The trend is your friend...
Os dados de emprego nos EUA foram extremamente fortes, tanto no
tocante ao headline quanto no que diz
respeito a seus detalhes. A tendência do mercado de trabalho se mostra bastante
robusta. O número levou o mercado a reprecificar, ainda que de maneira tímida,
a probabilidade de uma alta de juros este ano. Neste momento, o mercado embute
um risco de 25% de uma alta de 25bps no FOMC de setembro, e menos de 50% de
probabilidade de uma alta ainda este ano. A baixa propensão do mercado em
precificar uma maior probabilidade de alta de juros mostra como os investidores
estão cansados e descrentes, após inúmeras tentativas do Fed em dar sequência
ao processo de normalização monetária.
Eu fiquei bastante surpreso com os movimentos dos ativos de
risco após os números de hoje. Entendo e concordo com a abertura de taxa de
juros em G10. Eu esperava um movimento mais forte de alta do dólar no mundo, em
especial contra G10. O cenário para bolsas me parece mais ambíguo, mas não dá
para discordar do movimento de alta, baseado na redução dos riscos de recessão,
em especial na economia dos EUA.
Esperava, no mínimo, uma pausa no movimento de busca por yield/carry.
Contudo, o número de hoje reduziu os riscos de uma desaceleração
mais rápida e acentuada da economia mundial, sem que precificasse um risco
maior de inflação ou de alta de juros. Assim, “segue o jogo” de um crescimento
global baixo, com flutuações em torno da tendência, mas sem riscos de recessão,
o que tem sido lido pelo mercado como positivo para ativos de risco, em
especial daqueles países que apresentam fundamentos saudáveis, ou em vias de
melhora, e/ou yields que compensem os
riscos de investimento.
Há espaço para que o mercado precifique de forma mais incisiva
uma alta de juros nos EUA, e Yellen terá oportunidade de se explicar em Jackson
Hole. Contudo, sem riscos reais de inflação, ou melhor, sem riscos de que o Fed
acelere de fato este processo de alta de juros, o mercado parece disposto a dar
sequência a busca por ativos de risco.
Um tema que pode vir a virar foco do mercado, mas ainda parece
cedo para entrarmos em detalhes, é a “japanização” da economia dos EUA. O Japão
apresenta baixo crescimento, baixa inflação, mas um mercado de trabalho
robusto, já há vários anos. A Europa já caminha para este cenário, mas com
muitos países com taxas de desemprego elevadas. Agora, os EUA parecem entrar
nesta mesma trajetória. Contudo, isso é um tema para outro fórum que, neste
momento, não deverá afetar o humor dos mercados financeiros globais.
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