Update
Os ativos de risco retomaram as tendências que vem sendo regra desde a eleição de Trump, com o dólar mais forte no mundo, sustentado por uma abertura de juros nos EUA. As bolsas ao redor do mundo operam em leve queda. A novidade, neste momento, é uma rodada de pressão nas commodities. O Minério de Ferro, por exemplo, teve o segundo dia de forte queda nesta quarta-feira.
Por ora, os movimentos desta manhã estão sendo muito mais graduais do que as rupturas observadas nos dias após as eleições nos EUA. O aparente gradualismo dos movimentos me levam a acreditar que a posição técnica possa já ter sofrido ajustes relevantes, e que a velocidade menos intensa (pelo neste momento) de abertura das taxas de juros nos EUA poderá evitar rupturas adicionais nos mercados financeiros globais. Os riscos, contudo, ainda existem e não podem ser desprezados.
Ajustes de posições não costumam durar apenas alguns dias, especialmente quando estamos diante de mudanças que aparentem ser estruturais nos fundamentos. De acordo com alguns estudos econométricos e subjetivos de alguns sell-sides, o mercado ainda encontra-se "vendido em dólar" no mundo, o que me dá certa tranquilidade em carregar posições compradas em dólar.
No mercado de juros norte americanos, contudo, não apenas a posição técnica dos mercados futuros já mostram investidores "comprados em taxas", como uma pesquisa realizada pelo JPMorgan apresentou posições historicamente elevadas na direção de juros mais altos.
Reforço que nada disso garante o fim das tendências ou alteração das tendências recentes, mas podem indicar movimentos mais brandos de agora em diante. Minha continua a ser de um dólar mais forte no mundo (especialmente contra as moedas consideradas "low yields") e uma trajetória de alta de juros nos EUA. Mesmo diante deste cenário, vejo muito valor na parte curta e intermediária da curva local de juros.
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A terça-feira foi de um movimento clássico de risk-on para os ativos de risco, com bolsas em alta, abertura de taxas de juros no mundo desenvolvido, dólar fraco, especialmente contra EM, e bom desempenho dos ativos emergentes em geral. No complexo de commodities, vimos pressão sobre as metálicas, mas uma forte alta no petróleo.
O movimento de hoje, pela primeira vez, testou a minha tese descrita neste fórum desde a vitória de Trump de que a velocidade de abertura das taxas de juros nos EUA importa tanto quanto, ou mais, do que sua direção. Hoje vimos uma leve abertura de taxa de juros nos EUA, reflexo de dados robustos de Vendas no Varejo e Empire Manufacturing, ambos acima das expectativas nos EUA. Mesmo com as taxas de juros abrindo nos EUA, vimos um excelente desempenho dos demais ativos de risco.
O MXN apreciou mais 2%, após alta de 1% ontem. O ZAR e o RUB apreciaram na mesma proporção. O petróleo subiu mais de 5%. O EWZ (ETF da bolsa brasileira em NY) apresentou alta de 3,4% com EEM (ETF de bolsas emergentes) subindo 2%. No mercado de balcão do BRL, o primeiro vencimento futuro operou em torno de 3.400, contra um fechamento de 3.455 na segunda-feira.
Como muito bem colocou Ray Dalio hoje, tudo indica que já passamos pelo piso da inflação nos EUA, e pelo pico de preços (piso de taxas) dos bonds norte americanos. A princípio, podemos estar diante de um processo (de uma tendência) longo e continuo de elevação da inflação e abertura das taxas de juros no país.
Minha visão é que, se este processo for gradual e bem conduzido, poderá ser digerido de forma saudável pelos demais ativos de risco. Contudo, caso o processo se torne mais rápido, acentuado e com rupturas, poderemos entrar em uma dinâmica mais perigosa, com movimentos clássicos de risk-off. Neste momento, meu cenário central é de que iremos alternar momentos de maior tranquilidade, com períodos de maior volatilidade, como vimos nos últimos dias.
Acredito que este ambiente abre uma janela de oportunidade para diferenciação entre classes de ativos, mas, especialmente, entre países com fundamentos mais sólidos/saudáveis, e países com situação mais delicada. Além disso, podemos ver tendências mais claras nos mercados norte americanos, que passaram muitos anos suprimidos por políticas monetárias que distorciam o preços dos ativos em relação a seus fundamentos.
Mantenho minha visão de que há espaço para um fortalecimento do dólar no mundo, especialmente contra moedas cuja política monetária ainda terá que se manter expansionista por um período de tempo mais elevado. A alta nas taxas de juros nos EUA parece uma tendência que poderá durar anos, e não apenas meses. Contudo, ainda vejo oportunidades de investimentos em países com fundamentos saudáveis ou em vias de recuperação, como o Brasil. Mantenho o foco na parte mais curta e intermediária da curva local de juros, devido ao cenário que temos de crescimento pífio, inflação cadente e aprovação do ajuste fiscal. Além disso, não vemos motivos para uma crise mais aguda, devido a um balanço de pagamentos mais balanceado, reservas internacionais elevadas e uma liquidez ainda abundante.
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