimento claro de elevação das inflações implícitas e steepening da curva.

Continuo recomendando alocação na parte curta da curva nominal de juros, mas concentrado em estruturas de opção. Continuo gostando bastante das inflações implícitas na parte intermediária da curva. Além da assimetria positiva, com pouco prêmio nos anos posteriores a 2018, a posição pode se favorecer de cenário de ajuste fiscal via impostos, ou se proteger de eventuais “cenários de cauda” para o Brasil (não que este seja o cenário base).

O mercado de renda variável parece estar passando por um momento em que está digerindo uma janela de IPOs, o que está impedindo que o Ibovespa siga o movimento global de alta das bolsas e o bom desempenho do BRL e do mercado de juros.

Na Europa, o ECB, na figura de Mario Draghi, deu uma aula de política monetária. Ele conseguiu manter a volatilidade do mercado de juros baixa, sem movimentos relevantes entre a abertura e o fechamento. O ECB, assim, conseguiu manter as taxas de juros de mercado em níveis cerca de 20 a 30bps superiores ao que eram antes de Sintra, evitando um aperto adicional das condições financeiras, mas evitando uma reversão dos movimentos de abertura de taxa atingidos após as sinalizações recentes.

Contudo, por sinalizar despreocupação com a alta recente do EUR, apontando condições financeiras ainda frouxas, Draghi acabou favorecendo uma alta adicional da moeda. Acredito que esta não era sua intensão, mas os atuais níveis ainda não parecem incomodar o ECB.

Nos EUA, o Jobless Claims se manteve nos níveis mais baixos da história, mostrando um mercado de trabalho extremamente robusto. Um leilão de TIPs de 10 anos apresentou a menor demanda em cerca de 9 anos, o que acabou afetando o mercado de Treasury durante a tarde.

Ainda acredito que vale o meu comentário de ontem. Após os recentes dados de inflação mais baixos no mundo desenvolvido, o mercado deixou de lado a teoria do “Consenso de Sintra”, em prol de um cenário em que não há pressa para dar continuidade ao processo de normalização monetária nos países de G10.

Concordo que dificilmente existe espaço para um discurso por parte dos bancos centrais que cause ruptura nos mercados, na ausência de dados de inflação mais robustos. Contudo, acho difícil que os principais BCs do mundo abandonem totalmente a disposição em dar continuidade ao processo de normalização monetária, mesmo que de forma gradual, em um ambiente em que as condições financeiras apresentaram afrouxamento adicional nas últimas duas semanas, em especial nos EUA.


Acho que faça sentido os bancos centrais reduzirem medidas extraordinárias como QE e seus balanços, frente a um cenário de crescimento mais robusto e com riscos de cauda reduzidos. A inflação baixa, contudo, permite que os juros se mantenham baixos e que o processo de normalização monetária caminha de forma gradual.

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