Consolidação. Cenário inalterado.
Os ativos de risco estão dando sinais
mistos esta manhã. As taxas de juros nos EUA apresentam leve fechamento de
taxa, em um movimento clássico de consolidação, após uma abertura rápida e
acentuada nas últimas 2 semanas. Este movimento está ajudando a dar um tom mais
positivo para os demais ativos de risco mas, em especial, as moedas e os ativos
emergentes em geral. As commodoties continuam mostrando direções opostas, com
as agrícolas apresentando nova rodada de alta e as metálicas ainda sobre
pressão. Em geral, as bolsas globais operam em alta neste momento.
Não vejo
grandes mudanças de cenário nos últimos dias. Assim, mantenho minhas
recomendações em torno de dois temas principais. Primeiro, para o processo de
normalização monetária no mundo desenvolvido. Neste caso, acredito que o risco
deva ser concentrado em posições tomadas em taxas de juros em G10. A despeito
da alta das vols implícitas nas últimas semanas, os níveis ainda parecem
atrativos para adicionar posições utilizando este instrumento. Além disso, acho
válido posições menores e mais pontuais em alguns pares de moedas. Estou, neste
momento, favorecendo [venda de AUD + compra de vol]. Segundo, a despeito dos
ruídos recentes no Brasil, ainda vejo espaço para o fechamento das taxas curtas
de juros. Acho válido mesclar a posições com alguns hedges, tais como compra de
inflação implícita na parte intermediária da curva e estruturas altistas de
dólar (venda de BRL).
No Brasil, as notícias do final de semana talvez tenham sido mais
mistas do que as expectativas no final da sexta-feira, que haviam se tornado
bastante nebulosas/negativas. Ainda vejo sinais inequívocos de deterioração da
situação corrente (vide comentário abaixo de sábado pela manhã), mas talvez o
processo de deterioração ainda não tenha chegado a um ponto de ruptura.
A “queda de braço” ente um quadro cíclico
positivo (inflação cadente, estabilização do crescimento, contas externas
tranquilas e queda das taxas de juros) e perspectivas estruturais e políticas
nebulosas (dívida/PIB crescente, contas públicas negativas, crise políticas),
deve continuar mantendo os ativos locais dentro de alguns ranges, sem
tendências claras de curto-prazo.
No cenário externo, a reunião do G20, trouxe poucas novidades, exceto
por confirmar uma postura vista como pouca produtiva pela nova administração
dos EUA.
Na China, o CPI e o PPI ficaram estáveis em junho, levemente abaixo
das expectativas. Não há sinais claros de problemas inflacionários no país, mas
o PBoC deverá manter uma postura apertada em termos fiscais e monetárias
visando evitar excessos na economia e em setores específicos. Vejam abaixo os
detalhes do número, cortesia do Citibank:
·
CPI unchanged at 1.5%YoY —
Jun CPI came in slightly lower than market/our estimates (Citi/Cons: 1.6%YoY).
2Q average CPI inflation remained flat at 1.4%YoY.
·
Sequentially, headline CPI
inflation further fell from -0.1% MoM to -0.2%MoM in June. Specifically, food
prices fell 1% MoM, non-food prices rose 0.1%MoM and services inflation
increased 0.3%MoM.
·
Food price disinflation
continued but moderated from -1.6%YoY in May to -1.2% YoY in Jun. Within food,
disinflation in pork and egg continued, at -16.7%YoY and -9.3%YoY (vs.
-12.8%YoY and -14.4%YoY in May). These items dragged overall CPI down 0.56ppt.
Vegetable prices reversed from -6.3% YoY in May to 5.8%YoY in Jun and fruit
prices rose 9.9%YoY, off a low year-ago base.
·
Non-food inflation slowed
to 2.2%YoY, influenced likely by oil price changes. Specifically, the inflation
of transportation, healthcare & medical services decelerated by 1ppt and
-0.2 ppt to 0.1%YoY and 5.7%YoY respectively.
·
Service price inflation
inched up to 3%YoY in June.
·
PPI steadies at 5.5%YoY —
Negative MoM growth continued, at -0.2% vs. -0.3% in May. In 2Q, average PPI
slowed to 5.8%YoY from 7.4%YoY in 1Q. Capital-goods inflation stayed at 7.3%YoY.
By industry, goods price increases in raw materials and mining & quarrying
slowed to 10%YoY and 18.3%YoY from 11.1%YoY and 22.7% YoY in May. Manufacturing goods price increase
rose from 4.6%YoY to 5.4%YoY.
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A situação corrente do Brasil parece ter se deteriorado
bastante nos últimos dias. Vejamos:
- O Governo Temer parece passar por
seu pior momento, com o seu apoio se esvaindo a cada novo dia, segundo a
cobertura da mídia e de analistas políticos.
- Rodrigo Maia é o nome mais cotado
para uma eventual sucessão, mas a revista Veja de hoje traz reportagem dizendo
que o atual presidente da Câmara será citado em uma possível (e, de acordo com
a mídia, provável) delação premiada de Eduardo Cunha. Vale lembrar que Maia já
é investigado em outros inquéritos relativos a Lava-Jato.
- Neste ínterim, o atual (e novo)
presidente do BNDES deu declarações contrárias a TLP, avanço imenso apresentado
pela atual equipe econômica à atuação do BNDES no “crédito subsidiado”. Sua
postura acabou levando ao pedido de demissão de dois diretores da instituição,
ambos vistos como economistas ortodoxos e profissionais alinhados com o
mercado.
- A Folha de SP de hoje retornou o
tema da possível delação de Palocci e afirma que o ex-ministro da fazenda iria
acusar o seu sucessor de entregar informações sigilosas ou privilegiadas ao
sistema financeiro nacional.
- No cenário externo, um ambiente que
até pouco tempo atrás era visto como construtivo, mostra que poderá tomar um
caminho ainda sem rupturas, mas em direção a uma menor liquidez global. O
Brasil foi um dos países que mais se favoreceu da ampla liquidez global desde a
crise de 2008. É natural esperar alguma reação quando, e se, este processo de
normalização comece de fato.
Em termos gerais, temos alguns
componentes mais negativos no curto-prazo, que ainda se confrontam com um
quadro cíclico mais positivo da economia, com inflação baixa, corte de taxas de
juros, recuperação (ou estabilização) do crescimento e contas externas tranquilas.
O quadro fiscal ainda é um problema
grande e crescente. À medida as perspectivas de reformas estruturais de
esvaziam, crescem os riscos de longo-prazo para o país, tornando-o mais frágil
a qualquer mudança de curto-prazo do cenário externo ou das demais variáveis.
Assim, mantenho uma recomendação
levemente mais negativa para o curto-prazo. A exposição à parte curta da curva
de juros foi integralmente trocada por estruturas de opção. Mantemos pequena
exposição comprada em dólar via estruturas de opção. Ainda achamos haver uma
assimetria grande na inflação implícita da parte intermediária da curva, onde a
maior parte da alocação a risco está concentrada no momento.
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