Brasil: Governo sofre sua primeira derrota relevante.

Os ativos de risco estão operando sem grandes movimentações esta manhã.

No Brasil, no final da tarde de ontem, o governo sofreu sua primeira derrota de relevância no Congresso, com a Câmara aprovando o texto para o “socorro” aos Estados sem que haja uma contrapartida. A aprovação foi contra o que desejada o Governo e, em especial, a Fazenda.
Os jornais de hoje estão dando ampla cobertura a este evento. Pelo lado do Governo, existe a sinalização que as contrapartidas serão cobradas em caso de ajuda financeira, mesmo não havendo a necessidade nas regras aprovadas pelo Congresso.

Acredito que a derrota do Governo seja negativa, e ascende um sinal de alerta. Confesso que não sei afirmar se os ativos locais irão reagir negativamente ao fato, pois eles têm apresentando uma capacidade impar de superar todo e qualquer sinal mais negativo para o cenário local.

Não vejo está derrota como uma mudança total e efetiva do cenário relativamente construtivo para os avanços das reformas no país, mas um detalhe que precisará ser digerido nos próximos dias, as vésperas do recesso parlamentar, já que o ano de 2017 ainda enseja uma ampla necessidade de ajustes econômicos adicionais que precisarão ser negociados junto ao Congresso. O foco deverá permanecer na essência das reformas, com o próximo passo ficando por conta da Reforma da Previdência. Enquanto está essência estiver mantida, vejo espaço para um cenário cautelosamente positivo para o país ao longo dos próximos meses. O segredo, no curto-prazo, é entender o tamanho do apoio que o governo ainda controla no Congresso frente aos desafios de crescimento e o avanço da Operação Lava-Jato.

Na manhã de ontem, o BCB anunciou um conjunto de medidas, ainda vagos, em busca de reformas estruturais no sistema financeiro com o intuito de reduzir o custo e facilitar o mercado local de crédito. A primeira vista, as medidas pecam pela ausência de detalhes, parecem ser bastante técnica, mas de impacto apenas no longo-prazo.

As medidas anunciadas pelo BCB ontem, em conjunto com medidas já anunciadas pelo Ministério da Fazenda e do Planejamento na semana passada, parecem mais um esforço de marketing do Governo a fim de trazer uma agenda positiva em meio a um quadro de crescimento pífio e de vazamentos da delação premiada da maior empreiteira do país. Eu vejo estes esforços como positivos. A maior parte das medidas parecem fazer sentido na teoria, mas de impacto apenas limitado no curto-prazo, e sem detalhamento para uma análise efetiva da realidade.
  
Minha visão permanece relativamente inalterada. Continuo buscando posições visando taxas mais baixas de juros no Brasil, mas vendo a parte intermediária da curva nominal de juros como o melhor ponto da curva neste momento. Minha visão continua mais neutra e tática no mercado local de câmbio e renda variável, mesmo já observando valor em alguns setores da bolsa local.

No cenário externo, ainda vejo um cenário favorável ao dólar no mundo, sustentado por taxas de juros mais elevadas nos EUA. Tenho uma visão um pouco mais cautelosa no curto-prazo com relação a China, devido a aparente mudança de postura do governo local adotado nas últimas semanas. Este cenário deveria tirar algum suporte das commodities e de alguns ativos de risco. Contudo, por ora, os investidores continuam focados no lado positivo da vitória de Donald Trump nos EUA, sem levar em conta os riscos de seu discurso e os ruídos provenientes da China. Não pretendo adotar postura ou viés negativo neste momento, mas um tom de cautela e diferenciação entre classes de ativos, ao contrário do “risk-on” quase que generalizado observado em alguns mercados nas últimas semanas.

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