EM Relief / Brasil: Antes tarde do que nunca!

Os ativos de risco estão abrindo a terça-feira em tom positivo. Agora pela manhã, em dia de feriado no Brasil, estamos observando um movimento de enfraquecimento do dólar no mundo, mais concentrado nas moedas de EM, e ajudado por um leve movimento de fechamento de taxas de juros nos EUA. Como observamos na tarde de ontem, a Treasury 10 anos parece estar se consolidando em torno de 2,20%-2,25%. As bolsas ao redor do mundo operam em alta, com movimentos mistos no mercado de commodities. O Petróleo opera em alta, mas o Cobre apresenta forte queda, por exemplo.

Vale mencionar que os ativos no México, os mais afetados pelo “Trump Tantrum”, apresentaram excelente performance nos últimos 2 dias, com  o MXN apreciando cerca de 2%, e a curva de juros apresentando um “bull flattening”.

Brasil – No final da tarde de ontem, após 4 dias de forte pressão nos mercados de câmbio e juros, em uma atuação coordenada, o BCB anunciou uma rolagem de US$1bi de swaps cambiais para quarta-feira, além de um swap adicional de US$500mm (o BCB está vendendo dólar ao mercado). Acredito que a postura seja acertada, mesmo que um pouco atrasada (vide e-mail da tarde de segunda-feira, copiado abaixo).

Ao mesmo tempo, o Tesouro anunciou o cancelamento do leilão de NTN-F, além de anunciar alguns leilões de recompra de papéis (principalmente NTN-F).

Como eu vinha alertando há alguns dias, os mercados locais continuam extremamente fragilizados. A posição técnica parece ter melhorado, mas fica difícil prever se ainda teremos rodadas adicionais de redução de alocações. A dinâmica dos ativos locais mostra um mercado ainda muito contaminado. Meu medo, neste momento, é que os policy makers brasileiros estejam importando para o país uma crise que deveria nos afetar relativamente menos do que o resto dos países emergentes. De qualquer maneira, ainda dou o benefício da dúvida, sempre respeitando a dinâmica do mercado, devido a fundamentos que julgo ainda serem muito mais robustos do que em crises anteriores.

Voltando a máxima de que “Markets stop panicking when central banks panic! acredito que as decisões do BCB e do Tesouro foram acertadas e deverão ajudar não apenas a dinâmica dos ativos locais, como ajudar o bom desempenho dos ativos do Brasil nos próximos dias. Espero, no mínimo, que a performance relativa apresente melhora substancial, até porque o quadro técnica parece ter melhorado bastante nos últimos dias.

 

Ainda gosto da parte curta e intermediária da curva de juros no Brasil. Acho válido trabalhar com uma posição comprada em dólar no mundo. O meu viés é tomador de taxas de juros nos EUA, mas espero um momento mais oportuno para adicionar posição nesta direção. Mantenho viés neutro, porém tático, no BRL e no Ibovespa no curto-prazo.

 

Europa – O PIB da Alemanha ficou levemente abaixo das expectativas em sua divulgação final, com alta de 0,2% QoQ. Na Itália, a alta de 0,3% QoQ superou marginalmente o esperado. A despeito do Brexit, continuamos a observar um cenário de crescimento baixo, porém relativamente estável na região.

 

Na Inglaterra, a inflação ficou bem abaixo do esperado, com alta de 0,9% YoY contra expectativas de 1,1% YoY. Aqui, assim como nos dados de atividade econômica, o Brexit parece apresentar um efeito muito menor do que as expectativas iniciais.

 

Estes números me remetem aos meus comentários de domingo:

 

Repito, ainda me parece cedo para fazer afirmações mais assertivas sobre o cenário pós Trump, mas pretendo, por ora, trabalhar com um cenário de menos radicalismo, e aproveitar movimentos de exagero dos ativos de risco para me posicionar em temas que me parecem com probabilidade elevada no longo-prazo.

No limite, poderemos ter um pouco mais de crescimento no mundo, com um pouco mais de inflação, e uma política monetária um pouco mais apertada. Não era exatamente este cenário que os bancos centrais vinham buscando desde a crise de 2008? Porque ele deveria ser negativo para o mundo e, em especial, para o mundo emergente? Entendo que estamos no meio de um período de incerteza. Espero uma volatilidade mais elevada no curto-prazo e, talvez, sem tendências definidas. Contudo, ainda me parece cedo para afirmar que o cenário que vínhamos trabalhando estava totalmente errado, ou será totalmente revertido.

Acredito que existam países emergentes que realmente estão mais vulneráveis frente a um cenário externo mais hostil, mas vejo o Brasil em posição mais confortável hoje do que no passado recente. O país apresenta um balanço de pagamentos mais saudável e reservas internacionais elevadas. Estamos no meio de um processo de queda da taxa Selic, com inflação cadente. Além disso, os investidores estrangeiros detém apenas 15% de nossa dívida local, contra 50%-60% de outros países emergentes, como México e África do Sul, por exemplo.

 


 

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