Brasil: Petrolão em foco

Depois de uma semana carregada de notícias e dados econômicos, com forte movimentação dos ativos de risco, a semana que se aproxima traz uma agenda menos intensa. Contudo, na atual conjuntura econômica local e global, fica difícil prometer “águas menos revoltas” para os mercados financeiros globais.

Como comentei na sexta-feira , tecnicamente falando, o rompimento do patamar de 96.0 no DXY, e de 2.15% na Treasury 10yrs, foram de extrema relevância para todos os ativos de risco, o que acabou acelerando os movimentos recentes, e confirmando as tendências que já vinham se desenhando desde o final do ano passado. Me parece natural esperar que as tendências continuem no curto-prazo (USD forte, abertura de taxas de juros nos EUA, pressão em EM,  e etc), exceto por períodos pontuais de consolidação, que são amplamente naturais dentro dos ciclos econômicos. Em termos de assimetria, parece que o mercado de commodities foi o primeiro a se adaptar a um ambiente de menor liquidez por parte dos EUA e menor crescimento da China. O USD veio logo em seguida, já tendo feito um movimento relevante, mas em linha com outros ciclos de fortalecimento da moeda americana. Agora, parece que estamos começando a ver este processo ser mais bem precificado no mercado de juros dos EUA e nas bolsas norte americanas.

Brasil – Os jornais do final de semana estão dando total atenção à crise política que se instalou no Brasil, e agora foi agravada pela divulgação dos nomes de políticos que serão investigados na primeira fase do “Petrolão”. Com os presidentes da Câmara e do Senado incluídos na lista, além do ex-ministro Antonio Palocci, um dos coordenadores da campanha presidencial de 2010, temos agora um novo e imprevisível vetor no âmbito político local. Acredito que a crise política tenha se agigantado diante dos desafios econômicos, tornando-se o maior obstáculo para uma estabilização da economia brasileira no curto-prazo. Entendo que alguns avanços econômicos estejam sendo atingidos neste inicio de segundo mandato, mas a incerteza política, neste momento, traz a possibilidade de desdobramentos imponderáveis ao país, o que deve manter os ativos locais com alta volatilidade, e sem sinais claros e permanentes de recuperação.

China – A balança comercial apresentou forte superávit em fevereiro, após as exportações apresentarem expressiva alta de -3.2% YoY para 48.3% YoY, enquanto as importações caíram de -19.7% YoY para -20.5% YoY. O feriado do Ano Novo Lunar parecer estar afetando a dinâmica dos indicadores de atividade no país no curto-prazo, mas os números de hoje mostram uma recuperação do crescimento global, em linha com o que temos visto nos demais indicadores de atividade ao redor do mundo, mas aponta para uma demanda interna ainda frágil e sem sinais de recuperação. Na semana passada, o governo anunciou uma redução, para 7%, do target de crescimento do PIB para este ano o que, em grande parte, já era esperado pelo mercado. O tom da reunião do NPC foi um pouco mais pro crescimento, com sinais de que a política fiscal e monetária pode ser usada de maneira mais proativa, com intuito de evitar novas rodadas de desaceleração do país. Ainda vejo o país como o principal risco para a economia mundial este ano. Acredito que a economia chinesa irá continuar a surpreender negativamente o mercado ao longo do ano, com um crescimento mais baixo, mas ainda “comportado”. Como a economia é relativamente fechada e planejada, o governo dispõe dos instrumentos necessários para que este processo de desaceleração seja conduzido de maneira suave.

EUA - Os dados de emprego norte americanos de fevereiro, divulgados na sexta-feira, podem ser classificados como robustos, a despeito da ausência de pressões salariais. Diante deste quadro, e com a proximidade da reunião do FOMC, o mercado passou a precificar uma maior probabilidade de alta de juros no meio deste ano. Hoje, o mercado precifica 50% de chance de uma alta de 25bps em junho, com duas altas completas de 25bps até o final do ano. Este ambiente, por sua vez, acabou gerando uma forte abertura de taxa de juros nos EUA, com repercussões não desprezíveis para os demais ativos de risco. A sexta-feira pode ser classificada como um dia de “risk-off” clássico, com as bolsas e as commodities em queda, o USD forte e pressão sobre os ativos emergentes. Vale a pena ressaltar, contudo, que o crescimento americano no curto-prazo está abaixo do esperado, e o clima frio pode acabar prejudicando ainda mais o crescimento deste primeiro trimestre do ano, o que merece atenção especial nas próximas semanas.

Europa – Os dados recentes apontam para um crescimento mais saudável este ano do que o imaginado anteriormente. As previsões para o PIB da região saíram de alta de 1% para 1.5% em 2015, mesmo sem revisões mais expressivas do cenário para a inflação. Em um ambiente de crescimento em recuperação, inflação baixa e política monetária expansionista, não é a toa que os ativos da região tem sido os grandes beneficiários da busca por yields e retornos neste inicio de ano. Salvo correções pontuais, o pano de fundo continua sendo favorável a bolsa e bonds na Europa, e ainda baixista para o EUR.

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