Sinais de estabilização do sentimento negativo

Os ativos de risco tiveram uma noite de relativo pânico na Ásia, dando continuidade ao movimento de aversão a risco que vem dominando os mercados ao longo de toda essa semana. O movimento de ontem a noite teve início após EUA anunciarem que irão intervir no conflito no Iraque, através de bombardeios aéreos. Este evento se adiciona aos problemas que o Ocidente está enfrentando na Ucrânia, com uma crescente batalha diplomática contra a Rússia. Neste ambiente, continuo a ver pressão nas bolsas globais, um movimento de fortalecimento do USD no mundo (especialmente contra EM), fluxos de "fly to quality" para asTreasuries e os Bunds e algum tipo de pressão altista nas taxas dos papéis soberanos na periferia da Europa. Vale a pena também chamar a atenção para o forte movimento de realização de lucros no mercado de crédito americano, com fluxos elevados de saídas (outflows) dessa classe de ativos. Este movimento deve ser acompanhado no detalhe, pois foi uma das classes de ativos mais favorecidas nos últimos anos, onde imperou o carry-trade e a busca por yields. A continuidade deste movimento pode acabar sendo um sinal negativo para as demais classes de ativos (bolsas, EM Bonds, EM FX e afins).

Hoje pela manhã, ainda há sinais claros de fragilidade nos ativos de risco, mas já vemos sinais de estabilização do humor. Ainda vejo o mercado tecnicamente frágil, mas não podemos descartar uma estabilização do humor dos investidores após uma semana de extrema aversão a risco.

Na agenda dia, destaque para o Unit Labor Cost do 2Q nos EUA para o IPCA de julho no Brasil.

Brasil – A pesquisa Ibope anunciada ontem no JN mostrou um quadro de estabilidade na avaliação do governo Dilma e nas simulações de  primeiro turno para presidente. Contudo, observamos alterações relevantes nas simulações de segundo turno, com a diferença entre Dilma e Aécio caindo de 8% para 6%. O número é relevante pois mostra que a taxa de reversão dos votos indecisos está sendo integralmente revertida para a oposição, mostrando um amplo espaço para ganho de terreno de Aécio, já que a rejeição de Dilma continua elevada e os candidatos estão começando somente agora uma campanha mais expressiva. Além disso, os números mostram que o problema do aeroporto em Minas Gerais, que o governo tentou usar como “cartada” contra Áecio, não fez preço nas intenções de voto. Finalmente, o Ibope caminha na mesma direção que já vinha sendo mostrada pelos demais institutos de pesquisa, que já mostram empate técnico entre Dilma e Aécio em um eventual segundo turno. Em suma, a pesquisa me pareceu marginalmente positiva para os ativos locais. Nem excessivamente favorável a oposição, mas não mostrando avanço de Dilma.

China – Os dados de Exportações mostraram forte recuperação em julho, saindo de 7,2% YoY para 14,5% YoY, muito acima das expectativas de 7,0% YoY. As Importações, por sua vez, surpreenderam negativamente, caindo de 5,5% YoY para -1,6% YoY, muito abaixo das expectativas de 2,6% YoY. É bem provável que ambos os indicadores estejam sendo exagerados por questões pontuais. De qualquer maneira, mostram uma economia global em recuperação, o que vem sendo apontado pelos dados econômicos das outras regiões do mundo, e uma demanda interna ainda bastante fraca, a despeito dos últimos PMI´s mais positivos. Os números de hoje ascendem um sinal amarelo para os dados de atividade econômica de julho que serão divulgados na semana que vem.

Europa – A produção industrial da França apresentou avanço de 1,3% MoM em junho, revertendo parte da queda de 1,7% MoM no mês anterior e ficando acima das expectativas de alta de 1,0% MoM. O crescimento da região continua fraco e decepcionante, mas ainda estável em torno de 1,0%-1,5%. O desenvolvimento da economia nos próximos meses será fundamental para a definição de qual postura será adotada pelo BCE de agora em diante.


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