Eleições no Brasil e Fed nos EUA dominam a agenda da semana
O final de semana foi de poucas
novidades econômicas, políticas ou geopolíticas, o que deve manter os mesmos
temas da semana passada em evidência. Na agenda da semana que se aproxima,
destaque para o Core CPI, Minutas do FOMC e para o discurso de Yellen em
Jackson Hole nos EUA. No Brasil, além do cenário político, teremos a divulgação
do IPCA-15.
Brasil – Durante o final de semana, Marina Silva foi praticamente confirmada como
candidata para presidente da chapa do PSB, faltando apenas a indicação de quem
será o vice de sua chapa. Os jornais dão conta de que Renata Campos, viúva de
Eduardo, irá ter papel proativo e fundamental na campanha. Como tenho insistido
nos últimos dias, acredito que este novo “grid de
largada”, como bem classificou Merval Pereira no “O Globo” de hoje, é muito
mais positivo para os ativos locais do que o ponto de partida anterior. Acredito
que a probabilidade de ocorrência de segundo turno se elevou para praticamente
100%. Além disso, com uma rejeição elevada e uma aprovação do governo baixa e
cadente, as chances de reeleição de Dilma estão se reduzindo a passos largos. Com este pano de fundo, acredito que os ativos locais devam ficar bem
sustentados nos próximos dias, a espera de novas pesquisas eleitorais. Acredito
que a bolsa, e ações de estatais como a Petro, assim como a curva longa de
juros, são os melhores ativos para se posicionar para uma eventual mudança de
governo no país. O BRL também deve se favorecer um “boom” de otimismo em
primeiro momento, mas sua direção, na minha opinião, é menos óbvia, por
depender do cenário externo e do tamanho da intervenção do governo/BCB neste
mercado. Talvez o BRL se mostre um bom hedge para posições mais otimistas na
renda variável e no mercado de juros. Estruturas de opção podem se mostrar um
bom instrumento neste momento. Do ponto de vista econômico, o país
continua vivendo um ambiente de crescimento pífio, mas a inflação vem dando
sinais mais positivos no curto-prazo. Assim, o BCB deverá manter a taxa Selic
estável no horizonte relevante de tempo mas diminui, a cada dia que a inflação
se mostra menos resistente, a possibilidade de um novo processo de alta de
juros no país. Após uma forte abertura de taxa da parte curta da curva local de juros,
acredito que já haja prêmio suficiente para validar posições aplicadas neste
vértice da curva. O debate em torno da necessidade de um eventual ciclo de corte
de juros pode voltar a dominar o cenário nas próximas semanas.
EUA – Os indicadores um pouco mais mistos de crescimento na última semana me
parecem flutuações naturais do ciclo econômico, e não demandam uma alteração em
relação ao otimismo no tocante a recuperação da economia americana. Após uma
alta de 4% do PIB no segundo trimestre, é natural termos uma acomodação do
crescimento no terceiro trimestre do ano. O Core CPI esta semana será
importante para medirmos a real velocidade de aceleração da inflação que, por
hora, tem se mostrado extremamente benigna. Acredito que as Minutas do FOMC
podem trazer um debate mais acirrado, e uma convicção crescente por parte dos
membros do comitê, em torno da recuperação da economia e da necessidade da
aceleração de um processo de normalização monetária. Ainda acredito que este
processo será extremamente gradual, o que certamente será enfatizado por Yellen
em seu discurso no final da semana, mas o mercado de juros americano continua
me parecendo excessivamente dovish vis-à-vis o cenário de crescimento e inflação e, até mesmo, levando em
conta as recentes indicações de membros do Fed. Gosto de Long USD versus uma cesta de moedas (EUR, JPY e TRY) e de posições tomadas nos
vértices entre 2 e 3 anos da curva de juros local. Acredito que o caminho para
a realização deste cenário será tortuoso, como já vem sendo, mas as condições
para a realização destes movimentos nunca foram tão favoráveis, em termos
econômicos e técnicos.
Europa – A região vem mostrando decepções recorrentes de crescimento e inflação,
o que deve tornar a pressão sobre o Banco Central Europeu (BCE) insustentável
nos próximos meses. Acredito que Draghi e Cia. têm instrumentos, capacidade e
discernimento em utiliza-los caso o cenário prospectivo não mostre uma melhora.
O BCE pode acabar pecando por esperar demais, mas não se furtará a atuar. Assim, posições Short EUR e moedas dependentes da Europa (TRY)
apresentam bom risco retorno, assim como posições relativas no mercado de juros
(tomado nos Juros EUA e aplicado nos Juros Alemão). Os bonds periféricos parecem “esticados” e tecnicamente mal posicionados, mas as
bolsas da região podem se favorecer de novas medidas do BCE.
China – Após a divulgação dos indicadores de atividade de julho, teremos um
vácuo de agenda econômica. O foco deverá permanecer na postura mais proativa e
agressiva do governo chinês na tentativa de garantir um crescimento superior a
7% este ano. A situação da economia chinesa demanda cautela estruturalmente,
mas terá o apoio de novas medidas de política monetária e fiscal no
curto-prazo. Em suma, acredito que continuamos a ter um cenário ciclicamente mais
positivo para os ativos ligados a China, mas estruturalmente ainda extremamente
desafiador.
Ucrânia – A situação no país continua fluida, porém indefinida. Novos ruídos
pontuais podem vir a afetar o humor global a risco, mas na ausência de uma
piora evidente na situação do país, o problema deveria se tornar muito
localizado, sem maiores contágios ao resto do mundo. Não tenho grandes
vantagens comparativas para emitir uma opinião sobre o tema. Só nos resta
acompanhar a situação para nos proteger caso a Rússia opte por uma postura mais
bélica na região.
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