Fed, ECB e BoJ
O grande
destaque do final de semana ficou por conta da reunião dos principais bancos
centrais do mundo em Jackson Hole. O mercado teve o final de semana para
digerir os discursos de Yellen, Draghi e Kuroda, os presidentes do Fed, ECB e
BoJ.
De forma
bastante resumida, podemos concluir que o discurso de Yellen foi neutro, o que
me parece uma surpresa vis-à-vis a postura extremamente dovish que ela vinha adotando até então. Draghi e Kuroda, por sua
vez, mantiveram um discurso extremamente dovish,
garantindo ao mercado que permanecerão com uma política monetária extremamente
expansionista até que seus objetivos sejam atingidos. As duas instituições se
dizem preparadas para adotar medidas adicionais caso o cenário não comece a
convergir para o destino proposto.
A
principal conclusão que tiro desses discursos é que a diferença de política
monetária dos Estados Unidos em relação ao resto do mundo, especialmente do
mundo desenvolvido, ficará a cada dia mais evidente. Neste ambiente, o USD
tende a se apreciar frente às moedas dos países ou regiões cujo diferencial de
juros se mostrará a cada dia mais favorável ao USD. No mercado de juros, ainda
iremos conviver com um ambiente de liquidez global ampla, mas não mais liderada
pelos EUA. O ECB, BoJ e PBoC podem, e devem, começar a ganhar o espaço que o
Fed ocupou ao longo dos últimos anos. Assim, devemos ver um processo de
diferenciação de taxas de juros, mas em um cenário de taxas ainda baixas e
reprimidas. De maneira geral, o ambiente ainda tende a ser positivo para os
ativos de risco em geral, como as bolsas globais. Obviamente, será cada vez
mais importante a escolha dos ativos para compor cada portfólio.
Brasil – As eleições continuarão ditando a dinâmica dos ativos locais. A pesquisa
Ibope encomendada pela Rede Globo, e que será divulgada no JN de terça-feira,
me parece o evento mais relevante da semana. Na agenda macro, teremos os dados
de crédito e o PIB do segundo trimestre do ano. No final de semana, o
ex-diretor, e agora preso, Paulo Roberto Costa, anunciou que irá aceitar um
acordo de delação premiada, na tentativa de reduzir sua pena. Dado o aparente
laço entre ele e uma série de políticos do governo, um eventual acordo nesta
linha pode ser mais um grande problema de imagem para ser administrado pela
campanha petista. Caso as pesquisas confirmem a consolidação de Marina em um
eventual segundo turno contra Dilma, e o aumento da probabilidade de vitória desta
em um eventual segundo turno, como vem sendo ventilado pela mídia nos últimos
dias, acredito que ainda existe amplo espaço para uma reprecificação dos ativos
locais. Acredito que Mariana terá um grande desafio político de
governabilidade, mas tenho convicção que terá um discurso econômico ortodoxo, e
que terá um quadro competente de pessoas fazendo parte de seu governo. Ainda
vejo a bolsa e a curva longa de juros como os melhores ativos para este
cenário. Acredito que o BRL terá um impulso inicial e pontual de apreciação,
mas depois deverá seguir o humor global em torno do USD e política cambial que
será adotada pelo novo governo, provavelmente se desfazendo dos mais de US$90bi
de swaps cambiais.
EUA - Classificaria o discurso de Yellen na sexta-feira como neutro, mas
longe do viés extremamente dovish de antigamente. Yellen reconhece a recuperação do mercado de trabalho,
e tenta deixar a mensagem que o Fed será “data dependent”. As
características da crise de 2008 tornam o trabalho do Fed ainda mais
desafiador. Em suma, o discurso neutro pode ser visto como mais hawkish pelo mercado,
já que havia uma expectativa de uma postura extremamente dovish. Acredito que o discurso mantém o viés de USD forte no mundo,
especialmente contra as low yields. Deveria dar
algum suporte de alta aos juros americanos, em especial na parte curta da
curva. O Fed vem conseguindo, gradativamente, alterar seu discurso, sem causar
grandes rupturas no mercado, ao contrário do que aconteceu no ano passado. Em
parte, isso vem sendo ajudado pelo trabalho dos demais bancos centrais ao redor
do mundo, que vem ocupando o espaço de liquidez que o Fed começa a recolher.
Assim, podemos ter um pano de fundo sem rupturas, mas onde as diferenças de
crescimento, fundamentos e política monetária podem começar a fazer preço de
maneira mais incisiva.
Europa
– O discurso de Draghi na sexta-feira pode ser
lido como mais um marco na presidência do ECB. Além de alterar sua postura em
relação a política fiscal na região, Draghi alertou para a mudança que vem
ocorrendo nas expectativas em relação a região, especialmente na forte queda
das expectativas de inflação verificadas nas últimas duas semanas. Não vejo
outro caminho senão um ECB adotando novas medidas de estímulo monetário em
futuro cada vez mais próximo. Isso deveria dar suporte as bolsas e aos bonds da região, além de manter o EUR
sobre pressão. A posição técnica pela CFTC mostra um novo high de posições short
EUR para este ciclo econômico, o que deve ser visto como sinal de alerta, mas
não um impedimento para a continuidade do movimento de queda da moeda europeia.
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