Brasil: Governo sinaliza para flexibilização do mercado de trabalho. / China em Foco.
O final de semana teve como destaque a continuidade da cobertura dos veículos de comunicação no Brasil em torno do encerramento da delação premiada da Odebrecht e de seus 77 executivos.
A mídia continua vazando partes deste processo, implicando nomes conhecidos das investigações e importantes figuras políticas locais. Até o momento, o impacto político desses vazamentos tem sido pequeno, mas é provável que, a medida que novas informações surjam no cenário, o governo tenha que tomar medidas mais contundentes para lidar com mais este obstáculo. Os jornais de hoje, por exemplo, já ventilam a possibilidade de uma ampla reforma ministerial no começo de 2017.
Diante dos desafios políticos impostos pela Operação Lava-Jato, e frente a uma das piores crises econômicas já vividas pelo país, o governo sinaliza com mais reformas econômicas com o intuito de dar sustentação ao crescimento. Além das medidas anunciadas no final da semana passada, os jornais de hoje reportam que existe um estudo para flexibilizar o mercado de trabalho (O governo deve anunciar na próxima semana uma série de mudanças nas regras trabalhistas. O pacote, que ainda está em discussão, prevê a criação da modalidade de contratação por hora trabalhada, com jornada flexível. Segundo Nogueira, entre os temas em que já há consenso está a de aumentar o prazo dos contratos temporários de 90 dias vai subir para 180, estabelecer a jornada parcial de 25 horas de trabalho, com direito a cinco horas extras, e da possibilidade de a convenção coletiva deliberar sobre a forma que a jornada semanal vai ser executada. O anúncio dessas novas medidas será feito junto com a edição da medida provisória para transformar o Programa de Proteção ao Emprego em uma ação permanente do governo que passará a ser chamado de Programa Seguro Emprego. Não há consenso, porém, se essas outras mudanças serão feitas via MP ou projeto de lei. Fonte: Broadcast). Na minha visão, seria mais uma medida extremamente positiva, em meio a um ambiente ainda bastante hostil para o crescimento do país. Enquanto o governo trabalha em medidas pontuais e localizadas com o intuito de dar alguma sustentação ao crescimento, a Reforma da Previdência avança de forma favorável nas comissões da Câmara.
Enfim, não há dúvidas que estamos em meio a um cenário extremamente desafiador. Não há perspectivas concretas de recuperação da economia no curto-prazo. Contudo, ao invés de optar por medidas imediatistas e, por vezes, adotar postura que no futuro se mostrará errada, este governo tem mostrado que reage as crises e aos obstáculos com medidas, em sua maioria, acertadas, em busca de reformas estruturais que venham a melhor os fundamentos de longo-prazo. Entendo que nem todas as medidas serão acertadas. Nem tudo que será proposta será efetivamente colocado em prática. Todavia, a postura adotada me parece acertada. O risco continua a ser o avanço da Operação Lava-Jato sobre o atual governo e um cenário externo menos óbvio.
Há algum tempo que a China deixou de ser uma preocupação de curto-prazo para os mercados financeiros globais. Acho oportuno, neste momento, relembrar o que vejo como cenário de maior probabilidade para o cenário econômico do país.
Na minha visão, a China passará por um longo e tortuoso processo de “stop-and-go”. Vivenciaremos períodos de maior estabilidade do crescimento, como o que estamos observando nos últimos 6 meses, pontuados por momentos de desaceleração mais abrupta e preocupante da economia, como o observado no final de 2015 e nos primeiros meses de 2016.
Nos últimos meses, vimos uma forte expansão do crédito e dos incentivos fiscais por parte dos policy makers locais, com o intuito de dar sustentação ao crescimento. As medidas foram bem sucedidas, e a economia hoje dá sinais de estabilização. Ao mesmo tempo, o governo foi bem sucedido na administração de um processo gradual de depreciação do câmbio (CNY), mesmo com sinais de fortes fluxos de saídas de recursos do país. O efeito colateral destas medidas, contudo, foi mais uma rodada de endividamento e expansão do crédito, que a história econômica global mostra ser insustentável a longo-prazo.
Nos últimos dias, ou talvez nas ultimes semanas, começamos a ver o governo adotando uma postura mais neutra, menos expansionista, ou talvez mais restritiva, com intuito de frear a depreciação cambial e impedir a evolução de “bolhas” em alguns mercados específicos no país. Ao que tudo indica, passado este período de estabilização do crescimento chinês, poderemos entrar em um processo gradual de desaceleração da economia, induzida por essas medidas mais restritivas impostas pelo governo. Todavia, como tudo relativo a China tende a ser maximizado ao extremo, não podemos descartar um período de mais preocupação em torno do país.
Reforço que o cenário central ainda é de um processo longo e tortuoso de desaceleração gradual da economia, mas este caminho não costuma ser linear e nem totalmente gradual, devido as características da economia chinesa e dos problemas enfrentados por seus governantes.
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