Resumo da Semana

A sexta-feira mostrou que o Brasil entrou definitivamente na janela eleitoral, com os mercados locais apresentando clara diferenciação em relação ao cenário externo. Neste ambiente, é importante acompanharmos de perto os desdobramentos da corrida eleitoral, mas sem perder de vista o cenário externo.

Brasil
Política - Os ativos locais tiveram uma sexta-feira de “risk-on” generalizado. Como vinha comentando desde a trágica morte de Eduardo Campos, a definição do nome de Marina Silva para concorrer a presidente na chapa do PSB seria determinante para a dinâmica de curto-prazo dos ativos brasileiros. Comentei que via essa probabilidade em torno de 80%. Hoje acredito que já seja próxima a 95%. Dentro deste contexto, com Dilma, Aécio e Marina, as chances de ocorrência de segundo turno se elevam para próximo a 100%. Finalmente, com uma avaliação de seu governo abaixo de 30% e uma taxa de rejeição superior a 40%, a campanha de Dilma em um segundo turno será extremamente desafiadora. Este cenário, que vínhamos desenhando nos últimos dias, parece ter, definitivamente, entrado no radar do mercado, e proporcionando o movimento de ontem. O próximo evento relevante será a pesquisa Datafolha, já com o nome de Marina Silva, que será divulgada até segunda-feira. Meu chute é que Dilma  pode perder algo em torno de 2%-4% nas intenções de voto, com Aécio ficando relativamente estável em torno de 20% e Marina abocanhando uma parcela entre 15%-20%, tirando votos dos brancos, nulos e indecisos e alguns votos de Dilma.

Macro – Não só as venda no varejo de junho decepcionaram as expectativas, como o IBC-Br, espécie de PIB mensal do BCB, confirmou um cenário de queda da economia, aumentando a probabilidade de uma recessão técnica no país. Além disso, as coletas de inflação continuam baixas, rodando próximas a zero, mesmo patamar que o IPC do IGP-10 apresentou. A inflação corrente está confirmando um cenário mais positivo para o BCB e, até mesmo, ficando abaixo das expectativas do mercado. Este cenário deverá dar suporte a curva de juros no Brasil, que chegou a precificar quase 100bps de alta de juros nos próximos 12 meses. Sem uma depreciação rápida e acentuada do câmbio, o BCB manterá os juros estáveis no horizonte relevante de tempo, mas elevando a probabilidade de um processo de queda de taxas caso o cenário descrito acima se confirme.

Externo
A semana foi marcada por números decepcionantes na Europa e na China, e um cenário misto nos Estados Unidos. Não é a toa que as taxas de juros no mundo desenvolvido fizeram novos lows do ano e, em alguns acasos, novos pisos históricos. Não acredito que devemos olhar o mundo como um bloco único e vejo se desenvolver um cenário de clara diferenciação entre países e regiões. Vejo os EUA ainda em uma tendência clara de recuperação, sendo liderada por um robusto avanço do emprego. É natural vermos uma acomodação do crescimento após um segundo trimestre extremamente forte, mas não vejo aqui uma mudança de tendência. Na Europa, os problemas são maiores. A atividade está fraca e a inflação baixa, sem sinais de reversão deste ciclo. O Banco Central Europeu será obrigado, nos próximos meses, a mostrar que tem disposição e instrumentos disponíveis para lidar com este quadro. Acredito que podem pecar por esperar demais para atuarem, mas não se furtarão em agir. Finalmente, na China, o crescimento se mostra estável em torno de 7%, mas já dá sinais de fragilidade. O governo deve manter uma postura mais proativa e agressiva na condução de sua política monetária e fiscal a fim de evitar uma deterioração adicional da economia. O país ainda apresenta graves problemas estruturais que, em algum momento, deverão ser equacionados. Contudo, este projeto parece ter sido adiado por algum tempo em detrimento a medidas de suporte ao crescimento no curto-prazo.


No tocante a risco geopolítico na Ucrânia, a situação continua fluída, mas com ruídos pontuais. Apenas uma deterioração das relações na região será capaz de gerar um contágio maior aos mercados financeiros globais.

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