New Kid on the Block, Less Tail Risk!

A quarta-feira deve ser analisada a luz de eventos específicos no Brasil e no mundo.

No Brasil, o processo de impeachment foi encerrado, com o presidente interino Michel Temer sendo confirmado como novo presidente do país.  A votação mostrou 61 votos a favor do afastamento de Dilma, número em linha com o que era imaginado anteriormente. A aprovação do impeachment, mesmo que aparentemente esperada pelo mercado e pela sociedade, retira um “risco de cauda” do cenário político local.

O PIB do 2Q apresentou queda de 0,6% e -3,8% em relação ao mesmo período do ano anterior, levemente abaixo das expectativas do mercado. Segundo nossa área econômica:

A queda de -0,6%t/t dessaz e -3,8%a/a no PIB do segundo trimestre ficaram em linha com a nossa expectativa e não traz mudança para o nosso cenário de crescimento (-3,3% para 2016 e +1% em 2017); A formação bruta de capital fixo voltou a crescer (+0,4% t/t dessaz), algo que não ocorria desde o terceiro trimestre de 2013; O consumo das famílias caiu -0,7%t/t dessaz, enquanto o consumo do governo encolheu -0,5%t/t dessaz. O consumo deve continuar fraco nos próximos trimestres, tende em vista a deterioração ainda presente no mercado de trabalho e o mercado de crédito ainda cauteloso; A demanda doméstica encolheu -0,5%t/t dessaz; A contribuição do setor externo deixou de ser positiva no segundo trimestre ano, retirando 0,5p.p. da taxa de crescimento t/t dessaz do PIB. Por outro lado, os estoques contribuíram com +0,4p.p. do PIB; Pela ótica da oferta, a indústria voltou a crescer, alcançando +0,3%t/t dessaz. Entretanto, desde 1T14, o nível da indústria caiu 10,9%; Dessa vez, o segmento de serviços tem sofrido bastante ao longo da recessão (o nível de produção caiu 5,5% desde o final de 2014), em contraste com a crise de 2008, a qual ficou mais concentrada na indústria;

Neste contexto, observamos um desempenho positivo do mercado local de juros e câmbio, a despeito de uma performance ruim do mercado de renda variável, que seguiu a tendência externa (comentaremos a respeito da visão dos mercados em breve).

No cenário externo, a divulgação de um acumulo expressivo de estoques de derivados de petróleo nos EUA acabou pressionando o complexo de commodities, em especial as commodities de energia, e colocando alguma pressão no mercado global de renda variável.

No tocante a conjuntura global, vale sinalizar para alguns vetores, na minha opinião negativos, trazidos pelo Chicago PMI de agosto nos EUA. O número caiu de 55,8 para 51,5 pontos, abaixo das expectativas do mercado. Em sua abertura, vimos uma desaceleração de todos os sub itens de crescimento, com uma aceleração do número de emprego. Uma economia com crescimento baixo (ou desacelerando), mas com mercado de trabalho robusto, indica uma produtividade baixa e, consequentemente, margens de lucros comprimidas.

O ADP Employment, o último indicador antecedente para o Payroll de agosto, apresentou alta de 177 mil, após revisões altistas dos meses anteriores. O número é condizente com um mercado de trabalho robusto e com uma probabilidade crescente de uma alta de juros no curto-prazo nos EUA.

Ainda vejo espaço para os ativos de risco se ajustarem a uma possível alta de juros por parte do Fed até o final deste ano, com uma chance crescente deste evento ocorrer ainda em setembro (a probabilidade está em 30% para setembro e 60% até o final do ano).

Hoje à noite teremos a divulgação da decisão do Copom e espero um comunicado muito parecido com o comunicado da última reunião. Se este cenário se concretizar, espero um flattening da curva de juros e um recuo das inflações implícitas. Caso o BCB opte por alterar o comunicado de maneira a aliviar o tom de seu discurso, veremos um forte movimento de fechamento de taxas de juros no país.

Pela primeira em algumas semanas o mercado começou a migrar para o cenário que tenho desenhado neste fórum, ou seja, um bom desempenho do mercado local de juros, mesmo diante de um cenário externo mais complexo, especialmente nos atuais níveis de preço. Assim, mantenho minha visão descrita neste fórum nos últimos dias:


Em relação a alocação a risco, mantenho uma visão construtiva para a curva longa de juros no Brasil, mas entendo que o cenário externo possa dar um tom mais volátil no curto-prazo. Estruturalmente, a postura do governo será fundamental no pos impeachment. Caso o apoio do congresso as medidas de ajuste fiscal se mostre fragilizada, a visão mais positiva deverá ser revista. O mesmo vale para a posição vendida em inflação implícita na parte intermediária da curva. A despeito de acreditar que esta classe de ativos acaba sendo mais defendida devido a postura mais dura e ortodoxa do novo BCB, entendo que há um componente fiscal relevante na posição. Finalmente, mantenho um nível de hedge mais elevado no âmbito externo, devido aos novos sinais de fragilidade da China e postura mais hawkish do Fed.

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