Relatório Mensal de Asset Allocation:
Pano de fundo global:
O
mês de junho marcou o final do primeiro semestre do ano para os mercados
financeiros globais. O período foi marcado por algumas decepções por parte do
mercado, como a ausência de uma aceleração mais acentuada e coordenada do
crescimento global, que apenas se manteve saudável, relativamente estável. A
inflação no mundo desenvolvido não acelerou como muitos esperavam. E,
finalmente, a agenda econômica de Trump nos EUA não decolou.
Com
este pano de fundo, vimos uma abrupta mudança de postura por parte dos
investidores ao longo deste período, que abandonaram temas consensuais, como o
“dólar forte”, “a abertura de taxas de juros no mundo desenvolvido”, e o que
ficou com a alcunha dos “Trump Trades”, em favor de temas como “alta das
bolsas”, “carry trades”, “compra de ativos emergentes” e etc.
Nas
últimas semanas, começamos a observar o retorno de alguns dos antigos temas que
marcaram o final de 2016 e o início de 2017. Não vimos uma mudança drástica nos
dados econômicos, que continuam apontando para um crescimento saudável, porém
sem grandes acelerações, uma inflação contida no mundo desenvolvido, e uma
agenda legislativa ainda com poucos avanços nos EUA.
Contudo,
após a reunião dos Bancos Centrais em Sintra, voltou à tona a discussão da
normalização monetária por parte dos Bancos Centrais no G10. No final do mês,
Trump e cia. deram sinais de que pretendem endurecer o diálogo que envolve as
relações comerciais com a China. Isso fez com que voltasse a ser tema de
discussão a adoção pelos EUA de uma postura mais dura nas relações comerciais
com seus principais parceiros. Além disso, a China dá sinais de que pretende
manter uma política monetária e fiscal mais apertada, o que deverá gerar um
crescimento mais brando de agora em diante.
Ainda
parece cedo para prever uma reversão completa das tendências que prevaleceram
neste primeiro semestre. Contudo, com a posição técnica muita mais “leve”,
“limpa” e pouco consensual na direção da normalização monetária e nos
conhecidos “reflation trades” e “Trump trades”, e um sinal cada
vez mais claro por parte dos Bancos Centrais no G10 na direção de políticas
monetárias menos expansionistas, podemos estar diante do começo de novas
tendências para os ativos de risco neste segundo semestre do ano.
É
importante lembrar que a quase uma década os investidores não se veem diante de
um movimento coordenado de aperto monetário, com consequente (talvez esperado)
aperto das condições financeiras. Muitos dos atuais investidores, traders e
portfolio managers nunca vivenciaram um período com esse pano de fundo.
Além disso, precisamos ter em mente que não existe experiência histórica que
indique o melhor caminho para a normalização de taxas de juros vinda de níveis
tão baixos, e com os balanços dos Bancos Centrais tão anabolizados. O movimento
por parte dos BCs será extremamente gradual e bem comunicado. É bastante
provável que movimentos de “stop-and-go” venham a ocorrer, ou seja,
momentos de aperto monetário sendo seguidos de alívio, mesmo que na
comunicação, em reação a movimentos mais acentuados de correção dos ativos de
risco (vamos lembrar que o Fed foi obrigado a fazer uma enorme pausa entre a
primeira alta de 25bps nas taxas de juros e a segunda elevação, após uma reação
negativa dos ativos de risco e uma “mini crise” na China e nos mercados
emergentes).
Os
ativos de risco como um todo continuam em níveis historicamente elevados, com
as volatilidades realizadas e implícitas em níveis nunca antes observados. O
processo de normalização monetária não necessariamente irá causar reverberações
negativas ao redor do mundo. Ainda podemos experimentar um momento prolongado
de estabilidade econômica e financeira.
Todavia,
a história mostra que momentos como o atual requerem cautela e posições mais
neutras, frente a preços menos atrativos, além da busca por hedges, que ainda
se mostram baratos nos atuais níveis.
Brasil:
O país viveu momentos distintos neste início de ano. Num
primeiro momento, até maio, prevaleceu um ambiente de bastante otimismo. Um
pano de fundo global positivo, aliado aos avanços alcançados pelo governo na
pauta econômica (macro e micro), e com um quadro econômico positivo, ajudaram a
dar suporte aos ativos locais.
Em um segundo momento, a inesperada delação premiada de um dos
maiores conglomerados empresariais do país, envolvendo a alta cúpula do atual
governo, levou o país a mais um capítulo da crise política local. Os ativos
brasileiros reagiram de forma bastante negativa em um primeiro momento,
revertendo grande parte da apreciação verificada nos primeiros meses do ano.
Finalmente, com um pano de fundo externo ainda construtivo para
os países emergentes, com a manutenção de um quadro cíclico positivo, e a
manutenção da equipe econômica comprometida com a agenda de reformas, mesmo que
com as expectativas de reformas mais estruturais sendo diluídas, houve uma
certa estabilização do humor dos investidores em relação aos ativos locais.
Do ponto de vista econômico, a despeito da elevada volatilidade
dos ativos locais, em meio a uma crise política sem precedentes, vimos poucas alterações
de cenário, que devem se manter ao longo do segundo semestre.
A inflação continua em uma clara, acentuada e positiva tendência
de desaceleração. Os números surpreendem (para baixo) os economistas de mercado
e o próprio Banco Central (BCB). A recuperação do crescimento se mostra mais
lenta e gradual do que o esperado. O choque político dá sinais de que deve
tornar este processo ainda mais lento. As contas externas continuam tranquilas,
com um baixo déficit em transações correntes sendo facilmente financiado pelos
investimentos estrangeiros diretos, consideradas positivas por serem de
longo-prazo. As contas públicas continuam preocupantes, especialmente na
ausência de reformas estruturais mais robustas. Com números de arrecadação e
superávit primário abaixo das expectativas, cresce a possibilidade de aumento
de impostos.
Esperamos que este quadro continue ao longo do segundo semestre
do ano. Apenas mudanças drásticas do cenário externo serão capazes de alterar
este quadro cíclico da economia. O risco continua a ser proveniente do cenário
político ou de alguma mudança drástica no pano de fundo externo.
Alocação/Estratégia:
Diante das incertezas políticas locais movemos,
na última semana de maio, todas as recomendações para neutro. Optamos por esperar
uma clareza maior do cenário político antes de concluirmos com mais exatidão
qual o cenário prospectivo para o país. Neste momento, julgamos ser
extremamente prematura tentar tirar qualquer conclusão mais concreta. Assim,
acreditamos que o mais prudente seja manter posições neutras.
Fundo
Icatu Vanguarda Macro Fundo de Investimento Multimercado:
O Fundo manteve
posições visando a recuperação estrutural do país ao longo de grande parte do
primeiro semestre, administrando apenas os tamanhos e variando os instrumentos
utilizados de acordo com o momento.
Após a eclosão de
mais uma fase da crise política local, comentada acima, optamos por manter
posições mais neutras em Brasil. Assim, concentramos os riscos do Fundo em
posições onde víamos uma assimetria ainda bastante positiva, e onde tínhamos
maior convicção do cenário.
Mantivemos (e ainda
mantemos) posições aplicadas na parte curta da curva local de juros, visando um
ciclo de corte da Taxa Selic maior do que o precificado pelo mercado. Além
disso, vemos um prêmio de alta de juros ainda excessivo ao longo de 2018.
Acreditamos que o cenário prospectivo não justifica tais prêmios.
Devido aos riscos
externos e locais comentados acima, adicionamos alguns hedges locais ao
portfólio, tais como estruturas de dólar (visando uma eventual depreciação do
Real) e compradas em inflação implícita na parte intermediária da curva. Vale
ressaltar que ainda vemos uma inflação extremamente baixa neste ano e no
próximo. Contudo, em torno de 4,5% de inflação implícita nos vértices
intermediários, acreditamos ser um hedge com bom risco/retorno para as
carteiras.
Com um cenário local
mais nebuloso, elevamos as alocações nos mercados externos. Adicionamos
posições tomadas na curva de juros dos EUA, principalmente via opções, aproveitando
níveis extremamente baixos de volatilidade implícita que acabam por gerar
grandes assimetrias de retorno, posições que temos carregado há algum tempo. A
mudança de sinalização por parte dos Bancos Centrais no G10 nos parece
extremamente relevante. Com as taxas em pisos históricos para este ciclo, e a
posição técnica mais “leve”, acreditamos que o momento seja oportuno para
elevar as alocações nesta tese de investimentos. Finalmente, adicionamos
algumas puts de S&P500 como hedge para a posição de juros nos EUA.
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