Brasil: Obstáculos políticos
Os ativos de risco estão tendo uma manhã de tranquilidade, sem movimentos relevantes, a despeito de mais uma pernada no movimento de USD forte ao redor do mundo. As bolsas da Europa seguem sua tendência de fortalecimento, a despeito da acomodação verificada nas bolsas norte americanas nos últimos dias. O mercado global de commodities e bonds apresentam-se relativamente estáveis está manhã. A agenda do dia será relativamente esvaziada, deixando o foco sobre os dados de emprego nos EUA na manhã desta sexta-feira.
Com o DXY rompendo o patamar de 96.0, acredito que o USD pode acabar ganhando novo ímpeto, como temos observado desde a manhã de ontem. Mantenho uma posição comprada em USD contra uma cesta de moedas, e ainda vejo valor em um portfólio aplicado na parte intermediária da curva de juros no Brasil, combinada com posições vendidas em BRL.
Brasil - Com o aumento do ruídos político e dos obstáculos para a aprovação do ajuste das contas públicas durante a semana, os ativos locais tiveram uma quarta-feira de forte pressão. Continuo vendo este processo como natural diante de uma base aliada mais fragmentada do que no passado. Entendo que a postura do Congresso pode acabar atrasando alguns termos do ajuste proposto pela equipe econômica. Contudo, ainda vejo disposição política por parte deste governo em promover os ajustes necessários para colocar o país, novamente, na trilha do sucesso, mesmo que isso tenha um custo político maior do que o imaginado anteriormente. O grande desafio que Dilma e Cia. terão pela frente, assim, será adotar uma postura política mais agressiva porém, com espaço para negociações e, eventualmente, abrindo mão de cargos e poder em troca do apoio de sua base. No que diz respeito a política monetária, como era amplamente esperado, o Copom elevou a taxa Selic em 50bps para 12.75%, divulgando um comunicado idêntico ao da reunião anterior. Acredito que o Copom busca, neste momento, ganhar flexibilidade frente a um cenário desafiador e ambíguo. Por um lado, a depreciação cambial e a inflação corrente elevada dificultam um possível encerramento do ciclo de alta de juros. Por outro lado, uma política fiscal e creditícia mais apertada, um crescimento pífio, os efeitos defasados das altas de juros e uma evidente deterioração do mercado de trabalho, em algum momento, irão ajudar o BCB no combate a inflação. Acredito que o cenário base seja mais uma alta de 25bps em abril para que o ciclo de alta de juros seja encerrado. Contudo, a depreciação do câmbio, eventualmente, pode levar o BCB a promover um ajuste de juros ainda mais extenso.
EUA – O ADP Employment divulgado ontem apresentou criação de 212 mil postos de trabakho, com o ISM Non-Manufacturing saindo de 56.7 para 56.9 pontos. Os números apontam para um crescimento menos robusto do que nos meses anteriores, mas ainda saudáveis. Caso este cenário seja confirmado pelos dados oficiais de emprego neste sexta-feira, ficará ainda mais evidente que a probabilidade do inicio de um ciclo de alta de juros no país ainda no meio deste ano se elevou consideravelmente. Assim, o termo “patiet” deverá sair do comunicado do FOMC em março e o comitê ganhará flexibilidade de atuação a partir de então.
China – O governo anunciou uma redução, para 7%, do target de crescimento do PIB para este ano o que, em grande parte, já era esperado pelo mercado. O tom da reunião do NPC foi um pouco mais pro crescimento, com sinais de que a política fiscal e monetária pode ser usada de maneira mais proativa, com intuito de evitar novas rodadas de desaceleração do país. Ainda vejo o país como o principal risco para a economia mundial este ano. Acredito que a economia chinesa irá continuar a surpreender negativamente o mercado ao longo do ano, com um crescimento mais baixa, mas ainda “comportado”. Como a economia é relativamente fechada e planejada, o governo dispõe dos instrumentos necessários para que este processo de desaceleração seja conduzido de maneira suave.
Europa – A reunião do ECB hoje não deve trazer grandes novidades, exceto pelo detalhamento do timing e de detalhes operacionais para o início do QE na região. NA Alemanha, o factory orders de janeiro apresentou forte queda de 3.9% MoM, muito abaixo das expectativas de queda de 1% MoM, e revertendo grande parte da alta de 4.4% MoM do mês anterior. O número é bastante volátil e deve ser olhado em um pano de fundo de aceleração de outros indicadores de crescimento na região.
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