Mercados Globais - Brasil: Cenário político de volta ao foco.

Na sexta-feira a dinâmica dos ativos de risco ao redor do mundo se manteve, praticamente, inalterada, mas com alguns sinais que valem ser mencionados. Primeiro, a tendência de fortalecimento do dólar no mundo continuou, suportado por mais uma rodada de abertura das taxas de juros nos EUA, com movimentos clássicos de “bear steepening”. O mercado de renda variável norte americana encontra-se perto dos picos históricos, mas com rotações extremamente agressivas entre setores e empresas específicas.
 
Contudo, alguns movimentos sofreram algumas alterações. O mercado de commodities parece passar por um ajuste pós-Trump. As commodities metálicas dão sinais de fadiga, enquanto o petróleo voltou suas atenções para as esperanças de um acordo de corte de produção por parte da OPEP.
 
Nos mercados emergentes, vimos um melhor desempenho por parte dos ativos de alguns países, em especial, do Brasil. Ao que tudo indica, a postura mais proativa do BCB nos leilões de swap cambiais e do Tesouro nos leilões de recompra de papéis estão sendo bem sucedidos em manter os mercados locais líquidos e funcionais.
 
No México, a despeito de certa estabilização dos ativos locais, vimos que a estratégia do Banxico de elevar as taxas de juros, ao invés de atuar diretamente no mercado de câmbio, como no Brasil, não está sendo, assim digamos, tão bem sucedida. No meu ponto de vista, nem México, mas especialmente, nem o Brasil, apresentam problemas de financiamento do balanço de pagamentos. Assim, com as economias relativamente estáveis, não vejo a taxa básica de juros como o melhor instrumento para lidar com períodos de depreciação exagerada da taxa de câmbio. Acredito que  BCB esteja adotando postura acertada neste momento.
 
No Brasil, os últimos dias trouxeram novos obstáculos ao governo de Michel Temer. Em especial, 4 eventos estão colocando a prova a capacidade de nosso presidente em manter uma agenda de reformas econômicas. São eles: (1) A crise fiscal dos Estados, (2) O avanço da Operação Lava-Jato sobre importantes membros do PMDB no Rio de Janeiro, (3) O pedido de demissão do Ministro da Cultura, aparentemente devido a pressões políticas em torno da aprovação de uma obra na Bahia e (4) A demora da economia em mostrar recuperação, com vários analistas alertando para o risco de um crescimento próximo a zero em 2017.
 
Não acho que devemos minimizar a gravidade do quadro político local. A situação nunca esteve totalmente estável, especialmente devido ao avanço da Operação Lava-Jato. Acredito que devemos acompanhar a situação nos próximos dias. O melhor que Temer tem a fazer neste momento é conseguir acelerar as reformas no Congresso, mostrando força política e capacidade de gestão. Acredito que ele será capaz disso, mas certamente teremos “turbulências” ao longo do caminho.
 
Mantenho minha visão de que há espaço para um fortalecimento do dólar no mundo, especialmente contra moedas cuja política monetária ainda terá que se manter expansionista por um período de tempo mais elevado. A alta nas taxas de juros nos EUA parece uma tendência que poderá durar anos, e não apenas meses. Contudo, ainda vejo oportunidades de investimentos em países com fundamentos saudáveis ou em vias de recuperação, como o Brasil. Mantenho o foco na parte mais curta e intermediária da curva local de juros, devido ao cenário que temos de crescimento pífio, inflação cadente e aprovação do ajuste fiscal. Além disso, não vemos motivos para uma crise mais aguda, devido a um balanço de pagamentos mais balanceado, reservas internacionais elevadas e uma liquidez ainda abundante.
 

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