Vamos falar mais de investimentos e menos de política?

Estou de volta, assim como os “Mercados Globais”, após 5 dias de imersão em uma agenda internacional bastante intensa e produtiva. Minha visão central quando sai nesta agenda pode ser recordada aqui: https://mercadosglobais.blogspot.com/2018/09/pausa.html
Os eventos recentes no cenário internacional apenas reforçaram minhas visões. Fui levado a interromper minha imersão para fazer pequenas atualizações de cenários que podem ser vistas aqui: https://www.linkedin.com/in/dan-kawa-78361130/detail/recent-activity/shares/.
Neste momento, me limitarei a comentar sobre investimentos no que tange “macro alocações”, mas deixando em aberto a oportunidade daqueles que tenham interesse em comentar em outros fóruns sobre os avanços no tocante a investimentos e produtos externos (“micro alocação”).
Felizmente, ou infelizmente, apenas o tempo irá dizer, (e não estou aqui para fazer juízo de valor sobre questões políticas) poderei, em breve (amanhã ou dentro de 3 semanas), deixar de falar um pouco de política para focar no que interessa e no que sou pago para fazer, que são investimentos. Então, vamos ao que interessa:
No cenário internacional, a sexta-feira foi mais um dia de confirmação daquele pano de fundo que acabou virando base para o desempenho dos ativos de risco nos últimos dias. Os números de emprego nos EUA mostraram uma criação robusta de vagas de trabalho em setembro, a menor taxa de desemprego desde a década de 60 e a continuidade do processo de elevação da remuneração dos trabalhadores.
Estes números reforçam a necessidade da continuidade do processo de normalização monetária nos EUA e seguindo uma tendência que parece ser cada vez mais global. Se formos olhar economias menores, vemos um processo semelhante de aperto do mercado de trabalho e pressões inflacionárias. Desde economias europeias desenvolvidas até países emergentes asiáticos que não necessariamente passam por crises cambiais como Argentina e Turquia .
Assim, o cenário internacional me dá cada vez mais convicção que estamos no meio de um novo ciclo econômico, onde impera uma inflação global mais elevada, mesmo que ainda não uma processo de hiperinflação ou algo do gênero, e a necessidade de dar prosseguimento a um processo que se mostra cada vez mais global de alta de juros e aperto das condições monetárias.
Vindo de mais de 10 anos de situação oposta, eu não consigo acreditar que o mercado já esteja totalmente preparado para este tipo de situação mais estrutural e menos cíclica. Além disso, exceto pela situação dos EUA, em que a Reforma Tributária da sustentação a economia e as bolsas locais (“buybacks”) já há sinas cada vez mais claros de desaceleração do crescimento em vários países e regiões. Este não costuma ser uma mistura positiva para ativos de risco em geral.
Acho interessante observar o bom desempenho dos ativos emergentes, no geral, ao longo da última semana. Minha primeira leitura é que como essa classe de ativo acabou sofrendo mais e primeiro que outras classes de ativos, neste momento, eles conseguem apresentar desempenho mais positivo. Caso prevaleça o cenário acima e caso observemos uma pressão negativa em outros ativos de risco, a correlação maior deve retornar e, inevitavelmente, veremos novas rodadas de pressão nos ativos emergentes.
No Brasil, as pesquisas eleitorais recentes mostram o aumento da probabilidade de vitória de Bolsonaro no primeiro turno das eleições e aumento das chances de vitória em eventual segundo turno. Reforço o que já escrevi no meio da semana passada:
Acredito que caso se consolide este cenário, poderemos ver, no curto-prazo, a manutenção deste ambiente positivo, basicamente pela necessidade de compressão dos prêmios de risco de um eventual governo Haddad, a baixa exposição dos locais e estrangeiros a Brasil e, em algumas classes de ativos, posições ainda negativas. No geral, vemos os fundos locais comprados em bolsa e aplicados em juros mas com hedges via compra de dólar. As posições, contudo, são pequenas para os padrões históricos
No médio e longo-prazo, contudo, acredito que a realidade de implementação e execução do governo será bastante desafiadora em meio a um cenário externo que ainda me parece complicado, o que dificultará a manutenção de uma trajetória ou tendência mais positiva e estrutural. Entendo, contudo, que no curto-prazo, de maneira cíclica e pontual, os fluxos para EM e Brasil podem ser relevantes.
Em termos de classes de ativos, acredito que poderemos ver um “bull flattening” adicional da curva de juros com queda das inflações implícitas. A médio-prazo, ainda gosto estruturalmente da compra de inflação implícita e na necessidade do início de um ciclo de alta de juros no país. Por diversas questões locais e globais a inflação baixa ficou para trás e teremos inflações mais elevadas, mesmo que não extremadas, nos próximos meses, quiçá, anos.
No mercado de câmbio, a posição técnica pode levar o Real para patamares mais apreciados, mas acredito que dificilmente teremos uma tendência mais estrutural. Acredito que exista um "piso” para o dólar contra a nossa moeda, mas não me arrisco a dizer qual seria (3,8? 3,7? 3,6%).
No mercado de renda variável é onde vejo as maiores oportunidades. Os valuations se mostraram atrativos, as empresas estão desalavancadas, e o mercado com baixíssima exposição a risco.


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