Brasil: Em busca de pilares para o crescimento.
O destaque do dia ficou
por conta dos dados de emprego nos EUA. Os números de novembro mostraram uma
criação de vagas de trabalho ainda saudável, com queda da taxa de desemprego,
mas com um arrefecimento dos rendimentos reais (em parte explicada pelo efeito
base de um mês anterior bastante robusto). A conclusão é de um mercado de
trabalho robusto. Os números não alteram a perspectiva de uma alta de juros
pelo Fed em dezembro. Contudo, apontam para um hiato do produto já bastante
fechado no país, e para a necessidade de um processo de normalização monetária
ao longo de 2017.
A despeito deste
cenário, o dia foi de enfraquecimento do dólar no mundo, sustentado por um
fechamento de taxas de juros nos EUA. O movimento pode ser explicado pelo
quadro técnico, por algum ajuste de expectativas em relação à política
econômica de Trump e pela proximidade do “referendum” na Itália, agendado para
este domingo.
No Brasil, a produção
industrial de outubro confirmou um quadro de pífio crescimento da economia. Segundo
nossa área econômica:
A Produção industrial veio um pouco abaixo do esperado (-1,1%
m/m dessaz vs. BBG: -0,8% m/m dessaz e -7,3%a/a vs. BBG: -6,9%a/a), colocando
um viés para pior na expectativa de PIB para o quarto trimestre; A queda na
produção industrial foi bastante disseminada; O segmento de bens duráveis
(leading em ciclos) segue muito próximo das mínimas; A nossa proxy de
investimentos observou forte queda na margem em outubro; O nível de estoques
subiu nos últimos dois meses (até novembro), representando um provável drag
para atividade industrial no curto prazo; Os indicadores de confiança segue
sugerindo taxas de crescimento a/a de investimentos significativamente
negativas.
No campo político, o
dia foi marcado por alguma movimentação do governo na direção de demonstrar
ação diante de um quadro de baixo crescimento e ruído político. Confesso que
não vejo muito espaço para medidas de estímulo. O melhor a ser feito, neste
momento, é acelerar as reformas estruturais (Reforma da Previdência, concessões
e afins), com intuito de permitir uma queda de juros mais rápida e acentuada.
O governo parece
entender isso, e se move nesta direção. Resta saber se a sociedade e o mercado
financeiro terão a paciência necessária para esperar que este processo seja
conduzido. Eu ainda sou construtivo com relação a estes temas. Entendo que o
processo de recuperação econômica do país não será linear, especialmente em um
ambiente político conturbado (e sem perspectivas de estabilização) e um cenário
externo mais incerto.
Contudo, acredito que o
cenário de inflação e crescimento já ensejam um processo mais agressivo de
queda da taxa Selic. Entendia a postura do BCB até pouco tempo atrás, já que
estavam no meio de uma batalha para retomar a credibilidade e ancorar as
expectativas. Nas últimas semanas, diante dos dados pífios de crescimento, e
das leituras mais construtivas de inflação, já vejo espaço para uma postura
menos cautelosa por parte da autoridade monetária. O único vetor que me conforta
é que as reuniões do Copom acontecem a cada 45 dias, e sempre há espaço para
reverter os eventuais erros cometidos.
Alterei um pouco minha
visão de alocação de curto-prazo. Ainda gosto estruturalmente de posições no
mercado local de juros. Neste momento, estamos concentrados na parte curta e
intermediária da curva nominal de juros. Achamos a inflação implícita justa nos
atuais níveis, o que nos distancia das NTNBs. Estamos mais neutros no mercado
de câmbio, com visão de comprar dólar no mundo caso o mercado apresente alguma
realização. Já vemos valor em alguns setores da bolsa brasileira.
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