Dólar e Juros Brasil

Desde a última atualização dos Mercados Globais, na quinta-feira pela manhã, observamos mudanças substanciais nos preços dos ativos de risco. Contudo, na minha visão, não tivemos mudanças substanciais de cenário macroeconomico. Assim, eu acredito que o mercado esteja passando por um período clássico de ajuste técnico de posições.

Em relação ao cenário prospectivo para as principais classes de ativos que acompanhamos, estou ganhando convicção na posição Long USD ao redor do mundo. Acredito que o segundo semestre deste ano possa ser marcado como o real começo deste processo de fortalecimento do USD. Após o forte fechamento de taxa dos juros nos EUA desde sexta-feira, na minha visão um claro movimento técnico, após uma semana onde os investidores foram montando posições tomadas em juros para  Payroll, acredito que o mercado irá, novamente, passar por um período de alta de taxas nos EUA. Acredito que este processo será gradual e tortuoso, ao contrário do “tapering stress” do ano passao. Assim, devemos ajustar o tamanho da posição para aguentar este caminho de curvas acentuadas. Os vértices entre 2 e 3 anos me parece o melhor lugar da curva para se posicionar nesta direção. O mercado de renda variável global me parecem tecnicamente frágil, e pode passar por um período um pouco maior de consolidação. Contudo, correções mais acentuadas devem ser vistas como oportunidades de alocação. 

Brasil – No curto-prazo, o cenário externo está ditando o rumo do mercado local de câmbio e renda variável. Contudo, este processo pode se alterar após a pesquisa Ibope agendada para quinta-feira. Estou bastante curioso para ver o “estrago” que o escândalo da CPI da Petro irá fazer na campanha de Dilma. Tenho o viés de acreditar que a pesquisa deverá mostrar melhora da oposição, mesmo que marginal. Do ponto de vista de cenário macro, continuamos sem grandes novidades. O crescimento segue pífio, a despeito da PIM acima das expectativas, a inflação corrente passa por uma janela de números mais brandos, mas o cenário continua desafiador nesta frente. Além disso, o quadro fiscal apresenta dinâmica assustadora. No que diz respeito a política monetária, o BCB vem dando um recado claro de que não pretende baixar os juros no curto-prazo, na tentativa de retomar a credibilidade perdida e, aparentemente, com medo de um movimento maior de depreciação cambial. Assim, a parte curta da curva de juros no Brasil perde um pouco o appeal de se estar aplicado, deixando o ambiente mais propício para a “barriga” da curva. Neste ambiente, me parece que o cenário de juros tenha se alterado de maneira mais clara nos últimos dias. Em uma eventual reeleição de Dilma, com o stress no câmbio, não haverá espaço para cortes de juros e, dependendo do movimento, podemos até ver altas de taxa. Já em um pano de fundo de mudança política, caso tenhamos uma apreciação rápida e acentuada do BRL, podemos ter juros mais baixos no médio-prazo. Assim, a curva de juros irá se tornar, como o BRL e o Ibovespa, um play eleitoral. Estou menos convicto na parte curta da curva e gosto da barriga da curva e da parte longa como plays puramente eleitorais. O Long USDBRL me parece um bom hedge, caso não o vejam como um play direcional global de Long USD.

EUA – Os dados de emprego divulgados na sexta-feira foram positivos, mas não tão fortes como o mercado havia se posicionado. Assim, o movimento que vimos nos ativos do país desde sexta-feira me pareceu um ajuste de posições, e não uma mudança de cenário. Este ambiente foi confirmado pelo ISM Manufacturing na própria sexta-feira, e pelo Senior Loans Survey do Fed divulgado ontem, que apontou para um aumento de oferta e de demanda por crédito em setores importantes da economia. Os EUA estão em processo evidente de recuperação econômica, com alguns setores ganhando um momento importante nesta fase do ciclo. O Fed pode, e deve, se dar ao luxo de manter o gradualismo de sua política monetária. Assim, as mudanças de discurso e sinalizações serão graduais, mas não necessariamente não irão existir. Neste ambiente, o USD deverá ganhar um suporte a medida que o tempo passa e o crescimento mais saudável da economia se consolide.

Europa – A Europa está “atolada” em um ambiente de crescimento de 1%-1.5% com inflação perigosamente baixa. O ECB deverá manter as condições monetárias no atual patamar pelos próximos meses, o que já me parece um diferencial importante em relação ao que vem ocorrendo nos EUA e na Inglaterra, por exemplo. Não é a toa que o EUR vem perdendo suporte e deve ganhar destaque nos próximos dias.

China – As bolsas do país apresentaram um rally excepcional nos últimos dias. O sucesso das medidas adotadas pelo governo nos últimos meses, que conseguiram estabilizar o crescimento do país no patamar de 7,5%, foram os principais responsáveis por este movimento. Continuo vendo um curto-prazo mais positivo para economia chinesa, com crescimento estável em torno dos atuais patamares. Contudo, está estabilização da economia está sendo feita às custas dos mesmos mecanismos utilizados no passado, como a injeção de crédito na economia, e que já se mostraram problemáticos para os fundamentos estruturais do país. Assim, mantenho minha visão mais construtiva no curto-prazo, mas continua vendo um cenário extremamente desafiador no longo-prazo.

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