Risk-On!
Os ativos de risco estão abrindo a semana em tom mais positivo. Neste momento, um leve fechamento de taxa de juros nos EUA está ajudando a dar ímpeto a um movimento de dólar mais fraco no mundo, com o mercado de commodities em alta e as bolsas da Europa e EUA apresentando leve variação positiva.
Minha visão central continua basicamente inalterada nos últimos dias.
Diante dos fatos, sou levado a acreditar que Trump adotará uma postura pragmática, todavia, não radical. Acho que um “meio terno” de sua plataforma seria o mais correto a se esperar, e não movimentos radicais em nenhuma direção. Assim, os movimentos recentes dos ativos de risco não necessariamente estariam errados, mas suas magnitudes talvez possam estar sendo exageradas no curto-prazo. Por exemplo, provavelmente sua postura não será extremamente negativa para o México, assim como seu plano fiscal não deverá ser tão gigantesco como precificou o mercado de commodities metálicas e alguns setores da bolsa norte americana.
Repito, ainda me parece cedo para fazer afirmações mais assertivas sobre o tema, mas pretendo, por ora, trabalhar com um cenário de menos radicalismo, e aproveitar movimentos de exagero dos ativos de risco para elevar alocação em temas que tenham mostrado distorção ao longo dos últimos dias, como o mercado local de juros.
No limite, poderemos ter um pouco mais de crescimento no mundo, com um pouco mais de inflação, e uma política monetária um pouco mais apertada. Não era exatamente este cenário que os bancos centrais vinham buscando desde a crise de 2008? Porque ele deveria ser negativo para o mundo e, em especial, para o mundo emergente? Entendo que estamos no meio de um período de incerteza. Espero uma volatilidade mais elevada no curto-prazo e, talvez, sem tendencias definidas. Contudo, ainda me parece cedo para afirmar que o cenário que vinhamos trabalhando estava totalmente errado, ou será totalmente revertido.
Ainda gosto da parte curta e intermediária da curva de juros no Brasil. Acho válido trabalhar com uma posição comprada em dólar no mundo. O meu viés é tomador de taxas de juros nos EUA, mas espero um momento mais oportuno para adicionar posição nesta direção. Mantenho viés neutro porém tático no BRL e no Ibovespa no curto-prazo.
Ainda vejo uma posição técnica não excessivamente comprada em dólar no mundo (pelo contrário, análises quantitativa e qualitativa mostram um mercado vendido em dólar em vários pares de moedas). A posição técnica do mercado de US Rates parece um pouco pior, talvez com posições excessivas tomadas em taxa no curto-prazo. Vimos uma melhora razoável na posição técnica dos mercados brasileiros ao longo da semana passada, o que ajuda a explicar parte do bom desempenho dos ativos (junto com a atuação do BCB e do Tesouro) no final da semana.
Um último comentário em relação ao Brasil. A despeito do perigo que a crise fiscal dos Estados representa para a economia do país e para o ajuste proposto pelo Governo Temer, a crise também pode representar uma enorme oportunidade para que um ajuste estrutural seja feito. Eu vejo com otimismo a proposta dos Estados em aderirem a PEC do Teto dos Gastos e uma possível Reforma da Previdência, como mostrado em artigo do Estadão copiado abaixo:
Os governadores estão se organizando para apresentar ao governo federal um pacote de socorro à previdência dos Estados. O plano inclui dar apoio a uma ampla reforma previdenciária, que trate não apenas do INSS, mas inclua as previdências do setor público estadual. Mas eles pedem uma contrapartida: que a União aceite comprar ativos dos Estados para que, nos próximos dois a três anos, possam receber cerca de R$ 150 bilhões para tirar as suas previdências do vermelho.
Um grupo de trabalho já redigiu 12 medidas para serem incluídas na reforma previdenciária proposta pelo governo como um capítulo dedicado aos Estados. No plano político, os governadores enfrentariam a oposição de servidores em suas bases e apoiariam a reforma no Congresso, para que fosse aprovada o mais rápido possível.
Um grupo de trabalho já redigiu 12 medidas para serem incluídas na reforma previdenciária proposta pelo governo como um capítulo dedicado aos Estados. No plano político, os governadores enfrentariam a oposição de servidores em suas bases e apoiariam a reforma no Congresso, para que fosse aprovada o mais rápido possível.
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No Brasil, os últimos dias trouxeram novos obstáculos ao governo de Michel Temer. Em especial, 4 eventos estão colocando a prova a capacidade de nosso presidente em manter uma agenda de reformas econômicas. São eles: (1) A crise fiscal dos Estados, (2) O avanço da Operação Lava-Jato sobre importantes membros do PMDB no Rio de Janeiro, (3) O pedido de demissão do Ministro da Cultura, aparentemente devido a pressões políticas em torno da aprovação de uma obra na Bahia e (4) A demora da economia em mostrar recuperação, com vários analistas alertando para o risco de um crescimento próximo a zero em 2017.
Não acho que devemos minimizar a gravidade do quadro político local. A situação nunca esteve totalmente estável, especialmente devido ao avanço da Operação Lava-Jato. Acredito que devemos acompanhar a situação nos próximos dias. O melhor que Temer tem a fazer neste momento é conseguir acelerar as reformas no Congresso, mostrando força política e capacidade de gestão. Acredito que ele será capaz disso, mas certamente teremos “turbulências” ao longo do caminho.
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