Brasil vs Rússia

Os ativos de risco seguem inquietos com a possibilidade do começo de um processo de alta de juros nos EUA ainda este ano. Então, a reunião do FOMC esta semana será fundamental para a dinâmica dos mercados financeiros globais nas próximas semanas. Ainda credito que o Fed irá optar por retirar o termo “patient” do seu comunicado, mas tentará deixar uma mensagem que isto não necessariamente implica em uma alta de juros em junho. O grande desafio do Fed, neste momento, é ganhar a flexibilidade necessária para o começo de um  processo de alta de juros que já não é visto a vários anos nos EUA, e que pode trazer consequências de difícil mensuração para os ativos de risco ao redor do mundo.

Em relação ao Brasil, A sinais crescentes de que Dilma irá promover mudanças substanciais em seu núcleo político, especialmente devido as derrotas recentes junto ao Congresso.

De qualquer maneira, taxa de câmbio continua ditando a dinâmica dos demais ativos locais. Confesso que não tenho a menor ideia de qual será o novo patamar de equilíbrio do BRL, mas a moeda está claramente em tendência de baixa (alta do USDBRL) e sem nenhuma defesa no curto-prazo, já que o BCB e o governo vêm sinalizando que a taxa de câmbio precisa ser mais livre do que foi no passado recente, e um ajuste é mais do que necessário. Além disso, a direção do dólar no mundo ainda parece ser de alta, salvo realizações pontuais de lucro.

Infelizmente, este ajuste acaba gerando efeitos colaterais negativos, como uma forte abertura da taxa local de juros. Em relação a este tema, gostaria de trazer um debate que vale a discussão. Na Rússia, o RUB apresentou uma desvalorização de cerca de 85%-90% desde o começo de 2014. O banco central do país foi forçado a elevar a taxa local de juros em cerca de 12%, de 5% para 17%. Contudo, desde fins de janeiro, com a estabilização da moeda (mas não apreciação do RUB), o BC local já foi capaz de reduzir os juros em 300bps. No Brasil, o BRL já depreciou 45% desde setembro, com os juros sendo elevados em 550bps ao longo do ciclo. È evidente que existem diferenças cavalares entre as duas economias, com a Rússia vivendo sanções econômicas graves e um cenário de guerra. Meu ponto é que, dado o inicio antecipado do ciclo de alta de juros no país, em um ambiente menos hostil do que na Rússia, é natural esperar que o BCB não esteja incomodado com o movimento da moeda. Obviamente que qulquer movimento de depreciação adicional da moeda, que sejam rápidos e acentuadas, deverão estender o ciclo de alta de juros. Contudo, por hora, não parece haver motivo para um choque de juros no país. O risco, obviamente, fica por conta de uma depreciação ainda maior da moeda, um cenário que parece a cada dia mais provável.

Não vejo grandes assimetrias neste momento. Vejo valor na curva local de juros, mas o cenário de curto-prazo requer cautela. A tendência do USD no mundo me parece ser de alta, mas tecnicamente o mercado parece um pouco “esticado”. Ainda vejo espaço para correção nas bolsas norte americanas, mas em um movimento tático e pontual. As commodities devem manter tendência de queda, mas movimentos de acomodação são naturais dentro deste processo. Na Europa, o cenário continua sendo favorável a queda do EUR, e alta das bolsas e bonds locais, mas momentos de realização de lucros também podem estar chegando. Em suma, não parece o momento de ter grandes alocações a risco. Uma postura tática, neste ambiente, parece ser o mais prudente.

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