Brasil: BCB salva o dia!

O quadro técnico continua dando as cartas na dinâmica de curto-prazo dos ativos de risco. No cenário externo, o dia foi de bom desempenho dos ativos que são considerados “patinhos feios” pelo mercado, como as bolsas na Europa (vide desempenho da bolsa da Itália e dos bancos europeus em geral), além de uma performance positiva dos ativos emergentes, que foram fortemente pressionados desde a vitória de Trump. A lista é longa mas coloco aqui apenas dois desses exemplos. Com a chegada do final do ano, a tendência é que os mercados financeiros globais percam liquidez e que movimentos técnicos acabem acentuando algumas tendências de curto-prazo.

No Brasil, após uma abertura pressionada pelo afastamento do Presidente do Senado (tema tratado neste fórum hoje cedo, e replicado abaixo), observamos uma continua melhora de preços ao longo do dia. O mercado está encerrando o dia com forte alta da bolsa, leve queda do dólar e forte steepening da curva de juros. Atribuo essa melhora pela relativa sobriedade dos investidores com relação aos cenários políticos prováveis, pela tranquilidade do cenário externo, mas, principalmente, pela boa mensagem trazida pela Ata do Copom.

Na semana passada, escrevi que: Acredito que o cenário de inflação e crescimento já ensejam um processo mais agressivo de queda da taxa Selic. Entendia a postura do BCB até pouco tempo atrás, já que estavam no meio de uma batalha para retomar a credibilidade e ancorar as expectativas. Nas últimas semanas, diante dos dados pífios de crescimento, e das leituras mais construtivas de inflação, já vejo espaço para uma postura menos cautelosa por parte da autoridade monetária. O único vetor que me conforta é que as reuniões do Copom acontecem a cada 45 dias, e sempre há espaço para reverter os eventuais erros cometidos.

Na minha visão, a Ata do Copom de hoje desfez qualquer sensação negativa em torno do BCB. A mensagem do documento me pareceu bastante clara. Salvo uma mudança substancial no cenário de inflação e crescimento, a janela para uma aceleração do ciclo de corte de juros está “escancarada”.

Mais importante do que isso, havia ficado uma interpretação, talvez errada, por parte do mercado, de que o foco do BCB no cenário externo estaria ligado a taxa de câmbio. Assim, qualquer movimento deste ativo estava interferindo, negativamente, a curva de juros e o humor em torno dos ativos locais. O BCB dirimiu está interpretação, afirmando que: O possível fim do interregno benigno para economias emergentes pode produzir efeitos que dificultem o processo de desinflação. É possível, entretanto, que tais efeitos sejam mitigados por movimentos favoráveis nos preços de commodities com relevância para os termos de troca do país, o que teria caráter estabilizador. Além disso, o fim do interregno benigno pode implicar condições financeiras externas mais apertadas, o que adicionaria um componente desinflacionário. Não há, portanto, relação direta entre o cenário externo e a condução da política monetária.

O cenário base hoje é de uma queda de 50bps no próximo Copom, cenário que já está relativamente bem precificado na curva curta de juros. Existem cenário alternativos de aceleração ainda mais acentuada deste processo, caso o cenário de inflação e atividade ensejem decisão nesta direção.

Uma outra forma de pensar seria: Se o “plano de voo” era cair 50bps no último Copom (acho que esse argumento é palatável, dado tudo que foi escrito na Ata) mas optou-se por esperar sinais mais claros do cenário externo, caso o cenário continue estável, a queda adicional de 25bps não executada em dezembro poderia ser feita em janeiro, com uma queda de 75bps. Reforço que este não seja o cenário base, mas um cenário alternativo que precisa ser considerado.

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O Ministro do STF Marco Aurélio Mello, concedeu liminar em que afasta Renan Calheiros da presidência do Senado. A decisão pode vir a ser revertida pelo plenário do STF. Renan, por sua vez, entrará com recurso contra a decisão. Contudo, uma reversão desta decisão poderá levar algum tempo e, olhando de hoje, parece que dificilmente será revertida, dada a situação de Renan perante ao STF.

O vice-presidente do Senado é integrante do PT, e sofrerá pressão, de um lado, de seu partido, para rever a pauta de votação até o recesso parlamentar e, de outro lado, da base governista, para manter a agenda que já havia sido acordada junta aos lideres partidários. Ainda há 10 sessões parlamentares até o recesso. O mandato de Renan duraria até fevereiro de 2017, onde novas eleições seriam, de qualquer maneira, realizadas.

É inegável que a decisão do STF seja negativa para o curto-prazo, por trazer incerteza a um quadro político já delicado e, possivelmente, atrasar a pauta de votação do Senado. Em especial, o segundo turno da PEC do Teto dos Gastos pode vir a não ser aprovado no curto-prazo. Além disso, a Reforma da Previdência poderá ficar em segundo plano.

Se a saída de Renan for confirmada, é provável que novas eleições para presidente do Senado sejam convocadas, e um aliado do governo seja eleito, o que colocaria a agenda de votações e reformas de volta aos trilhos. Contudo, a incerteza inicial pode vir a pesar sobre um humor já ruim em torno do quadro político local.

Na noite de ontem, e linha com a nova política de preços visando a paridade internacional, a Petrobras anunciou um aumento da gasolina e do diesel, na ordem de 8%-9%.


Hoje pela manhã, o BCB divulgará a Ata da reunião do Copom, que deverá ficar em segundo plano após os últimos acontecimentos políticos no país.

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