Risk-on!

A manhã desta quarta-feira está sendo marcada por uma forte recuperação dos ativos de risco, em grande parte liderada pelas bolsas dos países desenvolvidos, e sem um triggermuito claro. Assim, estamos vendo um movimento de alta global das bolsas e das commodities, uma descompressão sobre os ativos emergentes, um movimento de dólar mais fraco no mundo e leve abertura de taxas de juros nos EUA.

A agenda do dia terá apenas o Labor Market Condition Index nos EUA como destaque.
China – As  bolsas do país tiveram um dia de recuperação. Contudo, os sinais provenientes da economia ainda são pouco animadores. As exportações de agosto passaram de -8,3% YoY para -5,5% YoY, enquanto as importações caíram de -8,1% YoY para -13,8% YoY, levando a balança comercial a um elevado superávit de $60,3b. O número mostra alguma recuperação da demanda externa, mas um quadro desanimador em relação a demanda interna do país.

Europa – O PIB do 2Q na Área do Euro apresentou alta de 0,4% QoQ e 1,5% YoY, superando as expectativas do mercado (0,3% QoQ  e 1,2% YoY). O PIB reforça os sinais positivos para o crescimento da região, que parece estar bem posicionada para superar os obstáculo impostos pelo cenário de curto-prazo.

Brasil – Não há novidades relevantes além do que já foi amplamente comentado ao longo do final de semana. Em suma:

Durante o final de semana tivemos alguns desenvolvimentos que merecem destaque. No Brasil, vimos os primeiros sinais de apoio à Joaquim Levy após o fatídico episódio do anúncio de um déficit fiscal primário para 2016. A equipe no entorno do Palácio do Planalto atuou em defesa de Levy e buscou reafirmar o compromisso com a busca da meta de 0,7% de superávit primário para 2016. A mídia fala em aumento de impostos, na possibilidade de um "imposto de travessia" e na tentativa de conter gastos, em especial na Previdência. Eu vejo as declarações como positivas, especialmente frente à espiral negativa dos ativos locais ao longo da semana passada. Contudo, acredito que ainda não exista apoio político para esta travessia. Além disso, o mercado deverá continuar cético em relação à capacidade deste governo em entregar qualquer tipo de ajuste econômico frente as decepções dos últimos meses. Em suma, não podemos descartar uma estabilização de curto prazo para os ativos brasileiros, mas ainda vejo a equalização da crise política como a única maneira de reverter o atual quadro em que o país se encontra. A despeito de respiros pontuais, a tendência ainda me parece ser negativa para os ativos brasileiros.

O STF pediu abertura de investigação contra dois dos principais ministros no entorno do Palácio do Planalto, Edinho Silva e Aloísio Mercadante, referentes a campanhas eleitorais passadas. Além disso, há indicações de que alguns importantes senadores, como Renan Calheiros, também serão vítimas de investigações. De maneira geral, este tipo de avanço da Operação Lava-Jato deve manter o Planalto sobre pressão, sem muito apoio de sua base, e sem qualquer sinal de equalização da crise política que assola o país. Assim, o Brasil deve continuar vivendo um momento de pouca visibilidade política, extrema dificuldade de governabilidade, e enorme desafio para superar a crise econômica. Mantenho minha visão de que na ausência de uma solução política, as melhoras nos ativos locais tenderão a ser pontuais e localizadas. A tendência ainda deve permanecer negativa.

Diante da deterioração dos ativos locais nos últimos dias, seria natural esperarmos algum tipo de atuação do BCB na tentativa de suavizar os movimentos, no câmbio e no mercado de juros. Por hora, ainda não vejo o que poderia ser feito nesta direção. Além disso, não há sinais de que o governo prepara medidas nesta direção.

O ideal seria sinalizar para um ajuste fiscal crível, trabalhar junto à base para sua aprovação e reduzir, pelo menos temporariamente, os ruídos em torno das contas públicas. Algum avanço foi feito no final de semana, com a sinalização de um esforço em torno do ajuste na Previdência, a aprovação de um imposto de travessia e um apoio mais claro do Planalto a Levy. De qualquer maneira, essas medidas só serão bem sucedidas com apoio do Congresso, algo que ainda me parece incerto neste momento.

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