Fed, Trump e a busca por um culpado.
Os ativos de risco apresentaram ontem mais um dia de desempenho pífio e preocupante. Sem grandes novidades relevantes no cenário estrutural, a dinâmica do mercado continua ditando a direção e o ritmo dos ativos de risco.
Mantenho minha visão de que existe um certo exagero nestes movimentos no curto-prazo, exacerbados pela sazonalidade de final de ano, que apresenta menor liquidez e com os investidores sem disposição (ou poder) de alocar risco adicional. Contudo, fico cada vez mais convencido de que o cenário estrutural global seja mais negativo e precisamos estar preparados para mais um ano de volatilidade, posições mais táticas do que estruturais e plays mais relativos (“alpha”) do que a por busca por "beta".
Assim, ainda vejo uma tendencia mais negativa, mas com alguma possibilidade de recuperação pontual no inicio do ano.
Ontem Williams e Mester, ambos do Fed, sinalizaram que o Fed irá respeitar os sinais de mercado e estará pronto para ajustar sua postura caso o cenário mostre uma deterioração adicional. Não houve sinalização em relação a mudança no processo de redução do balanço do Fed, o que ainda traz desconforto ao mercado.
A Bloomberg publicou reportagem em que diz que Trump pretende demitir Jay Powell, presidente do Fed. Acredito que juridicamente isso seja complicado. De qualquer maneira, a sinalização é péssima. Trump se mostra muito sensível aos movimentos de mercado. Este tipo de atuação, ou sinalização, pode levar a um dólar mais fraco contra G3, a um fechamento adicional da curva de juros, mas com viés de "steepening” além de manter os ativos de risco apreensivos.
Ainda no campo politico, não houve acordo entre Trump e o congresso. Parte do governo dos EUA entrará em um fechamento parcial, ou “Shutdown". Este tipo de vento tende a ser pontual e ter impacto limitado sobre o PIB, mas desta vez pode ser exacerbado pela fragilidade do mercado.
A China sinalizou com novas medidas de estimulo monetário, mas ainda de uma forma tímida se comparado a outros momentos no passado recente. O pais caminha em uma linha tênue entre evitar uma desaceleração mais acentuada, mas sem alavancar ainda mais a sua economia. Tenho um viés mais negativo com o país em termos estruturais.
No Brasil, o IPCA15 mostrou um quadro de inflação ainda bastante comportada. Vimos sinais incipientes de que o piso da inflação tenha ficado para trás. Ainda vejo juros estáveis até o segundo semestre de 2019. Algum ajuste muito moderado e pontual pode ser necessário no final do ano que vem.
Não vejo valor na curva curta e intermediária da curva de juros local. Estamos UW nesta parte da curva. Gosto da parte longa da curva de NTNB para aqueles com visão de prazo mais longo. As inflações implícitas seguem baixas e sem prêmio, assim como a curva de juros.
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