Forte pressão negativa. Questões técnicas e estruturais preocupam.


Os ativos de risco tiveram mais um dia de forte pressão, liderados por uma queda de 2.3% no S&P500. Não houve nada de fundamentalmente novo no cenário, mas o rompimento técnico do patamar de 2.600 pontos se mostrou de fato relevante, levando o índice para níveis abaixo de 2.550 pontos e no menor fechamento desde setembro de 2017, abaixo do piso verificado no “sell-off” de fevereiro.

O mercado está seguindo um caminho o qual eu tinha receio e vinha chamando a atenção nos últimos dias (vide aqui: https://mercadosglobais.blogspot.com/2018/12/aumentando-os-riscos-para-o-cenario.html).

Mantenho uma visão cautelosa e mais negativa para os ativos de risco em geral. Estamos em um período de final de ano, onde poucos gestores terão capacidade de alocar risco em meio a um panorama mais desafiador e após um ano de desempenhos, na média, ruins. Assim, neste momento, a sazonalidade joga de maneira contrária ao bom desempenho dos ativos de risco.

Em termos de cenário econômico, destaque para a surpresa negativa nos EUA no Empire Manufacturing, que saiu de 23,3 para 10,9 pontos em dezembro, muito abaixo das expectativas de 20,0 pontos e para o NAHB Housing Index, que caiu de 60 para 56 pontos.

Os números de hoje apontam para um arrefecimento do crescimento norte americano, em um momento em que o mundo dá sinais mais preocupantes de crescimento. O Empire Manufacturing, em especial, é um sinal maior de alerta, pois pode ser um efeito retardado da desaceleração global na economia dos EUA.

No Brasil, destaque positivo para o desempenho do câmbio. O BRL apresentou desempenho positivo hoje, sendo ajudado por um movimento de leve dólar fraco no mundo, mas, principalmente, por uma apreciação do MXN.  AMLO, o novo presidente do país, anunciou um orçamento relativamente austero para 2019. Como AMLO vinha tomando medidas populistas desde sua eleição (plebiscito para cancelar a construção de um novo aeroporto na Cidade do México, colocar no Congresso uma medida que visa restringir as tarifas bancárias e etc), o anuncio de um orçamento austero retira algum risco de deterioração adicional do cenário para o México, ajudando a retirar prêmio de risco da moeda mexicana.

Por consequência, o BRL acabou apresentando bom desempenho no dia. Além disso, já vejo alguns fundos utilizando a moeda como hedge para outras posição em Brasil, o que acaba ajudando o movimento, por questões técnicas, em um dia como hoje (ninguém está com muito estomago para aguentar movimentos contrários a posição em um final de ano em que o desempenho, na média, não está positivo).

Os ativos no Brasil continuarão sujeitos ao humor global a risco. Por mais que o desempenho relativo possa ser mais positivo, a continuidade da pressão negativa nos ativos globais de risco, eventualmente, irá afetar a dinâmica dos ativos locais.

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