Update
Em uma terça-feira de final de mês e
final de trimestre, os mercados globais foram marcados por fluxos pontuais de
ajustes de posições, mantendo o perfil de poucas tendências e alta
volatilidade. O grande evento de curto-prazo ficará por conta do ADP Employment
nos EUA amanhã, as negociações entre a Grécia e seus credores ao longo da
semana, e as negociações no tocante ao programa nuclear do Irã que já estão em
andamento. Todos esses eventos tem potencial de gerar ruídos, elevada
volatilidade e um ambiente de “risk-off”, apesar de com probabilidades baixas
de ocorrência de um “evento de cauda”.
Brasil
– Os
números econômicos divulgados hoje confirmaram um cenário de crescimento
desolador, com enormes desafios para a implementação do ajuste fiscal proposto
pelo governo. O índice de confiança dos empresários apresentou queda de 9.2%
MoM em março, atingindo o seu menor patamar histórico. O indicador de
capacidade instalada da CNI caiu de 80.9% para 79.7% em fevereiro, e o
superávit primário do governo apresentou déficit de R$2.3B, abaixo das
expectativas de superávit de R$2B.
A despeito desses sinais, o mercado de
renda fixa e câmbio local apresentou o segundo dia consecutivo de recuperação. Acredito haver duas teorias para esta melhora: (1) o preço dos
ativos locais chegou a tal ponto, mais balanceado, e com a posição técnica
favorável, que está começando a atrair investimentos para classe e/ou (2)
estamos diante de uma acomodação que se mostrará apenas pontual, dentro de uma tendência
mais ampla de deterioração dos ativos locais.
Nos
últimos dias, o governo parece mostrar um melhor entendimento junto a sua base
aliada, o que é um importante passo na estabilização dos fundamentos domésticos.
Apenas um cenário político mais amigável, neste momento, será capaz de alterar
de forma definitiva a direção negativa dos ativos brasileiros.
EUA – As vésperas
do ADP Employment, o segundo indicador mais importante do mês, por ser o melhor
antecedente para o Payroll, tivemos novos sinais contraditórios da economia
norte americana. O Chicago PMI subiu de 45.8 para 46.3 em março, mas muito abaixo
das expectativas de 51.7 pontos. O Consumer Confidence, por sua vez, apresentou
alta de 98.8 (revisado de 96.4) para 101.3, muito acima das expectativas de
96.4. Assim, começam a surgir sinais de que a desaceleração deste primeiro trimestre
do ano foi puramente técnica, fruto de vetores pontuais e localizados, como o
forte frio que assolou a costa leste do país, e a greve nos portos da costa
oeste.
Europa – Os
indicadores de crescimento da região continuam mostrando dinamismo da economia
local. A inflação, por sua vez, ainda encontra-se preocupantemente baixa, com o Core CPI
caindo inesperadamente de 0.7% YoY para 0.6% YoY em março.
Mercados – Mantenho minha visão das últimas
semanas. No Brasil, ainda vejo bastante valor na curva curta de
juros local e olharia o câmbio como um hedge interessante para
a posição. Contudo, correções, rápidas e acentuadas na moeda, devem ser
verificadas ao longo do tempo, o que requer uma administração ativa do tamanho
e instrumento do hedge a ser utilizado (futuro ou estruturas
de opções). No externo, o cenário de curto-prazo está provando que a tendência
do USD segue inalterada, firme e inabalável. As correções tem se mostrado
tímidas, curtas e pouco acentuadas, mas podem persistir por um tempo, o que é
amplamente normal e esperado dentro dos ciclos econômicos. Neste ambiente,
fazer o market timing de correções pontuais tem se mostrado
inócuo. Assim, recomenda-se a manutenção de posições core compradas
em USD, com eventuais aumentos e reduções em torno deste core position.
Ainda vejo o patamar de 2.100 no S&P500 como um teto de curto-prazo. Não
vejo motivos para correções mais acentuadas, o que deveria manter a bolsa
americana em uma banda em torno de 2.000 e 2.100 pontos. Continuo vendo valor
nos ativos da Europa, em especial nas bolsas e nos bonds. Vale
citar aqui, contudo, que podemos ter ruídos de curto-prazo no tocante as
negociações entre Grécia e seus credores, com um risco baixo de algum erro de
“pilotagem” nas negociações, que acabem levando a saída do país da União
Europeia. Este risco, contudo, é apenas um risco de cauda neste momento. O
cenário negativo para as commodities continua inalterado, a despeito de
correções pontuais como visto na semana passada. Nem mesmo a postura mais
proativa do governo chinês no tocante a política monetária, fiscal e creditícia
tem sido suficiente para alterar a dinâmica das commodities, como ocorria no
passado recente.
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