Trump: My bet? No extremes...

Os jornais continuam focados no “Fenômeno Trump” e suas consequências para o mundo e para os mercados financeiros globais. Acho que ainda é muito cedo para tirar conclusões concretas em relação a uma eventual mudança de cenário, mas vale fazermos uma breve reflexão sobre os últimos eventos ao redor do mundo.

Antes mesmo das eleições nos EUA, o país já vinha em uma dinâmica gradual de elevação da inflação, com sinais mais animadores de crescimento, com um aumento de probabilidade de que o Fed tivesse que dar continuidade ao movimento de normalização monetária, com altas pontuais e graduais nos Fed Funds.

Já havia um crescente debate global em torno do poder da política monetária no mundo desenvolvido, dando lugar a um coro crescente em favor de uma política fiscal mais proativa e agressiva.

Este processo vinha ocorrendo em um pano de fundo de baixo, porém estável crescimento do mundo, com uma inflação baixa no mundo desenvolvido e políticas monetárias ainda expansionistas, mas sofrendo ajustes pontuais em seus instrumentos e/ou suas magnitudes em cada região do mundo.

A vitória de Trump nos EUA, dado o radicalismo de seu discurso e de sua plataforma econômica, levou os mercados financeiros globais a efetuarem movimentos rápidos e acentuados na direção de um maior protecionismo frente a alguns países e regiões (dólar forte), um estímulo fiscal muito mais agressivo, que levaria a um maior crescimento dos EUA (alta das bolsas e, em especial, dos setores mais ligados a infraestrutura), e o cenário de política monetária mais apertada (aumento de taxas de juros e pressão nos ativos EM), devido aos efeitos secundários de uma inflação mais elevada nos EUA.

Os dois primeiros sinais concretos de Trump, primeiro em seu discurso pós-vitória, e depois em uma entrevista ao WSJ, vemos um tom mais moderado e conciliador. Primeiro, Trump sinalizou que pretende unir o país em torno de uma causa. Depois, sinalizou que poderia manter parte da reforma no sistema de saúde implementada por Obama. Vale lembrar que em sua campanha Trump defendia “com unhas e dentes” repelir de maneira imediata todo o sistema de saúde implementado por seu antecessor.

Diante dos fatos, sou levado a acreditar que Trump adotará uma postura pragmática, todavia, não radical. Acho que um “meio terno” de sua plataforma seria o mais correto a se esperar, e não movimentos radicais em nenhuma direção. Assim, os movimentos recentes não necessariamente estariam errados, mas suas magnitudes talvez possam estar sendo exageradas no curto-prazo. Por exemplo, provavelmente sua postura não será extremamente negativa para o México, assim como seu plano fiscal não deverá ser tão gigantesco como precificou o mercado de commodities metálicas.

Repito, ainda me parece cedo para fazer afirmações mais assertivas sobre o tema, mas pretendo, por ora, trabalhar com um cenário de menos radicalismo, e aproveitar movimentos de exagero dos ativos de risco para me posicionar em temas que me parecem com probabilidade elevada no longo-prazo.

No limite, poderemos ter um pouco mais de crescimento no mundo, com um pouco mais de inflação, e uma política monetária um pouco mais apertada. Não era exatamente este cenário que os bancos centrais vinham buscando desde a crise de 2008? Porque ele deveria ser negativo para o mundo e, em especial, para o mundo emergente? Entendo que estamos no meio de um período de incerteza. Espero uma volatilidade mais elevada no curto-prazo e, talvez, sem tendencias definidas. Contudo, ainda me parece cedo para afirmar que o cenário que vinhamos trabalhando estava totalmente errado, ou será totalmente revertido.

Ainda gosto da parte curta e intermediária da curva de juros no Brasil. Acho válido trabalhar com uma posição comprada em dólar no mundo. O meu viés é tomador de taxas de juros nos EUA, mas espero um momento mais oportuno para adicionar posição nesta direção. Mantenho viés neutro porém tático no BRL e no Ibovespa no curto-prazo.

Acredito que existam países emergentes que realmente estão mais vulneráveis frente a um cenário externo mais hostil, mas vejo o Brasil em posição mais confortável hoje do que no passado recente. O país apresenta um balanço de pagamentos mais saudável e reservas internacionais elevadas. Estamos no meio de um processo de queda da taxa Selic, com inflação cadente. Além disso, os investidores estrangeiros detém apenas 15% de nossa dívida local, contra 50%-60% de outros países emergentes, como México e África do Sul, por exemplo.

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