Índia: Corte inesperado de juros
O
destaque da noite ficou por conta da decisão surpreendente, fora do calendário
oficial de reuniões do banco central, de cair os juros em 25bps, para 7.25%, na Índia. Este foi o segundo corte
surpresa e fora do calendário oficial de reuniões promovidos pelo BC do país. Segundo o
comunicado:
"To summarise, softer
readings on inflation are expected to come in through the first half of 2015-16
before firming up to below 6 per cent in the second half. The fiscal consolidation programme, while
delayed, may compensate in quality, especially if state governments are
cooperative. Given low capacity utilisation and still-weak indicators of production
and credit off-take, it is appropriate for the Reserve Bank to be pre-emptive
in its policy action to utilise available space for monetary
accommodation."
Quando o país
promoveu seu primeiro corte de juros, os argumentos utilizados foram bastante
parecidos com estes sinalizados acima. Acredito que a Índia esteja alguns meses
a frente do Brasil no ciclo de política monetária, mas me parece que o Brasil
viverá momento semelhante nos próximos 12 meses, onde o BCB poderá usar os
mesmos argumentos e, talvez, um comunicado muito parecido com este assinalado
acima, para justificar taxas de juros mais baixas.
Infelizmente, no Brasil, no curto-prazo, os desafios
ainda são grandes. O Senado está fazendo “jogo duro” para a aprovação das
medidas de ajuste fiscal propostas pelo Governo, e Renan Calheiros optou por
retornar as propostas ao Planalto, antes da apreciação pela casa. Vejo um
ambiente político conturbado, que pode prejudicar a velocidade do ajuste. Contudo,
ainda vejo disposição deste governo em fazer tudo que estiver a seu alcance
para evitar o rebaixamento da nota de crédito do país e atingir o superávit de
1.2% do PIB prometido no começo do mandato.
Os ativos de risco
estão mostrando sinais de preocupação com a possibilidade do começo de um ciclo
de alta de juros nos EUA. As bolsas globais operam em queda, com o USD em alta esta manhã.
As commodities continuam sobre pressão, enquanto as taxas de juros nos EUA
testam a banda de cima do range
recente.
Na agenda do dia,
destaque para a PIM no Brasil e para o ADP Employment nos EUA.
A
terça-feira foi de acomodação dos ativos de risco, com as bolsas na Europa e
EUA em queda e o USD dando sinais um pouco mais mistos, a despeito de mais uma
rodada de abertura de taxas de juros nos EUA e pressão no preço das
commodities, exceto pela alta no preço do petróleo.
A
agenda nos EUA foi esvaziada, mas o ADP Employment a ser
divulgado amanhã irá ganhar importância redobrada frente aos sinais recentes
emitidos pelo Fed. Acredito que um número abaixo de 150k pode acabar reduzindo
a probabilidade de alta de juros em junho, levando a um movimento de USD fraco
e fechamento de taxas de juros no país, o que pode acabar ajudando os ativos
emergentes de renda fixa e câmbio. Contudo, qualquer número acima deste patamar
pode acabar sendo visto como um sinal verde para o Fed dar continuidade a seu
processo de normalização monetária, retirando o termo “patient” do
comunicado deste mês, e ganhando flexibilidade para dar inicio a um processo
gradual de alta de juros. Neste cenário, o USD pode romper o range recente,
com mais uma pernada de alta, sendo sustentado por uma nova abertura de taxas
de juros no país. Este ambiente, em alguma medida, pode acabar afetando, mesmo
que pontualmente, o humor para as bolsas ao redor do mundo.
No Brasil,
tivemos novas evidencias de forte desaceleração do crescimento, com a Fenabrave
mostrado acentuada queda nas vendas de veículos de fevereiro. Amanhã, o foco
ficará por conta da PIM, onde o mercado espera uma alta de 2% MoM, após dois
meses consecutivos de forte queda. No que diz respeito do ao Copom, acredito
que elevarão a taxa Selic em 50bps para 12.75%, mantendo o comunicado após a
decisão idêntico ao da última reunião. Meu cenário base é de uma alta de 50bps
e outra de 25bps, encerrando o ciclo em 13%. Acredito que teremos que conviver
com inflação alta neste primeiro semestre do ano, mas podemos estar diante de
uma forte desaceleração econômica que, aliada ao aperto fiscal e creditício,
ajudará o BCB no combate a inflação.
A
curva de juros ficou relativamente estável durante o dia, mesmo com uma forte
depreciação do BRL. A sinalização do BCB de que pretende deixar a moeda mais
livre, migrando para um equilíbrio mais condizente com os fundamentos, parece
estar sendo um vetor importante na dinâmica da moeda nos últimos dias. A curva
local de juros continua mostrando uma taxa Selic terminal em torno de 13.25% no
final deste ano, com quedas tímidas em 2016.
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