EUA em foco.

Às vésperas da reunião do FOMC, os ativos de risco tiveram um desempenho bastante interessante, especialmente nos EUA. As vendas no varejo de agosto superaram as expectativas do mercado se levarmos em contas as revisões do mês anterior, enquanto a produção industrial mostrou um quadro um pouco mais desafiador para a indústria norte americana, o mesmo sinal transmitido pelo Empire Manufacturing de setembro, também divulgado hoje.

De qualquer maneira, a quarta-feira foi marcada por uma robusta alta das bolsas norte americanas, seguida de um leve viés de fortalecimento do dólar contra G3, e acentuada abertura de taxas de juros no país. O movimento me parece ser uma reação a um cenário que se mostra ainda saudável para a economia dos EUA, mesmo diante dos desafios externos (China e EM). A divulgação de dados que mantem as perspectivas de um crescimento em torno de 2,5%-3% nos próximos trimestres reduz o risco de cauda para a economia mundial, o que é visto como positivo pelo mercado de renda variável, mas elevando-se as chances do começo de um processo de alta de juros mais cedo do que tarde, o que ajuda a dar suporte ao dólar no mundo e as taxas de juros nos EUA. As moedas emergentes caminham em uma linha tênue entre melhores perspectivas de crescimento, de um lado, e juros mais altos nos EUA, de outro.

Minha visão permanece de que o Fed deveria elevar os juros nesta reunião, passando uma mensagem de gradualismo em relação a passos adicionais de aumento de juros. Os ativos de risco não deveriam reagir necessariamente de maneira negativa a este cenário, mas o dólar deveria se fortalecer (especialmente contra G3) e a curva de juros apresentar um flattening. Caso o Fed opte por não agir nesta reunião, o que ainda parece ser o cenário mais provável para a maioria do mercado, ele terá o desafio de manter as expectativas para uma alta de juros ainda este ano vivas, o que manteria a incerteza do cenário a reação dos ativos de risco seria de difícil leitura.

O Brasil ainda vive um momento distinto. As medidas de ajuste fiscal anunciadas ontem tiveram uma acolhida morna pelo congresso e pela sociedade civil. De um lado, o câmbio continua se mostrando o amortecedor automático de um cenário ainda delicado, o que vem afetando negativamente o mercado de juros. Por outro lado, a manutenção de alguns benefícios ao setor corporativo (JCP, por exemplo) acabou sendo visto como positivo pelo mercado de renda variável. O cenário local continua delicado e incerto. A dinâmica do mercado de câmbio e de juros segue ruim, e sem sinais consistentes de uma melhora mais estrutural. Este ambiente acaba mantendo a tendência negativa para os ativos locais, pelo menos até que uma melhora mais substancial de cenário (aprovação do ajuste fiscal, eventual mudança de governo e etc) seja realizada.


Em sua aparição no Senado, Tombini optou por manter a mensagem dos recentes documentos oficiais, não adicionando ruído a um cenário já incerto.

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