Brasil: Processo de desinflação confirmado. Delação da Odebrecht entra na pauta da mídia.

Na sexta-feira o dia foi de acomodação para os ativos do Brasil, mesmo após um baixo número de inflação (IPCA), e em um ambiente de nova rodada de “reflation” no mundo desenvolvido, com uma nova onda de abertura de taxas de juros nos EUA dando suporte ao dólar no mundo.

Brasil – IPCA de novembro ficou cerca de 10bps abaixo das expectativas, reforçando a mensagem de um processo de desinflação em curso. O número de ontem dá espaço para que o mercado continue trabalhando com uma aceleração para o processo de queda da taxa Selic, o que já está precificado na curva curta de juros, co cerca de 4 quedas de 50bps nas próximas reuniões do Copom. Há espaço para um otimismo maior, com os investidores apostando em cortes mais acentuados, ou um ciclo mais prolongado, mas os números de inflação precisarão continuar mostrando está dinâmica positiva (a coleta segue nesta direção).

Segundo nossa área econômica:

IPCA com qualitativo bom e bem abaixo do esperado. Estamos trabalhando com IPCA em 0,45% (revisado para baixo), mas o risco pela coleta é ficar em 0,40%;O IPCA de novembro veio abaixo da mínima para meses de novembro entre 2004 e 2015. Nos últimos três meses, o IPCA tem rodado igual ou abaixo da mínima. A inflação de serviços rodando entre a mínima e a mediana; Foi o 3º mês consecutivo de surpresa para baixo nas expectativas Focus formadas há 2 meses atrás;A inflação de serviços dessaz rodando em 6% na média móvel trimestral anualizada, enquanto o núcleo de serviços em 6,5%. O índice de difusão de serviços (dessaz) subiu para acima da média histórica, mas na média móvel trimestral o número permanece baixo; A porção de comercializáveis (ex-alimentos) rodando em patamares baixos após ajuste sazonal (1,5% anualizada); Qualitativo bom + maior hiato do PIB + risco para baixo em energia elétrica => viés para baixo na nossa projeção de 2017;

No cenário político, os jornais de hoje começam a “vazar” a delação premiada da Odebrecht. Segundo a mídia, todo o núcleo central do PMBD, e do atual governo, inclusive o atual presidente, teriam recebido doações, ou teriam tido contato, com o “esquema de financiamento” envolvendo a empreiteira. 

As notícias de hoje são preocupantes, mas precisam ser analisadas com calma ao longo dos próximos dias. O processo de tramitação da delação premiada ainda será longo e, eventualmente, passará para o STF, onde, por diversas questões, as pautas tendem a demorar. Há um risco, que não consigo quantificar neste momento, de ruídos políticos adicionais, que venham a dificultar o avanço das reformas políticas no país. Contudo, por ora, temos que manter o foco na agenda do Congresso. Enquanto as medidas econômicas estiverem dentro do cronograma, acho que devemos manter uma visão cautelosamente construtiva em torno do avanço econômico local.

As notícias de hoje se encaixam perfeitamente bem no cenário que descrevo neste fórum há algumas semanas: Gostaria de reforçar minha visão de que o processo de recuperação econômica do país será longo, tortuoso e não linear. Após vários anos de política econômica malsucedida, o país não será “consertado” em 6 meses. Ruídos políticos irão existir. Pressão sobre a equipe econômica e o banco central serão inevitáveis. Contudo, precisamos manter o foco no que realmente importa. Por ora, o ajuste fiscal caminha dentro do cronograma. A PEC do Teto dos Gastos caminha para um desfecho positivo no Senado. A Reforma da Previdência será encaminhada nos próximos dias. As expectativas de inflação de longo-prazo estão ancoradas no centro da meta de inflação. O governo evolui em temas microeconômicos em setores essenciais para o crescimento estrutural de longo-prazo. Assim, ainda dou o benefício da dúvida a este Governo, e vejo os “problemas” recentes como ruídos de curto-prazo.

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