Relatório Semanal de Asset Allocation:
No Brasil, o destaque da semana ficou por conta do anúncio do
aumento de impostos sobre combustíveis. A medida foi tomada com o objetivo de
buscar receitas adicionais, visto que a recuperação da economia está
surpreendendo negativamente o governo, o que tornou o atingimento da meta
fiscal para este ano extremamente difícil na ausência de “receitas
extraordinárias”.
Segundo nossa área econômica, o anúncio deverá adicionar cerca
de 60bps no IPCA deste ano. Como nossa equipe já trabalhava com alguma alta de impostos,
isso eleva a expectativa de IPCA de 3,20% para 3,50% este ano, um número ainda
bastante baixo e dentro das metas de inflação. Acreditamos que a elevação deve
ter pouco impacto na política monetária de curto-prazo, mas será importante
medir os efeitos secundários desta elevação.
O cenário político se mostra mais ameno, já que o recesso
parlamentar está mantendo a agenda política esvaziada. No campo econômico,
vimos poucas mudanças de cenário. O IPCA-15 de julho ficou abaixo das
expectativas do mercado, ainda mostrando um quadro de desinflação acentuada. As
contas externas de junho mostraram continuidade do processo de ajuste externo.
Continuamos esperando um déficit em conta corrente bastante baixo para este ano
(cerca de 1% do PIB), com os Investimentos Estrangeiros Diretos robustos, o que
está garantido um fluxo positivo e tranquilo para o país. A atividade econômica
dá sinais mistos. Conseguimos ver alguma estabilização, mas sem sinais
consistentes de recuperação.
No cenário externo, os números de atividade econômica continuam
apontando para um crescimento saudável do mundo. A grande surpresa, contudo,
fica por conta dos dados ainda contidos de inflação. Neste ambiente, os bancos
centrais acenam com um processo de normalização monetária bastante gradual e
bem comunicado, o que está ajudando a manter as condições financeiras frouxas
ao redor do mundo.
Continuamos a
ver um pano de fundo relativamente tranquilo, em que impera o que ficou cunhado
como “Goldilocks” (crescimento saudável, inflação baixa e condições financeiras
frouxas). Contudo, mantemos nossa postura mais cautelosa frente a níveis de
preços menos atrativos, valuations pouco triviais, e uma posição técnica
que se deteriora a cada novo dia. Por ora, contudo, ainda não vemos um “trigger”
claro para a mudança de tendência, ou de narrativa por parte dos mercados
financeiros globais.
Alguns indicadores técnicos nos chamam a
atenção, e valem ser citados como: Uma posição técnica vendida em dólar nos
níveis mais altos deste ciclo; a alta das bolsas nos EUA cada vez mais
concentrada em poucas empresas; níveis de P/E dos principais índices
norte-americanos nos níveis pré “estouro da bolha” de 2001;; VIX e MOVE
(índices de volatilidade) em pisos históricos, e etc.
Fazer o “market timing” de
reversões de tendências, e/ou de correções de curto-prazo, é sempre muito
difícil. Afirmar que algumas classes de ativos estão em “níveis de bolha”
também é sempre muito difícil. Como citou Keynes: “The market
can stay irrational longer than you can stay solvent.”
E como completou o ex CEO do Citigroup antes da crise de 2008: "As long
as the music is playing, you’ve got to get up and dance." Acreditamos que o momento seja de manter
o foco em temas específicos, sempre buscando hedges e posições que podem
parecer assimétricas. Não acreditamos que seja o momento de “continuar
dançando”, e nem mesmo de “apostar contra as tendências”, mas certamente este
momento chegará.
Alocação/Estratégia:
Mantemos recomendações neutras para as principais classes de
ativos no Brasil.
O pano de fundo global, aliado aos avanços positivos
conquistados na agenda econômica e política nos últimos dias, estão ajudando o
bom desempenho dos ativos locais. Temos afirmado que não vemos grandes
assimetrias nos mercados de câmbio, Renda Variável e Juros Longos nos atuais
níveis, mas entendemos que a combinação de um crescimento global saudável, com
inflação contida em G10 e a aparente ausência de riscos de curto-prazo podem
continuar dando suporte aos ativos brasileiros. Nossa visão de curto-prazo se
mostrou errada, pois o alinhamento dos vetores locais e externos está ajudando
a dar ímpeto aos movimentos positivos de todos os ativos locais.
Continuamos optando por manter recomendações e alocações mais
neutras e menos direcionais, focada em temas específicos. No Brasil, ainda
gostamos de exposição a parte curta da curva de juros e da compra de inflação
implícita na parte intermediária da curva. Não temos um cenário direcional
claro para o Real (BRL). Ainda acreditamos que ele se manterá em um grande
“range” no curto-prazo, talvez entre 3,1-3,3. Estamos sem visão direcional para
o Ibovespa. No cenário externo, temos pouca visibilidade no mercado global de
câmbio, mas ainda gostamos de posições tomadas em taxas de juros em alguns
países de G10, administrando tamanho e instrumentos.
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