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A terça-feira foi de aversão a risco nos mercados locais e globais. A decisão da China em impor um compulsório de 20%, sem remuneração, e com os recursos sendo travados por um ano, foi visto pelo mercado como uma tentativa atabalhoada e desesperada de contar o forte fluxo de saída de recursos (outflow) do país, evitando pressões para depreciações adicionais da moeda. A medida irá enxugar liquidez do mercado em um momento em que o PBoC busca aliviar as condições monetárias e dar alguma sustentação ao crescimento. Além disso, reduz a capacidade do setor corporativo de promover hedge cambial, trazendo novas ineficiências a um mercado que caminhava em direção a liberalização financeira.

A situação na China ainda demanda cautela. O governo parece deter os instrumentos capazes de suavizar os ciclos econômicos e os stress de mercado. Contudo, o país caminha cada vez mais rápido para um cenário clássico de crise emergente, como aqueles observadas nas décadas de 80 e 90 na Ásia e na América Latina.

Como comentei pela manhã, ao que me parece, serão necessárias medidas adicionais de estabilização do crescimento para que a economia mundial retome um trajeto mais robusto, viabilizando uma estabilização mais consistente dos ativos de risco.

No Brasil, os ativos locais reagiram ao mau humor externo e continuaram digerindo a decisão do governo em enviar ao congresso uma previsão de déficit primário para 2016. As evidências anedóticas mostram que não há consenso político para que caminho seguir de agora em diante. Ninguém quer ter o ônus de arcar com alta de impostos, e o governo não tem nenhuma intenção em reduzir seus gastos em um cenário de baixíssima popularidade e falta de apoio do congresso. A economia está definhando, enquanto o país parece estar sem uma liderança capaz de unir as forças necessárias para conduzir um processo que, de qualquer maneira, seria longo, tortuoso e sofrido.

Não houve novidades relevantes no cenário macro. Nos EUA, o ISM Manufacturing saiu de 52,7 para 51,1 pontos em agosto, abaixo das expectativas de 52,5 pontos. No Brasil, a balança comercial apresentou superávit de $2,69 bilhões em agosto, mostrando uma demanda doméstica bastante fraca.


Como comentei no final de semana, diante deste quadro de incertezas, acredito que o momento seja de manter uma exposição a risco baixa e tentar se apropriar de assimetrias apresentadas pelo mercado. A volatilidade alta acaba proporcionando oportunidades de posicionamento (alocação a risco) mais táticas em dias que aparentem movimentos excessivos de preços que, em muitos casos, são gerados devido a questões técnicas de mercado. Eu ainda vejo espaço para uma alta estrutural do dólar no mundo e estarei olhando oportunidades de alocar risco nesta direção. Vejo valor nas bolsas da Europa, mas as incertezas de curto-prazo requerem posições via estruturas de opções com perdas limitadas ao prêmio. Com a recente alta de volatilidade nestes mercados, algumas estruturas vendidas em vol com prazo mais longos podem fazer sentido. Os ativos emergentes (FX, RV, juros locais e crédito) devem continuar sobre pressão. Uma postura mais agressiva dos BCs ao redor do mundo, contudo, pode trazer algum alívio pontual a esses ativos, caso sejam realmente efetivadas.

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