Brasil e China: Alguns breves comentários.

Brasil – Impeachment: O fluxo de noticias continua ambíguo, reforçando um cenário extremamente desafiador do ponto de vista político no país. Em primeiro lugar, a possibilidade do impeachment do atual governo parece ter voltado definitivamente à pauta do congresso e da sociedade. A mídia local teve acesso à delação premiada de Ricardo Pessoa, em que ele confirma o pagamento de propina para o PT desde 2004, com os pagamentos tendo sido intensificados nos períodos eleitorais. Além disso, o PF pediu que o STF investigasse a possibilidade do ex-presidente Lula ter sido favorecido pelo esquema do “Petrolão”. Não apenas o PT se vê diante de acusações gravíssimas, como os principais caciques do PMDB parecem terem sido sugados para p olho do furação da Operação Lava-Jato, com a recente delação premiada de Fernando Baiano. Neste ambiente de incerteza, cresce na sociedade civil o sentimento de indignação, e a pressão pelo impedimento do atual governo. A Câmara dos Deputados sinaliza que irá dar seguimento, em breve, a análise de alguns pedidos de impeachment que tramitam na Casa.

Ajuste Fiscal: No tocante ao cenário econômico, a mídia continua ventilando potenciais medidas de ajuste fiscal que possam ser anunciados pelo governo. Por hora, nenhuma das medidas de cortes de despesas ventiladas se mostram capazes de serem fortes o suficiente para alterar a contrariedade do congresso em aprovar novos impostos. Fala-se em cortes na ordem de R$15 bilhões. O governo já desistiu de um anuncio conjunto de medidas, e o “pacote de ajuste” deve ser anunciado “a conta gotas” até o final do mês. A receita federal anunciou na sexta-feira que irá buscar o pagamento de débitos fiscais na ordem de R$20 bilhões de grandes empresas. A medida já está sendo pesadamente criticada por advogados da área tributária. As medidas de cortes de despesas, por hora, mostram-se cosméticas e sem impactos relevantes no orçamento. O governo continua focado em tentar aprovar aumento de impostos que, no atual cenário, dificilmente serão aprovados por um congresso extremamente reticente em ficar com a maior parte do ônus do ajuste. Os ruídos em torno de Joaquim Levy ainda são elevados, e ninguém sabe ao certo até quando ele irá durar no cargo. Enfim, a situação continua delicada e sem solução. Os próximos dias serão fundamentais para sabermos a real disposição do governo em seguir adiante com seu projeto de ajuste econômico. O anuncio de medidas críveis será visto como positivo pelos mercados locais, especialmente diante do atual preço dos ativos. Caso contrário, poderemos entrar em uma nova e fatídica espiral negativa para os ativos locais.


China – Os dados de atividade econômica na China de agosto, divulgados na manhã deste domingo, mostram uma demanda interna estável, com as vendas no varejo saindo de 10,5% YoY para 10,8% YoY, acima das expectativas de 10,6% YoY. Contudo, os indicadores de produção e investimentos voltaram a decepcionar as expectativas, com a produção industrial subindo de 6% YoY para 6,1% YoY, abaixo das expectativas de 6,5% YoY. Já o Fixed Asset Investment caiu de 11,2% YoY YTD para 10,9%, abaixo das expectativas de estabilidade. A despeito das surpresas negativas e dos sinais ainda inequívocos de fragilidade da economia, o crescimento dá sinais incipientes de estabilização. Novas medidas de suporte a economia podem ser necessárias, e deverão ser utilizadas pelo governo afim de evitar uma rodada adicional de desaceleração do crescimento. Um governo mais proativo deveria ajudar reduzir os “riscos de cauda” no curto-prazo, como um “pouso forçado” da economia. Não devemos esperar, contudo, uma aceleração rápida e acentuada do crescimento. O período de crescimento de dois dígitos do PIB ficou para traz e a “nova normalidade” deverá ser de crescimento abaixo de 7% nos próximos anos. 

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