Brasil: Ruídos Políticos, Cessão Onerosa e Crescimento.


Os ativos de risco apresentaram ontem um dia de realização de lucros. Os mercados estão abrindo hoje sem grandes movimentações. O movimento me parece natural após a alta rápida e acentuada verificada neste início de ano. Por aro, não vejo mudança de tendência. Acredito que o nível de preços e valuations possam se mostrar uma restrição para a continuidade do processo de apreciação dos ativos de risco, mas para uma mudança do viés positivo do mercado precisaremos de algum “trigger”, seja ele novos sinais de desaceleração do mundo, e/ou resultados corporativos mais negativos, e/ou ausência de acordo comercial entre China e EUA, entre outros.

Os ativos no Brasil seguiram a tendência global, e ainda foram acentuados por novos ruídos envolvendo o avanço da reforma da previdência e a relação entre o Executivo e o Legislativo. Nada diferente daquilo que temos vistos desde o início do ano. Ainda vejo o processo de aprovação da reforma como longo e tortuoso, permeado por ruídos e volatilidade do preço dos ativos.

Ontem foi anunciado um acordo para a Cessão Onerosa. Como era amplamente esperado após rumores na mídia, a Petrobrás irá receber US$9bi do Governo. É mais um avanço positivo para a companhia e para o país. Este acordo ajudará a empresa em seu processo de desalavancagem e de investimentos.

No campo econômico, as vendas no varejo de fevereiro ficaram abaixo das expectativas, mostrando estabilidade no mês. Os números confirmam um cenário de recuperação apenas gradual do crescimento. Este vetor da economia ainda é um ponto de atenção que precisa ser monitorado no detalhe. Ainda não acho que seja o caso de revisar a visão de um crescimento em torno de 1,7%-2% para este ano, mas é um número que cada vez mais se coloca como um teto de crescimento do que como uma expectativa central.

No cenário internacional, o JOLTs Job Openings nos EUA ficaram abaixo das expectativas, mostrando arrefecimento do mercado de trabalho. O número é de fevereiro e não de março então, está em linha com a desaceleração vista no Payroll do mês retrasado (já superada pelo Payroll de março divulgado na semana passada). De qualquer maneira, ainda vejo um risco do “delta” de desaceleração da economia dos EUA ser maior do que o resto do mundo, colocando pressão baixista no dólar e podendo afetar a bolsa do país.

Hoje pela manhã, os dados de produção industrial na Inglaterra superaram as expectativas, mostrando alguma estabilização do crescimento da Europa. Este é mais um indicador que pode confirmar um momento, mesmo que pontual, de estabilização do crescimento global. Não teremos certeza, pelo menos nos próximos 2-3 meses, se esta é uma estabilização consistente e permanente, ou apenas pontual e localizada.

O Brexit caminha para uma extensão mais longa de cerca de 1 ano, criando riscos para o país e para a região, mas afastando um cenário mais deletério de “Hard Brexit” no curto-prazo, ou seja, uma saída da União Europeia sem acordo.


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