RTI, Risco Trump e China.

Segue abaixo um breve resumo dos acontecimentos do dia:

Brasil – Destaque para o Relatório de Inflação. Segundo nossa Área Econômica:

Em relação à ata anterior e a comunicação recente do BC, o RI trouxe novidades apenas marginais. Incorporaram a um dos documentos principais do BC (já aparecia em discursos): “Um ambiente com expectativas de inflação ancoradas também permite que o Comitê siga um princípio que confere flexibilidade aos regimes de metas para a inflação e que se aplica ao Brasil. Nesse ambiente, essa flexibilidade permite que os custos de desinflação sejam levados em conta nas decisões de política monetária”; O cenário de aceleração praticamente sacramentado para janeiro, mas por enquanto o que as projeções de inflação do BC sugerem é que o ritmo de quedas é de -50bps por reunião; Vale mencionar que em relação à ata, o cenário de juros do Focus incorporou mais uma queda de -25bps em 2017 (finalizando o ano em 10,5%pa) e manteve 2018 em 10%. Mesmo assim, a projeção do cenário de mercado melhorou ligeiramente para 2018 (de 4,6% para 4,5%), sugerindo um pequeno aumento do orçamento de juros versus ata; No cenário de referência, não houve alteração em relação à ata (provavelmente já haviam incorporado o menor crescimento); O BC revisou o crescimento de 2017 de 1,3% para 0,8% (e de 2016 de -3,3% para -3,4%). Há espaço de surpresa para baixo nesse crescimento esperado pelo BC, o qual poderá abrir espaço para um orçamento maior de juros ou um ritmo mais rápido de quedas (por exemplo -0,75p.p. por reunião, mas isso poderá ocorrer para depois da reunião de janeiro). Há uma razoável possibilidade do BC mais à frente condicionar o ritmo de quedas mais rápido (-75bps, por exemplo) a surpresas adicionais na atividade e inflação; As expectativas para o IPCA de curto prazo do BC estão superestimadas (dezembro: BC = +0,48% vs. Icatu = +0,27%, janeiro: BC=+0,61% vs. Icatu = +0,45%). Já para fevereiro, a estimativa do BC poderá ser superada, mas dependerá do timing do choque recente de CRB em R$ aparecer na inflação do IPCA; Estamos trabalhando com o BC reduzindo em -50bps na reunião de janeiro e um cenário cada vez mais plausível é o da taxa Selic caindo para 10% já em 2017.

Na minha visão, está consolidado um cenário para um ciclo de queda da taxa Selic mais agressivo e mais estrutural do que o anteriormente antecipado. O mercado já precificou parte deste ajuste de cenário, mas há espaço para novas rodadas de fechamento de taxas de juros, em especial na parte intermediária e longa da curva. Como nenhum processo costuma ser linear, acho razoável supor que deveremos observar alguma volatilidade ao longo deste processo, como vivenciamos ao longo dos últimos meses. Por ora, ainda está valendo a máxima de que “the trend is your friend!”.

EUA – O dia foi marcado pela divulgação de uma bateria de dados econômicos. De maneira geral, os números mostraram um quadro de crescimento ainda moderado, porém relativamente estável, com flutuações em torno de uma tendência em torno de 2%. Existe uma expectativa de que o crescimento do país apresente alguma aceleração ao longo dos próximos meses, devido a sinalização de política econômica que deverá ser implementada pelo novo governo. Contudo, há evidencias de um 4Q do ano muito mais fraco do que o 3Q. Além disso, existe uma incerteza relevante em torno do novo governo. O mercado de trabalho segue robusto, a despeito de algum arrefecimento apresentado pelo Jobless Claims (que saiu de 254kpara 275k). A inflação se mostra contida, apesar de algum movimento estrutural de aceleração (Core PCE 0,0% MoM e 1,6% YoY).

As últimas indicações de Donald Trump para o novo governo norte americano, após uma bateria de nomes considerados robustos (profissionais muito bem-sucedidos na iniciativa privada), reascenderam o risco de medidas mais duras por parte do novo governo. Em especial, no tocante a temas sensíveis, como política externa e nas relações comerciais entre os EUA e seus principais pares.

Até o momento, os mercados só se concentraram nos eventuais efeitos positivos que um governo liderado por Trump poderia gerar na economia e no preço dos ativos de risco. Existem riscos que precisam ser monitorados (protecionismo, medidas inflacionárias e etc). Não acredito que seja o caso de adotar um viés negativo no curto-prazo, mas os preços de alguns ativos parecem ter apresentando performance, talvez, a frente do que a realidade poderá concretizar. Assim, acho natural movimento de acomodação ou, até mesmo, alguma realização de lucros em mercados específicos.

China – O desempenho dos ativos mais dependentes da demanda chinesa está confirmando, nos últimos dias, a tese que apresentou neste fórum de que uma postura um pouco mais neutra por parte do governo poderia gerar sobre alguns ativos de risco. Reforço minha mensagem dos últimos dias:

A única mudança que vejo como um sinal mais importante para uma eventual mudança de fundamentos ficou por conta da Central Economic Work Conference na China. A minha visão é que o governo chinês mudou o foco do crescimento para a administração de eventuais problemas financeiros e “bolhas” localizadas. Esta nova postura pode vir a ter impacto negativo em alguns mercados, como o de commodities, que subiram exponencialmente nos últimos meses. Alguns ativos de risco, em especial, foram muito influenciados por movimentos especulativos na China. Agora, com a perspectiva de uma possível desaceleração da economia, capitaneada por medidas mais restritivas, poderemos conviver com movimentos de correção de preços. Ainda não vejo este cenário como a migração para uma crise, mas apenas um ambiente menos construtivo, ou um pouco mais cauteloso no curto-prazo.


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