De volta das férias...
A semana que passou foi intensa, com mudanças que podem se mostrar significativas para os mercados financeiros locais e globais no curto-prazo. Seguem breves comentários de alguém observando os mercados superficialmente nos últimos dias.
Mercados - Estou um pouco mais positivo com os ativos de risco após a decisão do FOMC desta semana, mas a volatilidade permanecerá elevada, inviabilizando posições muito grandes. O VaR deverá ser ajustado para uma nova realidade de volatilidade permanentemente mais alta. Neste ambiente, podemos ver as bolsas operando no topo de cima dos ranges recentes, e uma melhora no humor para os ativos emergentes. Vejo a manutenção da tendência de dólar forte no mundo, mas espero um período de consolidação nas próximas semanas. O mesmo vale para o mercado de commodities, onde a tendência baixista deverá ser mantida, mas os sinais recentes da China podem acabar ajudando uma recuperação de curto-prazo. Ainda vejo um ambiente positivo para os ativos na Europa, em especial para os bonds e bolsas locais. Correções pontuais são naturais e esperadas dentro do ciclo econômico. No Brasil, seguimos em uma fase complicada. A força da tendência de alta no USDBRL parece inabalável. Assim, fica difícil supor até onde o movimento poderá se estender. Continuo vendo valor na parte curta da curva de juros de Brasil, mas a dinâmica do BRL continua essencial para os próximos passos do BCB. Não me atrevo a sugerir um nível de equilíbrio ao BRL, já que o ajuste natural da economia acaba sendo no câmbio.
Brasil - A situação interna continua extremamente desafiadora, com a cena política dominando as manchetes. Uma nova pesquisa DataFolha mostrou forte queda da aprovação do governo Dilma. Sem apoio popular, e com sua base aliada rachada, resta ao governo apenas duas opções: (1) partir para o confronto, e levar o país a uma situação semelhante à vista na Venezuela e Argentina nos últimos anos, ou (2) "ouvir as ruas", adotar um tom mais conciliador e buscar o diálogo junto à sua base de sustentação e perante a população. Por hora, os sinais, ainda incipientes, são de que a segunda opção será adotada. Uma nova reformar ministerial parece imprescindível (Cid Gomes já foi devidamente demitido do MEC, abrindo espaço para um novo nome do PMDB). O PMDB, principal partido da base, está mostrando disposição em implementar os ajustes econômicos propostos por Levy e Cia., mas não há dúvida de que o preço deste apoio esteja saindo muito mais caro ao governo do que o imaginado. Liderados por Eduardo Cunha, o PMDB vem ganhando espaço e poder, abrindo caminho para uma candidatura própria a presidente em 2018. O caminho da negociação política parece ser longo e tortuoso, permeado por obstáculos e dificuldades de implementação dos ajustes necessários. O PMDB deverá continuar infernizando a vida deste governo...
No tocante a economia, acumulam-se sinais de forte desaceleração do crescimento. O CAGED apresentou detração de vagas em fevereiro, o pior número em mais de 15 anos de pesquisa. Os indicadores de confiança apontam na mesma direção, atingindo pisos históricos e sem qualquer sinal de estabilização. Acredito que a desaceleração econômica será muito mais acentuada e rápida do que o imaginado por muitos, o que irá ajudar o BCB no combate à inflação.
No que diz respeito ao ajuste fiscal, as incertezas são grandes, e os desafios enormes. A equipe econômica terá que trabalhar, sem descanso, a fim de cobrir os "buracos" deixados pelas negociações junto ao Congresso para a aprovação de parte das medidas propostas até o momento. O rating do país ainda está em risco, deixando a equipe econômica em uma batalha contra o tempo.
A inflação permanece elevada no curto-prazo, mas em grande parte puxada pelos ajustes dos preços administrados. Não há nenhum sinal de respingo da inflação de administrados para o resto da cadeia produtiva ou para a economia em geral. A forte desaceleração da economia parece ser uma grande barreira aos efeitos secundários da inflação.
Externo - O destaque da semana ficou por conta da reunião do FOMC nos EUA. Como era amplamente esperado, o Fed retirou o termo "patient" de seu comunicado, mas deixando claro que a nova sinalização é apenas uma maneira de ganhar flexibilidade, e não indica, necessariamente, uma alta de juros no curto-prazo. Além disso, o FOMC atentou para o arrefecimento recente no crescimento, para a desaceleração das exportações (em parte fruto do fortalecimento do USD) e para o cenário ainda incerto de inflação, revisando para baixo suas previsões de GDP, CPI e NAIRU, o que acabou levando a uma revisão baixista nas expectativas de juros nos próximos anos. O Fed, assim, será totalmente dependente dos dados na condução de sua política monetária. Por hora, precisamos da confirmação de um crescimento robusto para termos certeza de que será possível elevar os juros ainda no segundo semestre deste ano.
Na China, a desaceleração da economia levou o governo a adotar um tom mais proativo e agressivo no que tange à política fiscal, monetária e creditícia, o que está ajudando a dar suporte as bolsas locais.
Não há mudanças significativas no cenário para a Europa. O crescimento dá sinais de recuperação, mas a inflação segue extremamente baixa, o que deverá manter o ECB com postura agressiva por um longo período de tempo.
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