Dinâmica de crise [Update]

A sexta-feira foi de dinâmica extremamente pobre para os ativos de risco. Os receios em relação a saúde da economia da China, aliados as perspectivas de uma alta de juros nos EUA, continuam a ditar uma dinâmica negativa para os mercados globais. Não tivemos sinais adicionais de enfraquecimento das economias da Ásia, mas o mercado está extremamente sensível a reabertura dos mercados chineses na segunda-feira, após o feriado na segunda metade desta semana. Além disso, os dados de reservas cambiais, também agendados para o começo da semana que vem na China, estão gerando tremores entre os investidores. Uma perda de reservas muito expressiva pode mostrar um governo gastando enormes somas de reservas para conter a depreciação cambial.

Do ponto de vista externo, precisamos de medidas mais agressivas de suporte ao crescimento ao redor do mundo mas, em especial, na China e nos demais países emergentes ou então, sinais mais claros de estabilização do crescimento nesta parte do mundo. Só assim, os investidores serão capazes de dar algum alívio aos ativos de risco. Enquanto nenhum desses eventos ocorre, a tendência continuará sendo de pressão sobre os ativos de risco, com um foco claro sobre os mercados emergentes.

No caso do Brasil, o cenário se mostra ainda mais desafiador. Além deste panorama externo totalmente avesso ao país, temos um ambiente local fragilizado e sem nenhum sinal claro de reversão. A economia e os mercados locais estão totalmente a mercê do cenário político. A despeito dos sinais de permanência de Levy a frente da equipe econômica, os sinais ainda são de que existe pouca margem de manobra para produzir o ajuste necessário para colocar o país de volta aos trilhos. Uma estabilização do cenário externo seria bem-vinda, e poderia ajudar, pontualmente, uma estabilização da situação interna. Contudo, sem uma equalização dos problemas políticos locais, dificilmente teremos uma melhora mais consistente e permanente do cenário para o país e seus ativos.

A curva local de juros já precifica altas de 45bps+22bps+15bps nas próximas reuniões do Copom. Os FRAs curtos já operam todos em torno ou acima de 15%. Com a recente depreciação cambial e, confirmado um déficit fiscal para 2016, o BCB poderá ter que utilizar a ancora monetária para conter as expectativas de inflação. O papel do BCB no curto-prazo, contudo, é extremamente desconfortável. A economia encontra-se em uma profunda recessão, sem nenhum sinal de recuperação. A inflação está elevada. Por um lado, irá sofrer os efeitos defasados de política monetária e da desaceleração da economia. Por outro lado, sofrerá os efeitos do repasse cambial e de potenciais novos aumentos de impostos.

No mercado de câmbio, a dinâmica começa a parecer disfuncional, mas sem nenhuma indicação de que existe algo a ser feito para conter o movimento. Eu vejo um mercado tecnicamente comprado em dólar, mas a dinâmica recente mostra que outros vetores (locais e externos), muito mais relevantes, continuam empurrando a moeda norte americana. Por hora, a tendência continua a ser claramente de alta do dólar. As melhoras tenderão a ser pontuais, rápidas e pouco acentuadas (vide o movimento de ontem).

Eu mantenho uma visão negativa, mas sem recomendar grandes exposições a risco no atual nível de preços. Acho que o momento seja de adotar postura mais tática, com posições menores e stops bem definidos. A volatilidade continua elevada, fruto das incertezas do cenário. Estou em busca de uma maior claridade do cenário, ou níveis de preços mais atrativos, antes de voltar a ter exposição a risco relevante novamente.


Teremos um final de semana prolongado, no Brasil e nos EUA, para digerir a situação.

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