Brasil: Preços atrativos, mas dinâmica ruim.

A segunda-feira foi de um pouco mais do mesmo. Após um início de manhã de forte abertura das taxas longas de juros nos EUA e, consequentemente em todo o mundo desenvolvido, o mercado apresentou alguma estabilização ao longo da tarde, com a Treasury de 10 anos em torno de 2,20% de taxa.

O Brasil, por sua vez, parece padecer de um problema específico maior, não apenas pelo quadro técnico, já comentando neste fórum incessantemente nos últimos dias, mas como pela característica do mercado que, em momentos como o atual, acaba sendo usado como hedge para todo o complexo de ativos emergentes.

Me chama um pouco a atenção a certa passividade dos policy makers locais. A dinâmica, e os movimentos verificados nos últimos dias, nos mercados de câmbio de renda fixa, já parecem suficientes para uma postura mais proativa, seja nos swaps cambiais, seja com o Tesouro oferecendo leilões de recompra de papéis. Por que o banco central costuma ser tão rápido na compra de dólar, em momentos de apreciação rápida e acentuada da moeda, mas demora a atuar em movimentos de deterioração? Se a postura continuar assim, defender a posição de que o BCB atua apenas para conter volatilidade ficará cada vez mais difícil...

A curva de juros precifica uma queda de 25bps no próximo Copom e depois 3 quedas em torno de 30bps. Nos últimos dias, vimos um Focus mais baixo para 2016 e 2017, um IPCA de Serviços dessazonalizado mais baixo em outubro, coletas de inflação mais baixas, queda no preço do diesel e da gasolina. Além disso, as condições financeiras foram apertadas, com forte alta do dólar, abertura de taxas de juros e queda da bolsa. Finalmente, a esperança de um crescimento mais robusto em 2017 se esvanece a cada novo dia, com decepções atrás de decepções no tocante aos indicadores de atividade econômica. Exceto por uma alta mais rápida e acentuada do dólar, acho que está ficando cada vez mais difícil para o BCB justificar sua posição de cautela na condução da política monetária.

Os mercados locais continuam extremamente fragilizados. A posição técnica parece ter melhorado, mas fica difícil prever se ainda teremos rodadas adicionais de redução de alocações. A dinâmica dos ativos locais mostra um mercado ainda muito contaminado. Meu medo, neste momento, é que os policy makers brasileiros estejam importando para o país uma crise que deveria nos afetar relativamente menos do que o resto dos países emergentes. De qualquer maneira, ainda dou o benefício da dúvida, sempre respeitando a dinâmica do mercado, devido a fundamentos que julgo ainda serem muito mais robustos do que em crises anteriores como, por exemplo:

- No tocante ao crescimento, estamos vendo sinais de fragilidade da economia, que fica em linha com nossa visão de uma recuperação apenas lenta e gradual do crescimento do país. Por ora, não vemos pilares para que o PIB consiga superar em grande medida os 1% em 2017, com riscos cada vez mais evidentes de riscos para baixo;
- A inflação continua em trajetória cadente. Após uma pausa no processo de desinflação de serviços, já vimos sinais mais animadores no IPCA fechado de outubro;
- As expectativas de inflação de longo-prazo estão ancoradas em 4,5%, enquanto vemos um processo lento, porém continuo de queda das expectativas de inflação para 2016 e 2017;
- A Petrobrás está adotando postura mais proativa no seu processo de precificação da gasolina e do diesel. Nas últimas semanas, já promoveu duas quedas de preço em ambos os derivados;
- O balanço de pagamentos do país apresentou acentuada melhora nos últimos anos. A situação de financiamento externo é muito mais tranquila hoje do que em anos recentes, como em 2013, por exemplo;
- As reservas internacionais são abundantes, e oferecem um seguro razoável em períodos de volatilidade externa como o atual;

- Os investidores estrangeiros detêm menos de 15% da dívida local, contra níveis que superam os 50% em outros países emergentes, como México, por exemplo.

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