Brasil: Política e Inflação. Crescimento global ainda merece atenção.
Os
ativos de risco globais apresentaram ontem um dia de tom mais positivo. O Brasil,
por sua vez, apresentou realização de lucros. Nesta manhã, vemos acomodação do
humor global risco, com leve queda das bolsas.
No
Brasil, o foco ficou por conta da ida de Paulo Guedes a CCJ. Os jornais de hoje
estão dando destaque ao clima beligerante da reunião e a falta de apoio e inexperiência
da “base aliada”. Estes vetores podem ter contribuído para a piora dos ativos
locais ontem.
Acredito
que este evento tenha sido dentro das expectativas. Ainda não existe uma “base
aliada”, que está sendo construída ao longo do tempo, e a inexperiência dos
novos deputados do PSL prejudica o governo em eventos como o de ontem. Isso faz
parte da curva de aprendizado que o governo vem construindo. Não vejo mudança
de cenário, a despeito do ruído pontual.
Podemos
chamar a atenção para uma leve deterioração da inflação corrente, vista nas
coletas de inflação e no IPC-S, muito puxada por Alimentação. Este tipo de
movimento não deveria alterar o cenário para política monetária, mas ajuda a
reduzir as expectativas de quedas adicionas da Taxa Selic e trazer algum
desconforto às posições excessivamente aplicadas em juros.
Um
artigo do Valor de hoje mostra de maneira anedótica o que venho comentado há cerca
de 10-15 dias, ou seja, para uma melhora no quadro técnico local, com redução
expressiva das alocações em ativos do Brasil: https://www.valor.com.br/financas/6196689/gestores-reduzem-exposicao-risco.
No
cenário internacional, ontem vimos, nos EUA,
uma queda acima das expectativas do ISM Non-Manufacturing. O número ficou ainda
em patamar saudável e condizente com um crescimento razoável, mas o “delta” de
desaceleração precisa ser monitorada e é um ponto de atenção.
Na Alemanha, o Factory Orders divulgado
hoje pela manhã caiu 4,2% MoM em feveiro. O número mostra uma economia ainda
bastante fragilizada. Vale ressaltar que este número é de fevereiro e os PMIs
de março já mostraram alguma estabilização do crescimento. Pode haver algum “lag”
para os indicadores de crescimento, mas ainda me parece que estamos longe de
poder cantar uma vitória definitiva em relação ao crescimento global.
Reforço que vejo a redução de alguns riscos de
curto-prazo para a economia mundial, mas não abandonei minha visão de que estamos
próximos ao estágio final do ciclo econômico. Os números devem ser erráticos nesta
fase do ciclo, o que inviabiliza uma visão mais concreta da economia mundial.
Os bancos centrais ganharam tempo ao alterar sua postura de normalização
monetária. Isso foi suficiente para aliviar a pressão sobre os ativos de risco
e aliviar as condições financeiras (via preço de ativos de risco), mas tenho
dúvidas se será suficiente no médio-prazo para evitar uma mudança o ciclo de
crescimento.
Nesta fase do ciclo, com este pano de fundo,
ativos de “carry” e “yield” acabam sendo favorecidos, como é o caso de alguns
ativos emergentes (juros locais, dívida externa em dólar e etc), mas estamos
entrando em uma fase em que o nível de preços e valuations podem se tornar um empecilho
para ganhos adicionais de capital. Existe ganho de carrego enquanto perdurar
este “interregno benigno”, mas os ganhos de capital se tornam mais desafiadores
e o risco\retorno menos atrativo.
Finalmente,
há novos indícios de que um acordo entre China e EUA pode ser anunciado em
breve. Acredito que grande parte disso já esteja precificado nos mercados. Vejo
espaço para uma recuperação pontual na eventualidade do anuncio de um acordo.
Caso o acordo não ocorra, a deterioração de preços e de humor pode ser rápida e
acentuada (aqui: https://www.bloomberg.com/news/articles/2019-04-04/trump-to-meet-china-s-liu-in-sign-trade-talks-reach-final-stages?srnd=premium).
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